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Instituições apostam na construção de indicadores próprios para medir a qualidade do ensino e não ficarem reféns das avaliações externas por Amanda Cieglinski Na primeira semana de dezembro, o Ministério da Educação (MEC) divulgou mais uma edição dos principais indicadores usados para a avaliação das […]

Publicado em 09/01/2014

por Ensino Superior

Instituições apostam na construção de indicadores próprios para medir a qualidade do ensino e não ficarem reféns das avaliações externas
por Amanda Cieglinski
183_20Na primeira semana de dezembro, o Ministério da Educação (MEC) divulgou mais uma edição dos principais indicadores usados para a avaliação das instituições de ensino superior brasileiras. Os dados do Conceito Preliminar de Curso (CPC) e do Índice Geral de Cursos (IGC) expõem o debate sobre a qualidade dos cursos de graduação no país e quais as ferramentas e indicadores mais adequados para um bom diagnóstico. Enquanto essa discussão se repete ano a ano, parte das mais de duas mil instituições de ensino trilham um caminho contrário ao das avaliações externas. A aposta é “olhar para dentro” e investir em programas internos de avaliação institucional.
“De uma maneira geral, não se ouve mais a direção de uma instituição dizer que está fazendo avaliação porque tem de enviar um relatório para o MEC. As instituições já reconhecem que o processo avaliativo traz força para a gestão. O primeiro esforço é o autoconhecimento. O segundo é usar o resultado desse esforço na tomada de decisão. Ou seja, deixar de avaliar para cumprir obrigações formais e dedicar-se a corrigir a rota”, defende Sérgio Fiuza, vice-reitor do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa).
Mais do que produzir novos indicadores, números e planilhas, para ter efeito prático na melhoria do ensino, os processos de autoavaliação precisam indicar quais são as deficiências e impulsionar as mudanças. “Você precisa ter uma bússola para navegar. Caso contrário não há como priorizar recursos e tempo para tomar as decisões corretamente”, recomenda Maurício Garcia, vice-presidente de planejamento e ensino da DeVry Brasil.
O que medir?
Os principais indicadores do MEC (CPC e IGC) são formados, em maior peso, pelo resultado dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Fazem parte ainda dos índices, a titulação do corpo docente e a infraestrutura – medida a partir do questionário que é respondido pelo aluno.
Há, portanto, uma infinidade de outros aspectos que impactam a qualidade do ensino e a aprendizagem, que ficam de fora da avaliação externa e podem ser objeto de atenção em um programa de avaliação institucional. Alguns exemplos de critérios que são levados em conta em programas institucionais são a taxa de evasão dos alunos, a empregabilidade do egresso, a participação dos professores nos planos de ensino e o percentual de aprovação dos alunos a cada semestre. Saber o que medir vai depender do tamanho da instituição, da missão e, principalmente, de aonde ela quer chegar.
“Cada instituição tem uma realidade. O importante é que ela faça, no seu próprio contexto, uma análise de correlação. Assim ela pode escolher variáveis que sejam importantes para ela. Por exemplo, correlacionar o desempenho no Enade com a taxa de aprovação no exame da OAB. Ou a titulação do corpo docente com o nível de satisfação do seu aluno. O importante é identificar quais delas são relevantes no seu contexto”, aponta Garcia.
Enquanto uma universidade pode mirar no volume da produção científica ou no número de artigos publicados em revistas internacionais, para outras instituições menores o peso mais relevante, por exemplo, pode estar na contribuição dos cursos ao desenvolvimento econômico e social da região. “Isso começa a ser possível aferir e as instituições têm investido na avaliação do egresso para saber onde eles estão, o que estão fazendo etc.”, destaca Fiuza.
O vice-reitor do Cesupa aponta outras “tendências” que começam a ser medidas: inovação tecnológica, as cooperações internacionais e mesmo o nível de empreendedorismo entre os alunos.
No entanto, a busca por indicadores próprios não significa que a instituição deve deixar de olhar para os resultados das avaliações externas aplicadas pelo MEC ou outros órgãos. “O Enade é um exame que tem seu valor do ponto de vista metodológico. O problema é o que se faz com o resultado dele; acaba se anunciando para a sociedade que quem tem Enade bom está bem, e a gente sabe que não é verdade”, critica Fiuza.
Impulso externo
