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Arte e Cultura

Memórias de um superporco

Okja, produção da Netflix, levanta questões tão urgentes quanto polêmicas

Publicado em 21/08/2017

por Gabriel Jareta

okja1x Foto: Divulgação

Okja, produção da Netflix, levanta questões tão urgentes quanto polêmicas

Foto: Divulgação

Há alguns anos, teve boa repercussão na internet uma campanha da Sociedade Vegetariana Brasileira com imagens de cães e gatos ao lado de outros animais, como porcos e vacas, seguidas pela mesma legenda: “Se você ama um, por que come o outro?”. É possível pensar em respostas espirituosas à pergunta, mas a provocação persiste. É esse também o mote de Okja, uma produção “agridoce” da Netflix, dirigida pelo sul-coreano Bong Joon-ho, e que concorreu à Palma de Ouro no último Festival de Cannes.
Okja é o nome de uma fêmea de “superporco”, um animal híbrido com porte de hipopótamo e agilidade de cachorro, cujo rosto lembra um peixe-boi. Essa espécie foi criada por meio de experiências genéticas pela Mirando Corporation, que procura esconder a manipulação biológica por meio de uma campanha de marketing: segundo a empresa, poucas dezenas de superporcos foram enviadas a fazendeiros ao redor do mundo para serem criados da maneira mais “orgânica” possível por dez anos, respeitando as tradições locais. Ao fim do prazo, o melhor superporco seria apresentado e premiado em Nova York.
Um desses animais – a fêmea do título – foi criada desde filhote nas montanhas da Coreia do Sul por um velho fazendeiro que vive isolado com a neta, Mikha. A amizade entre a menina (a ótima atriz Ahn Seo-hyun) e Okja naquele ambiente idílico é interrompida pela chegada da CEO da Mirando, Lucy, e o garoto-propaganda da companhia, um histriônico apresentador de programas sobre a vida selvagem na TV. Eles pretendem levar Okja embora, mas Mikha não vai permitir tão facilmente.
A partir desse ponto, o tom de fábula ganha temperos de filme da Sessão da Tarde (e aqui a referência é elogiosa), com aventura, emoção e drama em boas medidas. A amizade de Mikha e Okja (comparada por um crítico americano à história do filme ET – O Extraterrestre) começa a forjar uma resposta à questão do início do texto. Um animal “inteligente” não merece acabar no nosso prato? Afinal, se a menina pesca e come peixe tranquilamente, que limite é esse? A necessidade de produzir comida farta e barata para alimentar uma população crescente, como justifica a empresa, é um ponto de partida para refletir sobre o tema dos alimentos geneticamente modificados. O filme também aborda as contradições dos ativistas de direitos dos animais e não economiza nas tintas ao mostrar como os bichos são confinados e mortos – um cenário não muito distante de um matadouro real. Ao final, o diretor Bong Joon-ho encontrou em Okja uma maneira inteligente de levantar questões tão urgentes quanto polêmicas.
> Festival de Cannes
A estreia de Okja na última edição do festival francês foi conturbada. Houve vaias quando o logo da Netflix surgiu na tela, que se intensificaram após alguns minutos de exibição fora do formato de tela correto. A ocasião em Cannes foi uma das poucas vezes em que o filme pôde ser exibido em uma sala de cinema – ao final da sessão, foi aplaudido.
> ET – O Extraterrestre
Para o crítico A. O. Scott, do jornal The New York Times, o que aproxima os dois filmes é a maneira com que uma criança aprende sobre questões morais ao se conectar a – e lutar por – uma criatura que não é humana. Em contraposição a eles, o “mundo adulto”, que se recusa a enxergar o que não é humano como algo mais que apenas uma “coisa”.
> Bong Joon-ho
O diretor sul-coreano ganhou projeção internacional com o filme O hospedeiro (2006), a história de um monstro que surgia no rio Han, em plena Seul, e passava a atacar pessoas. Seu cinema é marcado por boas sequências de ação e aventura, além da habilidade em abordar temas espinhosos com certa leveza, em um tom que remete a Steven Spielberg.


Filmoteca

Publicidade, alimentação e saúde
Tudo isso aparece entrelaçado nos filmes a seguir, que apontam a responsabilidade da indústria e das próprias pessoas sobre o que consomem.

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O informante (Estados Unidos, 1999)
Há duas décadas, fumar não era tão fora de moda quanto é hoje, e o filme dirigido por Michael Mann revela muitas das estratégias que a indústria tabagista usava para conquistar consumidores e torná-los viciados. Baseado na história real de um executivo de uma companhia de cigarro que resolveu contar os segredos sujos do seu emprego.
 
 
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Super size me (Estados Unidos, 2004)
O McDonald’s é, não sem razão, alvo preferencial das críticas à cultura do fast-food. O diretor Morgan Spurlock se propõe a consumir apenas refeições da rede por 30 dias, aceitando o tamanho “extra grande” sempre que oferecido. Os resultados são alarmantes: ganhou mais de 11 quilos e teve depressão e disfunção sexual.
 
 
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Bee movie: a história de uma abelha (Estados Unidos, 2007)
Animação em que a abelha Barry B. Benson, recém-saída da faculdade, revolta-se contra a única possibilidade de carreira de sua vida: trabalhar na produção de mel. Ao descobrir como a humanidade se aproveita do mel, decide processar os humanos e proibir a produção do alimento. Um encontro com uma florista, porém, muda seus conceitos.
 
 
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Muito além do peso (Brasil, 2012)
Hoje, um terço das crianças brasileiras está acima do peso, e muitas precisam lidar com problemas cardiovasculares e doenças como diabetes. O documentário dirigido por Estela Renner aborda a questão da obesidade entre as crianças entrevistando pais, educadores, membros do governo e representantes da indústria. Disponível no YouTube.
 
 
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Fome de poder (Estados Unidos, 2016)
A história da rede McDonald’s, com Michael Keaton no papel de Ray Kroc, um vendedor de máquinas de milk-shake que transformou uma pequena lanchonete da Califórnia em um império global. Com uma visão obstinada de negócios, não teve escrúpulos em passar uma rasteira nos verdadeiros criadores da marca – os irmãos Dick e Mac McDonald.

Autor

Gabriel Jareta


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