NOTÍCIA

Formação docente

Coordenadora do governo sérvio e professor egípcio falam sobre educação midiática

Pelo menos desde 2013 a Sérvia tem aproximado a educação midiática do dia a dia escolar. Já este ano, coorganizou o lançamento da nova edição do currículo de educação midiática da Unesco para ser utilizado em diversos países. Por e-mail, falamos com Maja Zaric, coordenadora […]

Publicado em 25/11/2021

por Laura Rachid

Pelo menos desde 2013 a Sérvia tem aproximado a educação midiática do dia a dia escolar. Já este ano, coorganizou o lançamento da nova edição do currículo de educação midiática da Unesco para ser utilizado em diversos países. Por e-mail, falamos com Maja Zaric, coordenadora de unidade no Departamento de Mídia do Ministério da Cultura da Sérvia e atuante no campo da mídia e educação há 10 anos, que detalhe esse e outros projetos.

Já Samy Tayie, professor na Faculdade de Comunicação da Universidade do Cairo, Egito, e presidente da Associação Internacional de Educação Midiática, também por e-mail, falou conosco sobre a importância das novas tecnologias de informação, como o público “prosumidor”, que produz e consome ao mesmo tempo.

Leia: David Buckingham: por uma pedagogia das mídias

Os dois especialistas participarão do IV Congresso Internacional de Educação e Inovação, em 27 de novembro, no último painel, das 12h às 13h. O tema da mesa será Como outros países enfrentam os desafios da aprendizagem pós-pandemia com auxílio das mídias” e será mediada por Alexandre Sayad, diretor da ZeitGeist Educação e co-chairman internacional da UNESCO MIL Alliance, a aliança internacional da Unesco em educação midiática. Clique aqui e inscreva-se gratuitamente. O evento será online e com certificado, com início em 26 de novembro.

Confira as entrevistas.

Maja Zaric

Coordenadora de unidade no Departamento de Mídia do Ministério da Cultura da Sérvia

educação midiática Sérvia

Como a Sérvia tem incentivado e/ou apoiado a educação midiática em seu país e por que?

Na Sérvia, introduzimos a noção de educação midiática no sistema de educação formal em 2013 e consistia em poucas aulas de duas disciplinas nas escolas de ensino fundamental e médio. Também introduzimos essa noção em duas leis de mídia e, assim, criamos a oportunidade de trabalhar de forma coerente no desenvolvimento desse campo.

Em 2018 o Ministério da Cultura e Informação começou a realizar workshops em instituições pré-universitárias na Sérvia e ainda continuamos a fazê-lo não apenas para marcar a semana Global Unesco or European MIL, mas para manter o diálogo com jovens, professores e educadores sobre o tema relevante e aberto. Com base nessas oficinas, em 2018 o Ministério da Cultura e Informação, com apoio do projeto da União Europeia formou um grupo de trabalho multissetorial para trabalhar no Manual de Educação Midiática para professores e educadores na educação pré-universitária. Depois de muitas reuniões, consultas com as principais partes interessadas no setor de educação e mídia, em dezembro de 2020, o Manual foi publicado em formato impresso e digital (www.medijskapismenost.net), seguido por 18 curtas sobre educação midiática que ainda são transmitidas em dois meios de comunicação de serviço público nacionais.

Leia: Lucia Santaella analisa as tecnologias e seus efeitos cognitivos

Este foi um pano de fundo com base no qual coorganizamos, juntamente com a Unesco, uma reunião consultiva internacional com especialistas em alfabetização midiática e informacional de mais de 20 países sobre a atualização do modelo de currículo da Unesco sobre educação midiática e informacional e para fazer recomendações sobre padrões para o desenvolvimento curricular da educação midiática. Após dois anos de trabalho árduo em conjunto com a Unesco, coorganizamos o lançamento da nova edição do Currículo de educação midiática da Unesco em abril de 2021 e as recomendações globais sobre padrões para o desenvolvimento curricular da educação midiática em novembro de 2021, durante a semana Unesco global MIL.

Como nossos jovens estão passando cada vez mais tempo no ambiente de mídia digital, é necessário fortalecer suas capacidades para navegar neste ecossistema de forma adequada, para ser capaz de ser informado com precisão, criar conteúdo e interagir com responsabilidade consigo mesmo e com os outros. Nesse processo de defesa da educação para a mídia, percebemos que os pais, especialmente durante a pandemia, têm grande demanda por ferramentas de mídia e informação, portanto, estamos finalizando o Manual sobre educação midiática para pais e o Manual sobre educação midiática para a comunidade empresarial.

Em junho de 2021, juntamente com o projeto New literacy da USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] e a National Academy for Public Administration, lançamos o Manual sobre educação midiática para a administração pública e treinamento personalizado. Para nós é muito importante melhorar estrategicamente o campo da educação midiática e não deixar ninguém para trás.

