NOTÍCIA
Sem serem afetadas pelos grandes grupos que adquirem as de elite, agora vão ter que se transformar para continuarem no mercado
Publicado em 09/02/2022
O fenômeno das aquisições ocorridas no ensino superior, que forma um oligopólio, e que cada vez mais dificulta a vida das instituições menores, está se repetindo nas escolas de educação básica. O surgimento de conglomerados de escolas que atuam com uma mensalidade abaixo do que é praticado, oferecendo um serviço de qualidade, vai obrigar que o setor independente se reúna para ações de cooperação entre escolas de regiões diferentes. Terão de usar serviços comuns e se utilizar de tecnologia para enfrentar essa novidade.
As escolas de baixo custo, conhecidas entre mantenedores como low cost, estão de fato causando preocupação entre aquelas médias que são independentes. Por se tratar de uma concorrência com mensalidades mais baixas, possível pelo ganho em escala e pela centralização dos serviços financeiros e administrativos, a verdade é que haverá a necessidade da criação de um modelo de escola mais barata para fazer frente aos novos grupos que montam várias unidades low cost.
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Sueli Conte, diretora e mantenedora do Colégio Renovação, considerado de médio custo, conta que as escolas low cost são vistas como concorrentes, tornando-se um desafio a mais para a gestão do colégio. “As escolas de baixo custo estão sim mexendo muito com a gente. Na hora da matrícula, os pais não perguntam nada sobre a matrícula ou parte pedagógica, apenas sobre descontos e até mesmo apresentam propostas de outros lugares”, revela.
Com unidades na cidade e interior de São Paulo, o Colégio Renovação possui mais de 35 anos de atuação, atende do minimaternal ao ensino médio e cursinho. Possui cerca de 350 professores e aproximadamente 2.500 alunos, sem contar o preparatório, com mensalidades que variam de 900 reais a 1.400 reais.
Segundo Sueli, o Renovação passou por ajustes e cortes para se tornar mais atrativo. “Tivemos de diminuir aulas e alguns cursos que não estavam agradando, porém, tudo baseado em uma pesquisa com os próprios alunos. Antes de acrescentar as aulas de inglês quatro vezes por semana com trabalho mais lúdico. O fato é que a gente precisa se desdobrar em tudo que é proposto por conta das escolas de baixo custo.”
Ela acrescenta que há ainda concorrência das “escolas menores, normalmente sediadas em casas alugadas, que foram adaptadas para o ensino. Já o Colégio Renovação, construiu prédios e instalações para serem escolas. Espaços projetados para sala de aula com recursos audiovisuais, refeitório, salão de jogos, espaço para música, aulas de judô e até piscina, tendo uma estrutura muito diferenciada quando comparada àquelas oferecidas pelas escolas menores, que acabam terceirizando esse tipo de serviço”.
A Escola Mais, de São Paulo, uma low cost, foi fundada por Günther Mittermayer, hoje diretor de produtos de todas as unidades do grupo. Ele concorda com o pensamento de Sueli de que escolas de bairro normalmente evoluem conforme o tempo, aumentando uma creche para uma sala que comporta uma turma de fundamental.
“A nossa lógica é diferente. Em primeiro lugar, a gente constrói a escola com arquitetos e com investimento, pensando já no tamanho que ela vai ser. Por exemplo, se entendemos que uma unidade tem potencial para 700 alunos, então já fazemos a estrutura para comportar esses alunos. Provavelmente, no primeiro ano não teremos os 700, mas sim 300 ou, na melhor das hipóteses, 500 alunos, mas a vantagem é que o prédio inteiro já está projetado para onde ele vai chegar”, explica.
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A Escola Mais foi fundada em 2018 por José Luiz Aliperti, fundador e CEO, Marina Nordi Castellani, fundadora e diretora pedagógica, e Günther Mittermayer. Ao todo a escola tem oito unidades, computando 5 mil alunos e 520 funcionários, ofertando cursos do ensino fundamental 1 ao ensino médio, em período integral, com aulas de inglês todos os dias. A escola possui, além das salas de aula, espaços para estudos individuais e laboratórios maker, que são os três princípios de metodologia de ensino que eles ofertam: aulas no modelo tradicional, estudo individual, espaço e tempo para o aluno estudar sozinho e desenvolver independência e o mão na massa, aulas práticas nos laboratórios.
“Às vezes explicamos para as famílias que tem coisas que você aprende melhor com aula, mas tem coisas que você aprende melhor fazendo ou estudando sozinho. Então, ao criar esse equilíbrio, você desenvolve muitas habilidades diferentes, constrói autonomia nos alunos, cria uma cultura de estudo e ao mesmo tempo ajuda os jovens a aprenderem de formas diferentes”, detalha Günther Mittermayer.
Günther revela que a estratégia utilizada por eles para manter as instituições funcionando é o pensamento de reestruturar o que sempre foi feito da mesma forma na escola, pensando no que é necessário. “O número de profissionais na escola é reduzido, a maioria das escolas tem tesouraria e um milhão de pessoas para ajudar em um monte de coisas. Não temos nada disso em nossas unidades, só os educadores, como professores e monitores, além de uma diretora, três coordenadores e duas secretárias. Toda a parte financeira está centralizada em uma equipe única que cuida de todas as unidades, além do uso da tecnologia que ajuda a viabilizar o modelo financeiro da escola, o que possibilita oferecer uma mensalidade mais barata com qualidade.”
A paulista Escola Vereda faz parte dessas escolas de baixo custo. “O que permite o colégio ser de baixo custo é uma estrutura planejada que olha para as três unidades de maneira conjunta. Dessa forma, conseguimos ter um olhar amplo, dados para geri-las, além de pessoas capacitadas para isso. É uma gestão estratégica em dados e informações, dinheiro de fornecedores, além de estratégia com o pedagógico dos nossos professores, que têm muita autonomia nas salas de aula”, afirma Dali Alonso, diretora de relacionamento da Vereda Educação.
Inaugurada em Santo André, município paulista, em 2018, dois anos depois a Vereda abriu duas novas unidades, na cidade de São Bernardo e no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. Ao todo são aproximadamente 2 mil alunos e 150 professores, ofertando curso do ensino infantil ao médio em período integral, com mensalidades em torno de 970 reais, inclusos alimentação e material didático.
“O nosso desafio é expandir e aumentar o número de estudantes. Só conseguimos fazer isso com um bom trabalho, pois nossos alunos vêm através das indicações das famílias que já estão na escola. Temos o desafio financeiro de ter um número de estudantes minimamente adequado para a escola ser rentável”, explica Dali Alonso, que complementa: “em agosto de 2021, lançamos a rematrícula e tivemos quase 70% de alunos registrados já nesse primeiro mês. Então, o retorno das famílias é muito positivo no sentido de quererem continuar conosco, de indicar a escola, de entender que tomamos muitas decisões para que sejamos cada vez mais eficientes, e que nunca vamos deixar a qualidade de lado, pois é para isso que existimos”.
Há muito a aprender com o novo modelo, mas uma das coisas que chama a atenção, e uma diferença entre a escola tradicional e a nova, é a proporção alunos/funcionários, conforme revelam os dados desta matéria.