ARTIGO
Por Keila Prado Costa*: A temporada Ser bilíngue é pra já, do podcast CNA na Escola, tem promovido debates a respeito de temas que vão além das questões de sala de aula. No episódio 10, Inglês para todos! Experiências de inclusão no aprendizado de um […]
Por Keila Prado Costa*: A temporada Ser bilíngue é pra já, do podcast CNA na Escola, tem promovido debates a respeito de temas que vão além das questões de sala de aula. No episódio 10, Inglês para todos! Experiências de inclusão no aprendizado de um novo idioma, pude dialogar com Ana Lúcia Carriel, Fernanda Araújo Cabral e Luciana Locks sobre como acolher alunos com necessidades educacionais especiais e como apoiar professores nos possíveis desafios desse acolhimento.
Para traçar um panorama sobre o assunto, as especialistas teceram comentários acerca dos aspectos mais relevantes considerando as perspectivas históricas, as conquistas contemporâneas e as experiências compartilhadas – seja no trabalho formal com crianças com necessidades educacionais especiais, seja no estudo das diversas questões que compõem essa pauta social.
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Destaca-se nesse contexto a iniciativa do CNA que, na qualidade de rede de ensino de idiomas, além de enxergar as aptidões dessas crianças, tem empreendido esforços para que seus profissionais possam trabalhar cada vez mais em favor delas, proporcionando ainda a aprendizagem de uma língua estrangeira. Essa é uma habilidade que, segundo a psicóloga Fernanda Araújo Cabral, especialista em inclusão educacional, era impensável décadas atrás.
O trabalho conjunto de profissionais do CNA e de especialistas em inclusão resultou na publicação do guia Entender para Incluir (clique aqui para baixar). O material, de acordo com Ana Lúcia Carriel, uma de suas organizadoras, não tem o objetivo de concluir o debate ou as pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem de crianças com necessidades educacionais especiais. Ao contrário, é uma orientação inicial para apoiar professores e outros profissionais da área na condução de um trabalho pedagógico que esteja verdadeiramente voltado ao desenvolvimento de competências das crianças.
De acordo com a psicóloga Fernanda Araújo Cabral, não é possível precisar o momento em que a sociedade de modo geral passou a observar mais atentamente as pessoas com necessidades educacionais especiais. Para Fernanda, o processo histórico desse debate se alia a outros fatores igualmente relevantes no desenvolvimento da vida contemporânea, como a presença das mulheres no mercado de trabalho.
Enquanto permaneciam em casa, as mulheres, responsáveis pelos afazeres domésticos e pela criação dos filhos, eram também cuidadoras exclusivas das crianças que apresentavam alguma síndrome intelectual ou deficiência física. Esse contexto de convívio social limitado à vida familiar se somava ao baixo acesso à educação de modo geral no Brasil. Afinal, na década de 1960, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa analfabetismo entre a população de 15 anos ou mais era de 39,7%.
Da década 1960 ao início dos anos 1990, as mudanças em relação aos cenários educacional e profissional dos brasileiros em geral, e sobretudo das mulheres, trouxeram um impacto direto na sociedade brasileira e nas discussões que envolviam as crianças com necessidades educacionais especiais. Essa transformação também foi amparada por avanços nas pesquisas científicas e descobertas médicas a respeito de diversas síndromes e doenças. Até o início dos anos 2000, a palavra “igualdade” permeava os debates, mas Fernanda Araújo Cabral alerta: “não há como sermos iguais se somos diferentes”. Surgiu, então, a ideia de “equiparação de oportunidades” e, com base nesse conceito, uma nova perspectiva de abordagem passou a ser lançada sobre o tema.
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Ao olhar para a inclusão como um caminho de equiparação de oportunidades, outras cartas são postas na mesa. Emergem aqui as problemáticas de gênero, as questões raciais e mesmo o olhar sobre a população idosa no cotidiano da sociedade, que antes ficavam acomodadas embaixo do tapete. Nesse sentido, Ana Lúcia Carriel vê uma certa diluição do conceito de inclusão. Isso não diminui os propósitos, mas coloca as ações em um caminho de desenvolvimento sustentável, já que busca um meio de convivência cada vez mais plural com a finalidade de propiciar equidade.
Um exemplo que Carriel cita no podcast trata das pessoas deficientes visuais. Se uma criança não pode enxergar, naturalmente ela não poderá ler uma prova. Isso não significa, porém, que não haja outras possibilidades para que ela realize essa ação. Seja por meio de materiais em braile ou por técnicas que permitam a realização de uma avaliação oral, a questão é trabalhar com as habilidades, com aquilo que a criança tem à disposição e a oferecer para o grupo, seja no aprendizado de conteúdos pedagógicos ou no desenvolvimento emocional, que pressupõe empatia, respeito, troca.
Por esse mesmo ponto de vista, Luciana Locks cita o projeto Speaking Exchange, desenvolvido pelo CNA, em que alunos das turmas de nível mais avançado de inglês estabelecem um diálogo, por meio de conferências via web, com idosos que vivem em casas de repouso nos Estados Unidos. A interação entre diferentes gerações traz benefícios para ambos os lados, compartilhando conhecimento e atenção.
Ao final do podcast, Ana Lúcia Carriel, Fernanda Araújo Cabral e Luciana Locks avaliam os benefícios de uma sala de aula mais inclusiva. Para Fernanda e Luciana, iniciativas como a do CNA nos inspiram a crescer como sociedade, pois, quando nos dispomos a entender para incluir, naturalmente temos de pesquisar mais, conversar mais, preparar mais, e o resultado desse trabalho maior é uma aula melhor.
Isso tudo, de acordo com Ana Lúcia Carriel, formaria um círculo virtuoso, em que todos estão se desenvolvendo como seres humanos melhores que buscam, acima de tudo, dissolver preconceitos em favor de uma sociedade mais justa e mais humanizada.
Ouça agora a primeira temporada
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*Keila Prado Costa tem formação em Letras e mestrado em Literatura pela USP. É apresentadora do podcast CNA na Escola.
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