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Ensino Superior

Para ensinar a empreender

Rodada de empreendedorismo reúne pesquisadores e professores de diversas instituições do Brasil para pensar e discutir o ensino no país por Márcia Soligo O bucólico cenário do hotel fazenda Dona Carolina, em Itatiba, interior de São Paulo, se transformou, por três dias em meados de […]

Publicado em 25/11/2013

por Ensino Superior

Rodada de empreendedorismo reúne pesquisadores e professores de diversas instituições do Brasil para pensar e discutir o ensino no país
por Márcia Soligo
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O bucólico cenário do hotel fazenda Dona Carolina, em Itatiba, interior de São Paulo, se transformou, por três dias em meados de outubro, num palco de acaloradas discussões sobre o ensino de empreendedorismo no país e de compartilhamento de boas práticas, ideias e reflexões sobre os rumos da educação empreendedora, durante a 4ª Rodada de Educação Empreendedora (REE) no Brasil. O evento é promovido pela Endeavor em parceria com o Sebrae e tem o objetivo de reunir pesquisadores, reitores e professores durante palestras e workshops, incentivando a discussão sobre o empreendedorismo, assunto cada vez mais relevante no país. A REE foi criada especialmente para quem prepara os futuros empreendedores e envolve oficinas práticas, em que os participantes viram alunos e vivenciam as atividades propostas como um estudante.
Sem mágica
Os debates da rodada foram abertos com a palestra sobre empreendedorismo disciplinado, proferida por Bill Aulet, diretor do Martin Trust Center do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (o MIT, na sigla em inglês). O assunto é também tema de livro homônimo escrito por Aulet, que conta ser um empreendedor de nascença e um acadêmico por acaso. Ao longo de sua vida, ele teve três empresas. Com a primeira fracassou grandemente, mas conseguiu alcançar o sucesso com as outras duas. “É muito comum que a primeira empresa não dê certo, que a segunda vá bem e que a terceira vá muito bem. Eu aprendi com os erros e fiquei melhor. O empreendedorismo pode ser ensinado e pode ser aprendido”, diz.
Para o professor, um dos maiores equívocos sobre o empreendedorismo é que ele não pode ser aprendido e que os verdadeiros empreendedores nascem assim. “Não existe nenhum dado científico para suportar essa afirmação. Eu também costumava pensar isso, mas esta não é a verdade”, afirma Aulet.
Um dos maiores problemas no ensino da disciplina é se basear na inspiração. Muitas palestras e programas de educação empreendedora contam histórias sobre como se chegou até ali, suas conquistas e desafios. E é preciso profissionalizar, definir empreendedorismo de forma teórica e repassar isso para os alunos. “Você vai ouvir histórias, mas isso é educação? Nós precisamos arranjar uma forma de criar muitos empreendedores e acabar com essa crença de que empreendedorismo é mágica”, reforça o professor.
No Brasil são 76% de calouros demonstrando desejo de empreender no futuro. Ou seja, grande parte dos ingressantes necessita de um ensino de qualidade, que se baseie em algo além do “nascer com isso”. Para Aulet, o ensino de empreendedorismo deve ser integrado a todas as matérias, balan­ceando teoria e prática.
No MIT não existe graduação com enfoque em empreendedorismo. O estudante precisa conhecer bem outras ciências, seja ela engenharia ou ciências sociais, e criar uma boa base de educação. “Os alunos precisam entender a parte fundamental das matérias. Empreendedorismo pode ser ensinado depois. Nosso objetivo não é ensinar como pegar um peixe, e sim a pescar”, acrescenta.
O professor encoraja os novos empreendedores a não desistir facilmente. De acordo com Aulet, todo sucesso que conseguiu em sua carreira foi devido aos erros que cometeu. O diretor do MIT também defende que é preciso trazer as empresas para o ensino. “Eles querem inovação e isso trará fundos para a instituição trabalhar”, encerra.
A importância do ecossistema empreendedor para o desenvolvimento de negócios de alto impacto no Brasil foi abordada no painel apresentado por Marcos Vinícius de Souza, secretário de Tecnologia Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDCI), e por Juliano Sea­bra, diretor de gestão da Endeavor, que ainda discorreram sobre os desafios de encontrar propostas inovadoras em projetos rea­lizados por estudantes. De acordo com eles, falta conhecimento para a criação de ideias relevantes. “As coisas são muito fracas para o mínimo grau de exigência. O que estamos fazendo de errado? É importante refletir sobre isso e pensar no que podemos fazer para conseguir construir um ambiente empreendedor melhor”, provoca Juliano Seabra.
Mais uma vez, as formas de trabalhar de instituições em outros países serviram de inspiração para o caminho que o ensino de empreendedorismo no Brasil deve seguir. No painel, os palestrantes trouxeram exemplos como o do Google Campus, sediado em Londres. Lá são realizadas por mês cerca de 320 palestras relacionadas a negócios com representantes de diversas organizações do mundo. São eventos acontecendo o dia inteiro para alunos do campus e para a comunidade interessada.
