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Ensino Fundamental

Os próximos passos de Isadora

Criadora do Diário de Classe e celebridade na rede social, a estudante ainda reflete sobre se manterá sua página na internet após seu último ano na escola

Publicado em 07/01/2013

por Camila Ploennes

Alberto Goulart
A caminho da escola: a página criada pela estudante inspirou mais de 100 iniciativas semelhantes em todo o Brasil

Isadora Faber está pensativa. Em 2013, ela vai frequentar a 8ª série na Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis (SC), o que representa seu último ano na escola onde estuda desde o primeiro ano do ensino fundamental. Em meio às mudanças que naturalmente ocorrerão em sua vida, até o final deste ano letivo ela ainda pretende chegar a uma conclusão sobre o que fará com sua popular página no Facebook, “Diário de Classe”.

Em 2012, Isadora chamou a atenção de um público vasto e heterogêneo na rede social para situações cotidianas e temas educacionais discutidos por estudiosos e profissionais da área. Fez isso ao expor críticas, sugestões – e também elogios – sobre o microcosmo de sua escola. Tamanha se tornou sua popularidade, com quase 500 mil seguidores na internet e a cobertura da mídia, que seu ‘Diário’ passou a funcionar como uma espécie de “ouvidoria às avessas”, impelindo a Secretaria de Educação da cidade a atender antigas demandas e trazendo à tona os discursos de atores que fazem parte dessa realidade: professores, gestores, famílias e, talvez mais do que nunca, os próprios alunos.

Só no site
> Conheça o dia a dia de Isadora Faber, sua família e escola.

> Leia na íntegra a entrevista com a diretora da E.M. Maria Tomázia Coelho, Liziane Diaz.

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Futuro
“Acho que eu vou seguir com o ‘Diário’. É meu último ano no Maria Tomázia e depois, eu não sei… Mas eu quero fazer alguma coisa para ajudar as outras escolas”, afirma Isadora à reportagem de Educação, em sua casa na Praia do Santinho, norte da ilha de Florianópolis. A menina, que fala baixo e é breve em suas respostas, não deixa de esclarecer uma questão que ficou no ar ao longo da repercussão de sua iniciativa: “Eu gosto da escola, estudo lá desde pequena”.  Bricando com Ziggy, seu poodle, ela conta que mantém contato com os criadores de outros diários virtuais semelhantes, por meio de um grupo no Facebook que ela criou para esse propósito.

Existem mais de 100 páginas inspiradas na iniciativa de Isadora, inclusive com o mesmo nome. “Todos os alunos sofreram algum tipo de represália”, diz sua mãe, Diamela Leal Faber, a Mel.  Ela se refere às diversas reações da comunidade escolar. “Numa reunião, uma professora falou ‘Pede perdão’, porque eu escrevi um texto de desabafo onde chamei de covardes e cordeirinhos os pais que humilharam a Isadora. Outro dia imprimimos 137 páginas de comentários pesados, de baixo calão, coisas agressivas”, conta. A família tem um advogado, que cuida de casos como esses de ataques e uso não autorizado da imagem de Isadora. Isso se tornou necessário depois que o prefeito eleito, Cézar Souza Junior (PSD-SC), usou a imagem da menina em sua campanha.

Afirmações pejorativas, palavrões e afrontas à mãe de Isadora, além de ameaças presenciais de alguns estudantes contra Isadora, sua família e amigos ficaram mais intensas depois de uma crítica específica: a cobrança pela pintura da quadra de esportes. Pela força da insistência e da denúncia pública, o trabalho acabou feito em meados de novembro, um ano e meio após sua contratação. “Depois de agosto, quando a escola tomou uma posição contrária ao ‘Diário’, a Isa não saiu mais de casa sozinha, porque umas gurias já falavam que iam bater nela”, afirma Mel. Em novembro, a avó das meninas, Rosa Maria Leal, de 65 anos, foi atingida por uma pedrada na casa da família, incidente que estaria relacionado a tais ameaças.

Retratos
Apesar das ofensas on-line e da intimidação na porta da escola, Educação encontrou alunos, pais e responsáveis com diferentes opiniões a respeito da página, mas que se expressaram de modo equilibrado ao falar com a reportagem. “Estudo com ela desde a 1ª série e acho o ‘Diário de Classe’ uma iniciativa muito legal”, diz Carlos Eduardo, colega de sala de Isadora. A mãe dele, Neli Roland Viviani, também apoia a estudante. “Ninguém tinha de pressionar a menina porque ela manifestou opiniões. A escola é pública, tem de melhorar e para isso é preciso falar, colocar na internet mesmo. É um absurdo a pressão que ela sofre por parte dos professores, funcionários e colegas”, afirma.

Yasmin, que cursa a mesma série em outra sala, pensa diferente. “Por um lado a iniciativa dela foi muito boa, porque trouxe melhorias para a escola, como as reformas. Mas ela publica coisas que nem sempre são verdadeiras”, opina. Para ela e outros colegas, algumas criticas de Isadora perderam credibilidade depois que foram publicadas e, mais tarde, corrigidas. Um exemplo é o mal-entendido com o conteúdo de uma aula de português. No episódio, Isadora interpretou que a atividade havia sido uma indireta para ela devido à aula ter tratado de ética e internet. Depois de conversar com a professora, pediu desculpas por ter concluído que foi um engano.

