NOTÍCIA

Edição 243

Português segue tendência da mundialização dos idiomas

Existência de variedades da língua, porém, não implica a sua separação em dialetos ininteligíveis como foi o caso do latim; idiomas estão destinados a efetuar intercâmbios culturais

Publicado em 16/10/2017

por Redacao

Legenda 1 Fortim de Santo Antônio, em Moçambique: a existência das variedades do português não implica a separação em dialetos ininteligíveis (© Wikipedia)

Português segue tendência da mundialização dos idiomas

Fortim de Santo Antônio, em Moçambique: a existência das variedades do português não implica a separação em dialetos ininteligíveis (© Wikipedia)

Para alguns usuários do português, a língua inglesa funciona como um “algoz”, pois os vocábulos ingressantes no idioma refletem a hegemonia dos Estados Unidos e do Reino Unido e uma suposta perda cultural e política. Para outros utentes, a presença do inglês e de outros idiomas representa, por um lado, a inserção do Brasil e dos outros países de língua portuguesa no mundo globalizado, e por outro, o enriquecimento do acervo lexical do português (tsunami, vernissage, impeachment, blitz, jihad, glasnost, shiitake, selfie, nécessaire, shish-kebab, Muay Thai e muitos outros).
Faz 18 anos desde a apresentação do projeto de Lei 1676/99 do então deputado Aldo Rebelo (PCdoB/São Paulo) da legislação ao Congresso Nacional. Ante o número de propostas e questões que hoje povoam a pauta e as preocupações do Legislativo, premido pela crise política permanente, cabe perguntar qual destino teria o referido projeto que reza contra o (ab)uso de palavras estrangeiras no português.
Para ser justo, o projeto de Rebelo teve o mérito de contribuir para um debate amplo entre vários segmentos da sociedade. Muito salutar foi a publicação de artigos, dissertações, teses e livros com vozes a favor e contra a presença de palavras estrangeiras no português, em particular Carlos Alberto Faraco (org.) em Guerra em torno da língua (São Paulo: Parábola, 2001); Fábio Luiz Lopes da Silva e Kanavillil Rajagopalan (orgs.). A linguística que nos faliu (São Paulo: Parábola, 2004).
Rebelo teve ao menos a vitória de, em 2012, convencer a presidenta Dilma Rousseff de fazer o governo adotar, nos documentos e peças publicitárias para 2016, a grafia dos jogos “paraolímpicos”, como define o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é a base de referência de nossos dicionários, e não “paralímpicos”, como queria o COI (Comitê Olímpico Internacional), para seguir a tendência internacional, inspirada na tradição inglesa dos paralympics.
São significativas as implicações da globalização do inglês e do português (e de outros idiomas) neste momento pós-moderno. A geopolítica do inglês se transformou radicalmente desde os anos 50 do século passado. Hoje no campo de ensino de línguas se problematiza a hegemonia do inglês estadunidense e do britânico devido à presença nos quatro continentes de falantes de inglês como 2ª língua, cujo número é maior do que a totalidade de “nativos” na Austrália, na Nova Zelândia, no Canadá, no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Inglês global

A língua inglesa se multiplicou numa gama de variedades com suas próprias normas, pronúncia, vocabulário e sintaxe. O idioma tornou-se multicultural, multiétnico, pois a maior parte dos falantes da África e da Índia é bilíngue ou multilíngue. Daí se vê que se cunhou o termo “world englishes” no plural, que destaca o número de variedades pós-coloniais.
O inglês do século 21 não é propriedade particular de um só país porque o idioma tem os seus “donos” no Caribe, na África e no sul da Ásia. Diante desse cenário, o inglês não deve ser visto como ameaça levando em conta a sua descentralização atual. E mesmo na hipótese do declínio do poderio econômico dos Estados Unidos (não muito provável pelo menos no futuro próximo), o idioma vai continuar a ser um idioma importante dado o número de falantes e sua expansão territorial.

Português global

Existe uma semelhança entre o inglês e o português na atualidade. O português também é falado em quatro continentes e ocupa o 6o lugar no número de falantes, um idioma de amplo acesso.
Os falantes de português de Angola e de Moçambique são multilíngues; a leitura dos romances do angolano Pepetela e do moçambicano Mia Couto mostra, como no caso de inglês, que há diferenças de pronúncia e de sintaxe. Constam, nos romances dos dois autores africanos, glossários que refletem o crescimento vocabular do português na vertente africana.
Do ponto de vista geopolítico, a língua portuguesa é fortalecida com a presença atuante da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) que promove o idioma, respeitando as diferenças de ordem lexical, fonética entre as diferentes variedades. É importante estudar, pesquisar e divulgar o idioma e a respectiva produção literária em Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
A “mundialização” do português e também dos outros idiomas mais falados no mundo (chinês, russo, árabe, hindi, alemão, espanhol, francês, japonês, italiano e inglês) mostra que todos eles não podem ser isolados numa redoma, pois funcionam como “esponjas”, destinados entre si a efetuar intercâmbios culturais e trocas linguísticas.
A existência das variedades do português e do inglês não implica a sua separação em dialetos ininteligíveis como foi o caso do latim, que se transformou nas línguas diferentes românicas, pois o mundo atual é outro com a presença da mídia: a imprensa, a televisão e a internet e as grandes editoras particulares e universitárias que funcionam como força centrípe­ta que mantém uma unidade dentro da diversidade.

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