Cena de Afterimage, filme de Andrzej Wajda sobre o artista e professor polonês Wladyslaw Strzeminski (Crédito: Divulgação)
O mês de outubro de 2017 marca o primeiro ano do aniversário da morte de Andrzej Wajda (1926-2016), maior expoente do cinema polonês. Conhecido internacionalmente desde sua trilogia sobre os escombros do pós-guerra na Polônia, composta pelos filmes
Geração (1954, estreia de Roman Polanski como ator),
O canal (1957) e, especialmente,
Cinzas e diamantes (1958), Wajda aumentou sua notoriedade com
O homem de mármore (1977) e
O homem de ferro (1981), já nos tempos do Solidariedade e do líder sindical Lech Walesa.
Agora, deixa como última relíquia
Afterimage (2016), sobre o artista e professor polonês Wladyslaw Strzeminski, espécie de homenagem que o ajudou a olhar-se no espelho. Pintor de vanguarda e um dos fundadores do Museu de Arte Moderna da Polônia, em Lodz, Strzeminski, assim como Wajda, não abriu mão de sua liberdade como artista. E por isso pagou caro.
Nos primeiros tempos de domínio soviético, ele era uma das figuras de referência da Escola de Belas Artes de Lodz. Era carismático, exigente e estava sempre disponível para seus alunos, ou ao menos para aqueles com gana para descobrir o que o mundo pictórico revela ou pode revelar.
Afterimage, ou a última imagem que remanesce na nossa retina após a visão de um objeto ou paisagem, e que ali é transformada com a significação que lhe dermos, era o ponto de partida de seu diálogo com os alunos.
Mas a cultura oficial preferia que se ensinassem os padrões fixos e rígidos do realismo socialista, em que os dilemas do homem se diluíam ante o imperativo ideológico.
Strzeminski, como Wajda, não se curvou. Expulso da universidade, continuou a dar aulas aos estudantes que, como ele, ousaram enfrentar os burocratas ocos do partido.
Assim como ontem, a Polônia hoje anda para trás depois de anos de evolução em diversas áreas, principalmente a educação. Neste universo, não só lá como mundo afora, muita gente parece querer livrar-se dos Strzeminski que ainda resistem nas salas de aula.
Avaliações padronizadas acompanhadas de prescrições pormenorizadas, uso de inteligência artificial e de novas tecnologias têm sido, muitas vezes (não sempre e não por todos), apenas um recurso para esvaziar a carreira docente. E não para auxiliar os professores a renovarem suas práticas, como muitas vezes proclama uma retórica pouco crível.
Se os professores quiserem efetivamente ser respeitados – por eles próprios e pelos alunos – precisam também imbuir-se desse “Espírito de Strzeminski”. Não basta esperar pelo reconhecimento de fora e reclamar que ele não vem. É necessário acreditar no que fazem, no rigor que o conhecimento exige, naquilo que sabem que podem dar aos alunos. Caso contrário, serão vistos como incômodos apêndices.