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Instituições oferecem cursos de pós-graduação lato sensu mais versáteis e de acordo com demandas pontuais do mercado de trabalho; modelos focam interesses dos alunos
Publicado em 25/04/2016
O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo. O aumento do desemprego decorrente da atual crise econômica acirra a disputa pelas vagas e, se por um lado leva parte dos jovens brasileiros a postergar gastos com o ensino superior, por outro, exige apostas em diferenciais curriculares. Afinal, os profissionais que atuam em áreas consideradas estratégicas para as empresas continuam a ser requisitados. Um levantamento feito pela consultoria Page Personnel, em 2015, mostra que ter formação em recursos humanos, desenvolvimento mobile, Big Data ou planejamento financeiro, por exemplo, tem possibilitado maiores chances de contratação.
É aí que entra a procura por cursos de pós-graduação lato sensu, as comumente chamadas especializações, que focam o crescimento profissional. A modalidade engloba opções designadas, como os Master Business Administration (MBAs), e tem garantido a disputa por melhores vagas de emprego. De acordo com estudo feito pela Produtive, empresa de projetos de planejamento e transição de carreiras, a remuneração dos profissionais com especialização subiu 12,4 % entre 2014 e 2015.
De olho na atual demanda, diversas instituições de ensino superior optaram por rever, modernizar e até mesmo recriar cursos da área alinhados às expectativas do mercado e dos que buscam e precisam da formação continuada. Como, muitas vezes, a falta de tempo se transforma em uma grande vilã para quem deseja investir em uma pós-graduação, uma das principais apostas para atrair os jovens profissionais tem sido a construção de grades flexíveis.
Recentemente, a Universidade São Judas Tadeu (USJT) criou 18 novas especializações, entre elas Engenharia de Software e Direção de Arte, em parceria com a empresa HSM Educação Executiva. A matrícula dá direito a uma assessoria de gestão de carreira e permite que o estudante personalize 20% da carga horária. Ele tem acesso a materiais sobre liderança, inovação e negócios com o intuito de identificar os seus pontos fracos e fortes e trabalhá-los com maior precisão.
No Ibmec-RJ, o recém-lançado NEO MBA tem um programa acadêmico que pode ser totalmente customizado de acordo com a agenda e o direcionamento profissional que o aluno deseja obter. Nesse modelo, o estudante se inscreve por disciplinas e não segue uma turma com um calendário fixo. “Ele consegue adequar a grade das matérias e cumprir a sua agenda. Os executivos não têm tempo a perder. Precisamos ser assertivos na elaboração de conteúdos e dinâmicas que atendam aos objetivos desses profissionais”, diz a coordenadora Flávia Bendelá. Voltado para profissionais com pelo menos cinco anos de experiência na área de gestão, o curso tem aulas ministradas em inglês e permite a realização de módulos internacionais.
Tempo
Pesquisas prévias de mercado são valiosas para abertura de especializações com formatos diferenciados. Além disso, servem para identificar quais atrativos fariam o aluno aderir ou não à proposta. Por isso, devem ser avaliadas com bastante cautela. Nos estudos que antecederam o lançamento dos 14 novos cursos de pós-graduação oferecidos pela Business School São Paulo (BSP) foi possível detectar que aulas quinzenais ministradas totalmente em inglês eram um fator valorizado pelo público-alvo. “Esse intervalo maior entre os encontros permite que os alunos tenham mais planejamento e se preparem melhor, o que torna a experiência mais produtiva”, afirma Mônica Sabino Hasner, coordenadora de pós-graduação.
Apesar de os novos MBAs da BSP contarem com quatro anos de duração, incluindo um módulo internacional no Boston College, os alunos podem optar pelo programa Certificate, que tem apenas dois semestres. “A procura tem sido muito positiva. O conteúdo é focado e a divisão das aulas favorece quem tem a agenda apertada”, diz a coordenadora.