Há sete anos, a faculdade Insper, em São Paulo, encarou a missão de “olhar para dentro” para identificar os pontos que precisavam ser melhorados na formação dos alunos. O desafio era atingir o nível de excelência para conseguir o certificado da Association to Advance Collegiate Schools of Business (AACSB).
O primeiro passo foi mapear quais eram as grandes competências e conhecimentos que a direção da instituição esperava que os alunos dominassem ao final do curso. O trabalho incluiu o corpo docente e também os parceiros do mercado – aquelas empresas que no futuro contratarão o profissional formado pela instituição. Algumas habilidades elencadas foram, por exemplo, a habilidade para resolução de problemas e trabalho em equipe.
Todas as avaliações aplicadas aos alunos levam em conta a mensuração dessas habilidades – provas, apresentação de trabalhos, execução de projetos. Os dados são compartilhados com o corpo docente e funcionam como um termômetro. “A prática agora está incorporada no nosso processo de gestão do aprendizado. Temos encontros periódicos com os professores em que esses dados são apresentados e à luz dos resultados discutimos como podemos melhorar a prática de ensino, a dinâmica da sala de aula. Isso cria um ciclo positivo de aprimoramento”, explica Carolina da Costa, diretora acadêmica de graduação do Insper.
Carolina acredita que a avaliação tem impacto na qualidade do ensino porque a instituição consegue fazer a “gestão dos dados”, o que permite ao professor colocar mais esforços onde é necessário. Sistemas de avaliação com foco no desempenho do aluno costumam ser considerados “incompletos” por parte do corpo docente, que muitas vezes tem resistência aos processos avaliativos.
Carolina ressalta que a chave para a aceitação do programa é envolver os docentes. “A participação dos professores foi decisiva no desenho do instrumento. Eles precisam estar confortáveis com os modelos de avaliação, participar da definição dos critérios e da análise de resultados”, aponta.
Foi também motivado pela acreditação de uma instituição internacional que o Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mequisa Filho (Unesp), em Bo­tu­catu, desenvolveu seu próprio programa de avaliação institucional. Desde 2011, o departamento é credenciado pelo Colégio Americano de Patologia (CAP), o que determinou algumas mudanças de gestão e nos processos de acompanhamento de metas de qualidade.
“Antes nosso sistema de avaliação de graduação era o esquema tradicional. O que esse modelo proporciona é enxergar outra maneira de avaliar, traçando metas, tirando indicadores nessa visão da cultura da qualidade”, explica a professora Maria Aparecida Domingues, chefe do departamento. Ela conta que o CAP fornece testes de proficiência e avaliação, inclusive do docente e de sua capacitação técnica para garantir boas práticas.
A experiência do departamento estimulou o debate sobre a autoavaliação em outras áreas da universidade que promoveu em novembro o primeiro fórum para discutir indicadores de ensino. O fórum destacou a importância da avaliação interna institucionalizada e da cultura pela busca da qualidade. A direção da Unesp debate agora a criação de um programa próprio de acompanhamento da qualidade, mas o projeto ainda está em fase de estudo.
Solução ideal
Cada instituição precisa buscar seu modelo próprio de avaliação. Com isso, a principal orientação é que as informações produzidas sirvam de instrumento para a própria gestão. “É importante que a autoavaliação seja objetiva”, aponta Maurício Garcia.
Um grande estímulo para que as instituições façam o exercício da autoavaliação deve chegar em breve. O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou no segundo semestre de 2013 os novos instrumentos de avaliação institucional que serão utilizados no credenciamento e autorização de funcionamento de cursos. Elaborado pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), o documento aguarda homologação do ministro Aloizio Mercadante para começar a valer, mas tem como foco a avaliação a partir do projeto pedagógico. O novo instrumento organiza o processo em torno de cinco eixos (planejamento e avaliação institucional, desenvolvimento institucional, políticas acadêmicas, políticas de gestão e infraestrutura) e valoriza o trabalho de autoavaliação desenvolvido pelas instituições.
“O novo instrumento já carrega nos dois primeiros eixos um enfoque na autoavaliação. Nós vemos isso com muita esperança, porque ele toca nesses novos processos”, encerra Fiuza, que acompanhou as discussões na Conaes sobre o assunto.

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