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João Jonas Veiga Sobral

É professor de Língua Portuguesa e orientador educacional

Publicado em 14/04/2020

Na sala de orientação educacional: impressões e expressões

Nesta coluna, João Jonas V. Sobral, coloca o leitor para refletir sobre impressões e expressões de uma aluna com uma professora e um orientador

Pai e orientador revelam suas impressões e expressões de educação e de mundo.

— Bom dia, tudo bem? Seja bem-vindo. Aceita um café?

— Bom dia, tudo bem, obrigado. E com você? Aceito sim, sem açúcar, por favor.

— Pois não. Então vamos à sua solicitação. O que o traz aqui?


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— São duas questões importantes que envolvem Sabrina. Uma relacionada ao desempenho dela e outra diz respeito às relações de alguns professores com minha filha.

— Vamos a elas, então.

— Na verdade, elas em um certo momento se juntam.

— Ah, sim. Como quase tudo relacionado à educação e a interlocuções.

— Verdade. Pois bem. Sabrina vem enfrentando dificuldade em matemática, física e português. Ela sempre teve dificuldade em exatas, mas nem sempre apresentou problemas com redação. Achei estranho o rendimento dela neste ano em produção textual. Ela reclama muito das aulas e das correções.

— Mesmo? Que tipo de reclamação? Ela nunca nos procurou para relatar que houvesse algum problema com a aula ou com a redação. Aliás, nem a professora nos relatou que ambas tivessem conversado a respeito.

— Sim, perguntei para ela se havia falado com o professor ou com você. Ela disse que tem medo do professor e que tem a impressão de que conversar com você não resolveria nada, porque sempre apoia os professores.

— Entendi. Ela disse por que tem essa impressão a meu respeito e por que tem medo do professor?

— Disse que a professora é muito ríspida no trato com os alunos e que não gosta de ser questionada. Então, ela nem tenta questionar porque teme ser retaliada.

— Triste isso, sobretudo porque de alguma forma pede sua intervenção de adulto e, na concepção dela, corajosa para conversar conosco.

— Não diria corajosa. Diria apenas que ela tem medo e prefere que eu tenha de conversar para ajustar a situação.

— Normalmente, nosso medo caminha em dois sentidos. Temos medo porque algo realmente nos apavora e nos coloca em perigo, mas temos medo também criado mais por nós do que pela relação com a situação em si.

— Como assim?

— Podemos ter medo de andar sozinhos em determinados horários e lugares porque há relatos e ocorrências de assaltos e de violências no noticiário que justificam nossos temores e receios. Mas também temos medo de altura, de escuro ou de uma situação qualquer que tem mais a ver com nossa insegurança, trauma e fobias.

— Sim, faz sentido. Os amigos dela, por exemplo, dizem que a professora é bem rigorosa e às vezes dura nos comentários que faz. E isso faz com que Sabrina tenha receios de falar com ela e de tirar dúvidas.

— Talvez a professora não seja mesmo uma das mais delicadas ou afáveis do colégio. Mas, veja, ela trabalha conosco há doze anos, não temos relatos de uma relação difícil com ela que justifique o medo de alguém em abordá-la. Sugiro que peça para que Sabrina me procure. Vou orientá-la a procurar a professora para sanar as dúvidas. Assim, Sabrina verá que não há o que temer. Verá que, às vezes, nossas impressões sobre uma situação pertencem mais a nossos incômodos do que aos fatos em si.

— Sim, talvez você tenha razão.

— E aí Sabrina reporta para você como foi a conversa e quais foram as orientações da professora para que ela possa reajustar seus estudos sobre redação. Mas posso adiantar que algumas dificuldades apresentadas em física aparecem em redação, sobretudo na coleta de informações e na hierarquização delas e dos processos em uma situação-problema.

— Sim, faz sentido.

— Ela relatou alguma expressão minha concreta que a faça ter a impressão de que sempre apoio os professores e me oponho aos alunos?

— Não, ela disse apenas que não adianta reclamar porque você não dá ouvidos aos alunos.

— Como ela não veio ainda falar comigo, a impressão dela a meu respeito foi filtrada pelo depoimento de algum colega sobre as conversas que tive comigo, não é?

— Sim, parece que sim.

— Seria bom que Sabrina viesse mais vezes conversar comigo sobre as questões  e impressões dela para que juntos possamos ajustar um lado ou outro. Reforce esse pedido também, por favor.

— Obrigado professor, tenho a impressão de que a conversa será boa.

— Que se expresse isso. Obrigado.

*João Jonas Veiga Sobral é professor de Língua Portuguesa e orientador educacional.

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