A discussão sobre os gargalos do ensino nas instituições universitárias também foi tema abordado no REE, denunciando a perda de alunos no meio do caminho. “Muitos estudantes desistem de empreender depois que estudam a disciplina. Isso pode ser porque eles se defrontam com os desafios ou porque o ensino de empreendedorismo no Brasil é muito ruim”, diz Marcos Hashimoto, coordenador do Centro de Empreendedorismo e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Já para Edmilson Lima, professor da Universidade Nove de Julho (Uninove), outro problema é o desafio de vencer a expectativa criada nos alunos pelos olhos da mídia. “A mídia é fonte de frustração, porque muitos acreditam na glamourização e as coisas não são tão fáceis”, acredita Lima.
Ação para ensinar
O segundo dia de evento começou com oficinas práticas, buscando demonstrar por meio de atividades como o ensino de empreendedorismo pode ser aplicado de forma dinâmica e eficaz. As oficinas foram conduzidas por Marcus Linhares, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), ganhador duas vezes do prêmio Educação Empreendedora; Marcos Hashimoto e Verônica Mussi, gestora de educação da Endeavor, e trouxeram abordagens inovadoras como gamificação aplicada na educação empreendedora.
A palestra sobre Design Thinking, conduzida por Heidi Neck, professora de empreendedorismo para MBA e cursos executivos do Babson College, reconhecida como uma das mais importantes instituições no ensino de empreendedorismo no mundo, tratou mais uma vez dos desafios do ensino, além de bater novamente na tecla de que é preciso eliminar a crença de que é preciso nascer com o dom de empreender.
Para Heidi, estabelecer o que é o empreendedorismo ainda é difícil, pois não existe um senso comum sobre o assunto e a mídia perpetuou alguns mitos. “Não podemos continuar com esses mitos, pois, além de tudo, desvalorizam o esforço que a classe de professores faz”, afirma.
A professora demonstrou alguns painéis do Brasil, destacando o fato de o país ainda ter somente 15% de pessoas envolvidas em atividades empreendedoras, sendo este o menor número entre os países da América Latina. Para ela, cabe aos professores desenvolver e liberar a capacidade dos alunos.
Mais uma vez a falta de ação no ensino de empreendedorismo foi abordada, a necessidade de ensinar por meio de atos e menos por meio da composição de planos de negócios. “Por que os professores focam tanto o ensino do plano de negócio? Porque é muito difícil dar nota para ação”, argumenta.
A professora também coordenou o workshop prático sobre como construir um ecossistema empreendedor na instituição, em que demonstrou suas técnicas para o ensino de empreendedorismo. As atividades, compostas por uma espécie de jogo para educar, possuíam fases e passos que envolvem insight, feedback, entre outras etapas.
Painel da educação
A 4ª Rodada de Educação Empreendedora contou ainda com o lançamento oficial do Estudo sobre Centros de Empreendedorismo Acadêmicos. Além de demonstrar a realidade do ensino no Brasil, o estudo compara a atividade realizada aqui com outros países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, são 400 centros de empreendedorismo, enquanto no Brasil são apenas 33. Aqui, esses centros geralmente têm diretores que são acadêmicos, enquanto nos Estados Unidos os gestores dos centros possuem um background empreendedor, o que acaba afetando todo o foco do ensino.
Para Hashimoto, o que seria ideal para um centro de empreendedorismo é estar em constante busca por recursos, ter responsabilidade pelo currículo aplicado, e imprimir equilíbrio entre pesquisa, ensino e prática. Possuir uma boa infraestrutura para incubar e/ou acelerar empresas, desenvolver o planejamento estratégico, com indicadores de desempenho, e possuir uma boa liderança e equipe engajada são outros fatores primordiais para o sucesso de um centro de empreendedorismo.
Workshops com atividades práticas en­­cerraram os dois dias da Rodada de Educação Empreendedora. O intuito era envolver os professores e incentivar a integração, colaboração e compartilhamento de ideias, elementos fundamentais da educação empreendedora.

Reconhecendo a inovação
Durante a 4ª REE, ocorreu ainda a edição 2013 do Prêmio Educação Empreendedora, promovido pela Endeavor e pelo Sebrae. A iniciativa é destaque no relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD – ONU) como uma importante ferramenta para o desenvolvimento do tema empreendedorismo. Os projetos foram avaliados com base no impacto, aplicabilidade e inovação. O ganhador foi o projeto da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Para um Mundo + Limpo, idealizado pelo professor Alexandre Pereira. Também foram finalistas e receberam menção honrosa os trabalhos de Anderson Luís da Silva, do Centro Universitário Senac, e Ronie Peterson Silvestre, do Instituito de Ensino Superior de Rondônia (Iesur).

 

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