NOTÍCIA

Carreira

Prazer em receber

Programas de acolhimento aos novos professores geram baixa evasão docente e melhoram a aprendizagem dos alunos das redes públicas de ensino

Publicado em 08/10/2012

por Débora Rubin

Gustavo Morita
EE Ministro Costa Manso: boa recepção faz novos professores sentirem confiança com suas turmas

As escolas brasileiras co­meçam a criar, cada uma com seus recursos possíveis, uma metodologia para receber o professor iniciante. Na Escola Estadual Ministro Costa Manso (SP), a maior dificuldade enfrentada é a falta de professor e o professor que falta. A alta rotatividade incomodava Oneida Fioriti, diretora do Costa Manso, como a escola é conhecida, desde 2004. A estratégia para evitar abandono e ausência de seus 25 docentes foi criar o que ela chama de “atmosfera de aconchego”.

Para isso, Oneida fez desde coisas simples como a criação de um refeitório exclusivo para professores, até iniciativas mais complexas como um planejamento pedagógico detalhado a cada começo de ano. Isso significa que o profissional que faz sua estreia no Costa Manso é orientado pela coordenação do colégio na hora de planejar suas aulas e é acompanhado de perto ao longo de seu primeiro ano letivo pela direção. “Damos atenção especial a ele”, garante a diretora. A coordenação também o contextualiza sobre o perfil da escola e sobre a turma que ele vai assumir antes de o ano começar. No segundo ano de carreira, ele mesmo já ajuda a formular esse planejamento com a coordenação, auxiliando outro novato, se for o caso. Essa dinâmica no começo do ano letivo ajuda a criar um clima de entrosamento entre os colegas.

+Leia mais:

– Como as escolas podem atenuar o “choque de realidade” do início da carreira docente

– Depoimentos de professores sobre as dificuldades do início da profissão

-Nos EUA, cresce o número de programas de suporte a professores, mas a qualidade das iniciativas não é unifome

#R#
 
Respeito mútuo
A boa recepção faz com que novos professores se sintam confiantes no comando de suas turmas, o que gera respeito à hierarquia e alunos mais conscientes de seu papel em sala de aula. O Costa Manso é conhecido por ter uma participação ativa dos alunos nas atividades propostas pelo colégio e por sua capacidade argumentativa. “Não podemos mexer no salário dos professores, mas podemos ajudar no prazer dele em dar aula”, resume a diretora, que rege uma turma de mais de 500 alunos.

Em Campo Grande (MS), os incentivos incluem recursos financeiros e treinamento inicial. O salário do professor iniciante teve um aumento escalonado, devendo chegar a R$ 2.800 até o final do ano e os professores aprovados por concurso passam por um teste técnico. Quem fica nas últimas posições não assume o cargo.

Segundo o secretário de Educação Volmar Vicente Filippin, antes de o professor concursado e aprovado no teste assumir de fato uma classe, ele recebe um curso de capacitação com teoria e prática. “Nos primeiros anos como professor, pagamos uma pós-graduação para aperfeiçoar habilidades especificas da área em que ele atua”, explica. Segundo o secretário, dois mil professores dos cinco mil da rede municipal já passaram por essa formação.

“Essas ações ajudaram a reduzir a rotatividade e impactaram diretamente na aprendizagem dos alunos da nossa rede”, garante Volmar. Campo Grande foi o segundo colocado entre as capitais nas séries iniciais do último Ideb, ficando atrás apenas de Florianópolis. E em quarto lugar nas séries finais.
 
Valorização do magistério
Já em Sobral (CE), quando o docente é aprovado em concurso, no qual é obrigatório ter licenciatura plena, seus três primeiros anos são chamados de “estágio probatório”. Isso significa que ele já está em ação, em sala de aula, mas ainda dentro de um processo de formação. “Paralelamente, ele participa de um curso noturno de formação ao longo do primeiro ano de profissão. Para isso, recebe 25% a mais em relação ao seu salário”, diz o secretário Julio César da Costa Alexandre.

Segundo ele, o projeto começou a ser adotado, em 2001, porque no ano anterior a secretaria detectou que 50% dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental não sabiam ler. As ações de valorização do magistério incluem o direito a usar 20% da jornada para formação profissional, bônus e carta de crédito para o professor que queira comprar seu próprio computador e uma série de oficinas e palestras ao longo do ano.

“Hoje, 97% dos alunos do segundo ano do ensino fundamental 1 são plenamente alfabetizados e comemoramos notas cada vez maiores no Ideb, como o 7,3 com a turma do quinto ano”, diz o secretário.

A Escola Viva (SP) também procura ambientar os professores novatos. Quando começa o ano letivo, os iniciantes se tornam auxiliares de classe, cargo no qual vão permanecer por até três anos. Durante esse processo, os professores mais experientes e maduros atuam como tutores dos principiantes. Essa cultura começou no fundamental 1, com especial atenção aos alfabetizadores, e hoje se estende aos demais ciclos. “Quebrar a resistência dos professores mais antigos foi um longo trabalho de construção”, conta Renata Americano, coordenadora geral do F1. “Mesmo tendo uma mobilidade pequena de quadro, buscamos sempre ter gente nova para dar uma arejada na forma como ensinamos. O desafio é aco-lher os novos cada vez melhor.” O esforço deu resultado e, hoje, a escola é procurada até por gente com uma boa bagagem de horas-aula para participar do programa de estágio.

Autor

Débora Rubin


Leia Carreira

shutterstock_1898382646_2

O que você precisa saber sobre a Política Nacional de Educação Digital

+ Mais Informações
educacao-humanizadora

Por uma educação humanizadora

+ Mais Informações
Estudantes chegam para o primeiro dia de prova do Enem 2021.

Enem 2021: o mais branco e elitista dos últimos anos

+ Mais Informações
etec

Como é ser professor do ensino técnico em São Paulo

+ Mais Informações

Mapa do Site