A avó de Yasmin, Marlene Silva, diz não acompanhar muito a página, mas é a favor do “Diário”: “Sei que ela fez reclamações e concordo. Acho que ela não fez nada de errado”, afirma. Já Vanda Gonçalves, mãe de Layla, outra colega de série, levanta outros temas. “Foi legal, mas não se deve esquecer de que quem estraga as coisas nas escolas são os próprios alunos e que teve uma hora em que ela expôs professores. E quem vai nas reuniões da escola? Da sala da minha filha, no conselho, só fui eu de mãe. Os pais não aparecem, não têm comprometimento”, desabafa.

Gestão
As queixas de Vanda dialogam com o posicionamento da diretora da E.M. Maria Tomázia. Na sala que ocupa logo na entrada da escola, Liziane Diaz afirma que as reclamações de Isadora foram legítimas, mas que não aceita a exposição pública de alunos e professores da classe na internet. “A lei estadual 14.636 / 2008 diz ser proibida a utilização de celular dentro de sala de aula. Não fala nada de corredores. Por isso, fotos de porta e de fechadura não são um problema. É uma realidade com a qual convivemos e a escola precisa de manutenção. Mas tem professor que, se algo for falado, não vai poder entrar na página para dizer nada, até porque se resguarda no direito de nem ter Facebook”, defende.

Para Liziane as famílias participam pouco da vida escolar. Ela aponta como exemplo o caso do professor de matemática que teve a aula gravada em uma situação de indisciplina e depois foi substituído. “Ele tinha muita dificuldade, mas nós já vínhamos fazendo a avaliação. Infelizmente, nós quase não tivemos relatos e reclamações sobre esse professor, porque a participação da comunidade ainda é pequena. Nós vemos um número mínimo de pais nos conselhos de classe e até mesmo poucos alunos”, argumenta.

Legitimação
Em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo, a psicóloga Rosely Sayão escreveu que não faz parte da cultura escolar ouvir os alunos e ponderou que o fator que legitimou as reivindicações de Isadora foi justamente a reação desses seguidores, em grande parte adultos, e da mídia, também adulta. Adiante, Rosely propôs duas tarefas a esses adultos: cobrar que a escola ensine os estudantes a participar ativamente do processo escolar e encorajar os filhos a falar diretamente com a escola.

Ao que parece, Isadora apontou esse caminho para sua escola. “O mais positivo foi a sacudida que deu nos alunos. Depois do ‘Diário’, nós conseguimos constituir nosso Conselho Escolar e o Grêmio Estudantil, sendo que o único ano em que se teve Grêmio nessa escola foi 2007, um pouco após a inauguração”, reconhece a diretora.

Família
O senso crítico de Isadora em suas postagens despertou a curiosidade sobre sua família e a educação recebida em casa. Todo tipo de informação foi veiculado. “Já disseram que nós somos milionários, donos da Faber Castell, que eu sou médica… Já me deram várias profissões. Eu sou produtora de vídeo”, esclarece a mãe. Gaúcha com origem em Pelotas, Mel também é mãe de Eduarda, 16, e Ingrid, 25 anos. Foi para Santa Catarina com as duas filhas e o marido, Christian Faber, em 1997. Naquela época, Ingrid tinha 10 anos e Eduarda apenas 10 meses.

Isadora é a única catarinense da casa. Quem acompanhou sua página pode ler mensagens preconceituosas em relação ao fato de sua família ser gaúcha, às quais a menina responde ser “mané da [maternidade] Carmela Dutra”, ou seja, catarinense “da gema”. Essas manifestações xenófobas não são uma novidade na capital do estado, como mostra o livro Cidade dividida: dilemas e disputas simbólicas em Florianópolis.

Resultado da tese de doutorado da antropóloga Marcia Fantin, da Universidade de São Paulo, a obra aponta que há relações conflituosas na ilha, já que sua natureza e qualidade de vida têm atraído novos moradores. Segundo a pesquisa, esses conflitos acontecem entre os que defendem a conservação do perfil de cidade média e os que são a favor do movimento de transformação da cidade em mais uma grande metrópole moderna; “entre os ‘do contra’ e os ‘a favor’; os ‘alternativos’ e os ‘conservadores’; os ‘daqui’ e os ‘de fora’, os ‘nativos’ e os ‘estrangeiros’; entre os ‘manezinhos’ e os ‘gaúchos’, que disputam as utopias urbanas e o direito à cidade”.

O motivo da migração da família Faber foi econômico. “Em Pelotas todo mundo dizia ‘o último a sair apaga a luz e fecha a porta'”, lembra Mel. Christian é engenheiro agrônomo, mas exerceu a profissão por menos de dois anos. “Quando ele se formou, o paraninfo discursou que aquele era um dia de festa, mas que eles deixavam de ser estudantes e passavam a ser um problema social. Em 1992, não tinha emprego na área. Se aparecia uma vaga, tinha 200 candidatos e precisava viver na zona rural, mas ele queria morar na praia”, conta. Hoje, Christian e Mel produzem, gravam e editam programas para a televisão. Eduarda, que quer fazer cinema, também trabalha com os pais. E Ingrid, a filha mais velha, é engenheira de computação.

A mãe de Mel, dona Rosa Maria, foi morar com a família mais tarde, em março de 2006, quando começaram a aparecer os primeiros sinais de uma doença rara, a coreia de Huntington – distúrbio neurológico degenerativo hereditário. “Ela não conseguia mais andar sozinha e eu não tenho irmãos. Meu pai [João Leal] morreu em 2006, no avião da Gol que caiu na Serra do Cachimbo, que vinha de Manaus para Brasília”, explica.

Autor

Camila Ploennes


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