Qual a importância das mídias durante a pandemia e qual será o papel delas no pós-pandemia?

A pandemia apenas tornou mais óbvio o fato de que a educação midiática é uma educação do século 21. Vivemos uma era pós-digital, pós-verdade, onde é necessário entender os conceitos de educação midiática e informacional para poder exercer a cidadania digital. Precisamos ser capazes de acessar, gerenciar, armazenar informações, entender o contexto e avaliar criticamente as mensagens da mídia. É de extrema importância ser capaz de discernir a desinformação da informação objetiva e verdadeira e isso é algo que afeta tanto a nossa vida privada como a empresarial. Neste momento, o desenvolvimento tecnológico como o conhecemos é o mais rápido e as estruturas jurídicas estão se atualizando.

Nesse contexto, é extremamente importante fortalecer a autorregulação, bem como as capacidades de educação midiática dos cidadãos, para que possamos permitir que as pessoas naveguem no ambiente da mídia com segurança e tomem decisões informadas. Esta é uma das razões pelas quais em abril de 2020, juntamente com o Centro de Informações da União Europeia, iniciamos uma série de webinars sobre imunidade digital para diferentes grupos-alvo, e o último foi realizado há algumas semanas. Dado o fato de que a mídia afeta nossas escolhas, hábitos e posições, é crucial defender continuamente a educação para a mídia por meio da educação formal, não formal e informal e alcançar o maior número possível de cidadãos.

Leia: As diferenças entre fake news, pós-verdade, deepfakes e o papel da escola


Samy Tayie

Professor na Faculdade de Comunicação da Universidade do Cairo, Egito

Mesmo com graves problemas, qual a importância do uso das redes sociais para as democracias e quais as consequências ao censurá-las?

Não há dúvida de que as novas tecnologias de comunicação e a introdução da internet e das mídias sociais provocaram uma grande revolução no processo de fluxo de informações. Agora estamos expostos a uma grande quantidade de informações, é como um tsunami de informações.

Ao mesmo tempo, vale indicar que a introdução dos meios digitais tem levado à democratização dos meios de comunicação, ou seja, os meios de comunicação passaram a estar disponíveis para todos e cada um. Isso significa que todos podem expressar seus pontos de vista e dizer o que pensam ou sentem.

A este respeito, pode-se dizer que a mídia digital tem levado a incentivar a participação política. Agora as pessoas podem discutir diferentes questões online e também podem protestar e organizar manifestações por meio da mídia digital. Isso foi esclarecido durante a era da “Primavera Árabe”, onde todos os eventos e revoluções do mundo árabe começaram na mídia digital. Vale ressaltar também que o público da mídia digital está se tornando não apenas consumidor, mas também “prosumidor”, que produz e consome ao mesmo tempo. Essa foi uma vantagem importante da mídia digital.

A desvantagem mais importante da mídia digital está relacionada à ampla disseminação de rumores, discurso de ódio e fake news. A maior parte de tudo o que vemos na mídia digital é geralmente produzida por pessoas comuns, algumas das quais podem ter algumas más intenções.

Portanto, os meios digitais podem ser vistos como uma arma de dois gumes que pode ser útil e importante para o desenvolvimento da sociedade e para a criação da “sociedade da informação”. Ao mesmo tempo, a mídia digital pode ser vista como um canal para produzir discurso de ódio e notícias falsas.

Leia: O Pato Donald e o nativo digital – ou o manipulado e acrítico digital

Em relação à dinâmica das mídias digitais, o que falta os professores compreenderem para a escola dialogar com a atual geração?

É importante que os professores sejam bem treinados no uso dos novos avanços tecnológicos no processo educacional. Especialmente os professores antigos que não estão muito familiarizados com a nova tecnologia. Acho que os ministérios da Educação na maioria dos países organizam esse tipo de programa de treinamento. As mídias digitais podem ser utilizadas, em grande medida, como ferramentas importantes na área educacional. Os jovens devem aprender sobre o bom uso da mídia digital e como conter rumores e discursos de ódio. Sem dúvida, isso poderia ser realizado por meio da educação midiática. É simplesmente aprender sobre mídia e por meio da mídia.

Leia também

Duas décadas depois, filme Entre os muros da escola ainda dialoga com a realidade

Autor

Laura Rachid


Leia Formação docente

Captura de tela 2024-11-19 161252

Papa Francisco e o pássaro Dodô

+ Mais Informações
WhatsApp Image 2024-11-11 at 14.32.33

Black Friday: Faculdade Cultura Inglesa oferece desconto de 40% na...

+ Mais Informações
gibrilo-djalo-educacao

Na Guiné-Bissau, política que beneficia professor gera “avalanche de...

+ Mais Informações
enade-licenciaturas

Entenda o que é o Enade das licenciaturas

+ Mais Informações

Mapa do Site