Mestre em letras e consultora de gestão de projetos educacionais para redes públicas e privadas de ensino
Publicado em 27/05/2022
Precisamos manter o olhar atento à promoção da diversidade e tolerância. Para a escola ser um espaço seguro para todos deve-se recorrer à valorização exaustiva da diferença
E quando a violência está cercada pelos muros da escola? Sabe-se que todas as experiências vividas ao longo dos quase dois anos de isolamento social tiveram, e ainda terão, grande impacto dentro do espaço escolar. Muito se tem falado sobre esse aspecto a partir dos danos à aprendizagem, ao prejuízo tido pelo afastamento de professor e aluno e suas relações, bem como todas as outras que acontecem no espaço escolar.
À parte a gravidade dessas questões, há outro ponto que ganhou destaque no retorno às atividades presenciais na escola, que é o agravamento das violências sofridas pelos estudantes no ambiente familiar e dos casos de violência dentro da escola. Se, por um lado, estar na escola é um fator de proteção para crianças e jovens, por outro, tem-se ali também um ambiente perigoso.
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A Secretaria de Educação de São Paulo registrou um aumento de 48% nos casos de agressões físicas nas escolas da rede, em uma análise que compara 2019 a 2022. No Distrito Federal, o tema também tem preocupado educadores e famílias. Um levantamento da Polícia Militar mostra que, somente em 2022, registrou 108 ocorrências em colégios públicos.
Não se pode ignorar que uma das principais causas de violência na escola são reproduções de ambientes violentos, provocadas por fatores socioeconômicos ou relacionais. Entretanto, não se trata apenas de fatores externos, a violência está presente dentro do espaço escolar.
Frantz Fanon, psiquiatra e militante político anticolonialista, traz em seu livro Os condenados da terra o conceito de “violência atmosférica” – ao descrever e analisar o ambiente colonial – e nele, o intelectual discorre sobre a inevitabilidade da violência, uma vez que o que está posto é uma arena de contradições pautada em relações distintas articuladas pela brutalidade de cada um dos atores envolvidos.
Trazendo a discussão para o nosso contexto, há também no espaço escolar um ambiente de contradições onde pode se instaurar uma permanente tensão – seja em forma de bullying, negligência, exclusão a até violências física, psicológica, emocional etc. – a qual não podemos ignorar. Infelizmente, essa é uma reflexão inconclusiva.
Precisamos manter o olhar atento à promoção da diversidade e tolerância. Para a escola ser um espaço seguro para todos, deve-se recorrer à valorização exaustiva da diferença: de gênero, de orientação sexual, de etnias, de religião, de nacionalidade e tantas outras possibilidades que a riqueza da diversidade nos traz. Trata-se de uma corresponsabilidade, a ser pactuada entre todos nós, na sala de aula e no mundo.
Leia mais: A educação que protege contra a violência. Realização do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Clique aqui.