NOTÍCIA
Livro infantil Karlsson no telhado conta história da vida tranquila de um garotinho do século passado e mostra época em que crianças tinham mais tempo para brincar sozinhas
Publicado em 08/05/2017
Lillebror é um garoto de sete anos. Ele vive numa pequena cidade sueca, provavelmente em meados do século passado. As cidades suecas, mesmo hoje, não são muito grandes. Tirando a capital Estocolmo, estão abaixo do milhão de habitantes. Em meados de século passado, podemos imaginar, exalavam calma.
Pelas páginas de Karlsson no telhado, escrito por Astrid Lindgren (muito conhecida mundo afora pela personagem de livros infantis Pippi Meialonga) e ilustrado por Ilon Wikland, não há também vestígios dos tempos difíceis da guerra.
Assim, a vida calma de Lillebror às vezes parece ao garoto calma em demasia, um pouco insípida. Sua família é um primor de família-padrão daqueles tempos: pai, mãe, irmão e irmã mais velhos. Aos olhos de Lillebror, eles constituem dois pares que se bastam e completam, deixando-o só. Esse é um dos motivos pelos quais acalenta o desejo de ter um cachorrinho que venha preencher-lhe o tempo e os afetos.
Mas seus pais dizem que, ao contrário de não ter ninguém, ele os tem a todos os quatro. E negam a possibilidade de trazer um novo elemento para a família.
Como a vida sempre encontra alternativas, é nessas horas de solidão que Lillebror conhece um inusitado amigo novo, meio adulto, meio criança, meio boneco, meio gente: É Karlsson no telhado, um singular gordinho que dá corda em si mesmo para voar. E que vive exaltando seu infindável conjunto de virtudes – além de fazer tudo para receber balas e outros quitutes que mantenham sua silhueta arredondada.
Como parceria e confiança calam alto na alma das crianças, Karlsson seduz o pequeno Lillebror. Se num primeiro momento, depois de entrar pela janela do apartamento do garoto, é capaz de colocar fogo em sua locomotiva de brinquedo, vai, cada vez mais, se constituindo na amizade que estava faltando a Lillebror, principalmente pela confiança que lhe traz.
Nisso tudo, apenas um problema: como de início só o menino tem contato com ele, família e amigos acham que ele criou um amigo imaginário para suprir a falta que o desejado cachorrinho lhe faz. Até o momento em que Lillebror some para passear pelos telhados da cidade com Karlsson.
Lindgren tem um domínio grande sobre o olhar crédulo das crianças, e também sobre os pontos sensíveis que muitas vezes passam despercebidos aos adultos. Mas, acima de tudo, salta aos olhos o tempo que as crianças de então tinham para brincar sozinhas ou entre elas, sem tutela opressiva dos adultos. E o quanto podiam mover-se, soltar-se, aprender e mesmo sofrer por si próprias, com um cuidado não ausente, mas seguramente longe de ser sufocante por parte dos pais. E sem eletrônicos que lhes roubassem esse tempo.