Seguindo a tendência, a Fundação Getulio Vargas (FGV) oferece programas internacionais de curta duração há 14 anos. Funciona assim: alunos e ex-alunos dos cursos de especialização relacionados à educação executiva podem estudar de uma a duas semanas em instituições estrangeiras. São cerca de 900 inscritos por ano em universidades parceiras localizadas em Portugal, Estados Unidos, Espanha, Itália, Suíça e China, entre outros países.
O benefício é oferecido aos estudantes das áreas de gestão, liderança, inovação, empreendedorismo e direito. “Nosso objetivo é ampliar o conhecimento por meio da prática, além de permitir a interação com profissionais da mesma área de atuação, mas de culturas diferentes”, explica Pedro Carvalho de Mello, coordenador dos Programas Internacionais da FGV/IDE.
Já a Saint Paul Escola de Negócios lançou, em fevereiro deste ano, o Advanced Boardroom Program – For Women (ABP-W), um pós-MBA só para mulheres também com duração de dois semestres. A iniciativa partiu da constatação de que há poucas profissionais no mercado em cargos altos, principalmente em conselhos de administração. Nesse sentido, a grade curricular é voltada para quem ocupa funções de presidente, vice-presidente, diretora, empreendedora, herdeira ou sócia de escritórios de advocacia e empresas de consultoria. Segundo Anna Maria Guimarães, coordenadora do curso, a primeira turma já tem 35 alunas. “Foram oito meses de estudos desde a concepção até a aula inaugural. Nos preocupamos em prover atualidade, conhecimento e prática em governança corporativa”, conta.
Planejamento
Antônio José da Silva, diretor de pesquisa e pós-graduação da São Judas Tadeu, destaca que o trabalho para a atualização e lançamento de novas especializações exige pesquisas de mercado e, consequentemente, tempo. “Os lançamentos na São Judas foram resultado de trabalho em equipe, que era formada por profissionais de diversas áreas e instituições. Durou cerca de um ano até a abertura da primeira turma”, diz.
Segundo Silva, as pesquisas de mercado demandam prazos longos e investimentos, que devem ser especificados logo no início do planejamento. Um dos primeiros passos é uma análise geral de todas as tendências para separar o que é novo e consistente daquilo que é apenas passageiro. Para ser efetivo, esse estudo precisa envolver diferentes públicos, como empresas, profissionais de recrutamento, alunos, ex-alunos e clientes em potencial. Outro cuidado é formar um time de docentes qualificados e com boa experiência profissional.
Além disso, o trabalho de análise não termina quando a pós-graduação é lançada. A universidade deve fazer pesquisas de satisfação para verificar o que deve ser melhorado nas próximas turmas – um ótimo termômetro para saber se o caminho adotado é o mais adequado. “Precisamos criar um track record [avaliação do histórico] à medida que os programas são oferecidos. O objetivo é aperfeiçoá-los e calibrá-los para atender às expectativas dos estudantes”, ressalta Mello, da FGV.
Segundo ele, também é fundamental formar e capacitar a equipe que irá desenvolver as atividades de marketing e vendas. Manter relacionamento com ex-alunos, captar novos clientes e disseminar os benefícios dos cursos são pontos decisivos para o sucesso da pós-graduação. Uma boa dica é investir em estratégias de marketing digital, como na criação de blogs e newsletters, e apostar na divulgação on-line por meio das redes sociais e de e-mails marketing.
É preciso saber |
➣ Somente as instituições de ensino já credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC) podem oferecer os cursos de especialização. . ➣ As instituições devem ser diretamente responsáveis pelos cursos, ou seja, oferecer os certificados sem o intermédio ou o apoio de terceiros. . ➣ A modalidade lato sensu não exige autorização e reconhecimento – o objetivo, segundo o MEC, é garantir características como flexibilidade, dinamismo e agilidade. . ➣ Cinquenta por cento do corpo docente deve ter título de mestre ou doutor. O restante precisa possuir, no mínimo, uma especialização. . ➣ Cursos a distância devem exigir provas presenciais e a apresentação de um trabalho de conclusão. |