O prolífico cão de ‘Os risadinhas’ (Divulgação)
O universo de gases e excrementos, mais conhecidos como puns e cocôs, continua inabalável como um dos maiores campeões de audiência entre as crianças. São símbolos de várias coisas que auxiliam na descoberta do mundo – o domínio do próprio corpo, o efeito que isso tem sobre os adultos, as fronteiras entre o pessoal e o coletivo, o conhecimento de um determinado imaginário e o humor dele decorrente.
De formas diferentes, esse universo está presente em
três obras das mais bem-humoradas, dois livros e um filme. O gancho para falar sobre elas é o relançamento de
João do Pum, de Mario Prata, lançado originalmente em 1983 como
O homem que soltava pum. Ilustrado por Caco Galhardo, conta a divertida história de um homem em tudo normal, exceto pelo fato de que nasceu, cresceu e viveu como um compulsivo soltador de puns, nas situações mais diversas.
O que, obviamente, acaba por estigmatizá-lo –
chance de tratar, sempre pela veia do humor, de temas como diferenças, similaridades (afinal, todos cometemos os nossos puns), respeito. Sem deixar de dar protagonismo máximo à personagem, que vira herói com o auxílio de sua característica mais marcante.
Outro livro dos mais saborosos para ler com as crianças é
Os risadinhas, de Roddy Doyle, em que esses pequenos aliados das crianças vingam-nas dos adultos que com elas cometem injustiças colocando “suculentos” cocôs no caminho dos malfeitores.
Os risadinhas têm requintes de crueldade com pais que maltratam os filhos, não cumprem suas promessas e por aí afora. Para promover sua vingança contam com um aliado canino, o “fabricante da massa” pela qual fazem justiça.
Não propriamente voltado a crianças, mas muito sintonizado com seu universo é o longa-metragem
Bom dia (Ohayo), de Yasujiro Ozu, mestre do cinema japonês. Um de seus últimos filmes, é uma pequena fábula sobre o abalo que sofre uma comunidade com a chegada de um novo elemento: a televisão. Dois irmãos, entre os cinco e os dez anos, revoltados com os pais, que lhes negam a compra de um aparelho, resolvem fazer greve de fome e começam a ingerir pó de pedra-pomes para aumentar a “produção” de puns, necessário para disputas com os amigos.
O resultado é um dos mais singelos filmes sobre as mudanças nas relações familiares e sociais provocadas pela industrialização e pelos novos meios de comunicação no século passado. Tudo isso com um olhar sobre o cotidiano simples das famílias japonesas de classe média na reconstrução do país no pós-guerra.
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Os risadinhas, de Roddy Doyle, com ilustrações de Brian Ajhar, tradução de Anthony Cleaver (Estação Liberdade, 112 páginas, R$ 40)
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João do Pum, de Mario Prata, com ilustrações de Caco Galhardo (Companhia das Letrinhas, 40 páginas, R$ 34,90).
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Bom dia (Ohayo, Japão, 1959), de Yazujiro Ozu (Magnus Opus, 93 minutos, R$ 44).
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Outras leituras
Minhas duas avós, de Ana Teixeira, com ilustrações de Ana, Tomás e Bruno (Pólen Livros, 32 páginas, R$ 35).
Fruto da interação entre dois meninos e suas avós, o livro conta a história destas duas mulheres que vivem juntas num local batizado de Casa das Formigas. E coloca em perspectiva o que nos faz diferentes e o que nos faz iguais e como e em que circunstâncias isso é importante. Um olhar voltado à diversidade.
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O Uirapuru e outros animais incríveis do folclore brasileiro, de Januária Cristina Alves, ilustrações Berje (FTD, 48 páginas, R$ 39).
Fábula em que um pequeno pássaro de canto majestoso é incumbido por um deus de acabar com uma batalha que ameaça a existência das florestas. De um lado, gaviões e seu exército; de outro, urubus temerários e sua tropa. Posfácio da escritora Ana Miranda e sua relação com o universo do folclore nacional.
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Horton choca o ovo, de Dr. Seuss (texto e ilustração), tradução de Bruna Beber (Companhia das Letrinhas, 72 páginas, R$ 39,90).
Horton é um elefante cheio de boas intenções. Ele não tem ideia do quanto será testado sobre elas ao encontrar Maroca, uma ave preguiçosa que quer tirar férias. Ela confere a ele uma missão: chocar um ovo em seu lugar. Ao fiar-se na promessa de que ela vai voltar logo, Horton se enrosca. Mas compromisso é compromisso.