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Deixa para depois

A procrastinação não é exclusividade do ambiente profissional; crianças e adolescentes também enfrentam esse problema na escola e ajudá-los é uma tarefa do educador

Publicado em 15/08/2012

por Deborah Ouchana

Quem nunca passou horas em frente à televisão enquanto deveria estar escrevendo um trabalho? Quem nunca ficou com raiva de si mesmo por ter adiado uma tarefa importante sem, aparentemente, nenhuma justificativa? Ou ainda, quem nunca disse que só consegue trabalhar sob pressão, com prazos curtíssimos? Ao contrário do que pode parecer, adiar atividades e compromissos não é um problema individual, mas um comportamento comum a todos e que tem nome: procrastinação.

As pesquisas referentes à procrastinação dão maior evidência ao seu impacto na vida profissional, entretanto, na maioria dos casos esse comportamento começa no próprio ambiente escolar e consequentemente se repete no ensino superior e na carreira profissional.

Estudar uma noite antes da prova, acumular lições de casa ou escrever o trabalho que deveria ser feito ao longo de um mês em apenas um dia são comportamentos recorrentes no cotidiano de estudantes do ensino fundamental e médio. Os procrastinadores costumam ser tachados de preguiçosos, mas psicólogos alertam que procrastinação não é sinônimo de ócio; significa simplesmente realizar outras atividades menos importantes no lugar da pretendida.

De modo geral, a procrastinação escolar é uma disfunção dos processos de autorregulação da aprendizagem. “A autorregulação é um tipo de aprendizagem onde eu moldo meus comportamentos em direção a determinado objetivo. O aluno que procrastina faz uma planificação inadequada das tarefas e não consegue proteger dos distratores sua intenção de terminar determinada atividade”, explica Pedro Rosário, psicólogo e professor na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, em Portugal, e coordenador do Grupo Universitário de Investigação em Auto-Regulação.

Além do mau gerenciamento do tempo, a psicóloga e mestre em Educação Rita Karina Sampaio aponta que as pessoas tendem a protelar atividades que consideram desagradáveis ou as quais não se julgam boas o suficiente para realizar. A resposta para a ansiedade diante das provas, por exemplo, pode ser o adiamento do estudo. “O medo de falhar faz com que as pessoas usem o que chamamos de estratégias auto-prejudicadoras para que essas crenças não se concretizem de fato”, diz.

A psicóloga conta que a maior parte dos alunos entrevistados para sua dissertação de mestrado Procrastinação acadêmica e autorregulação da aprendizagem em estudantes universitários, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pontuou que já procrastinava na escola. O dado traz um questionamento incômodo: se a procrastinação é um problema que vem desde a educação básica, por que ela não é identificada e combatida desde o princípio?

Uma das justificativas pode ser a falta de ferramentas para relacionar a procrastinação ao rendimento escolar. Segundo Rita, o professor pode ter em sala de aula uma criança com boas notas, mas que depois de uma semana da avaliação não vai se lembrar mais do que escreveu, já que pessoas que têm o hábito de procrastinar encontram mais dificuldade em estabelecer estratégias de aprendizagem profundas.

Por isso ela defende que os professores da educação básica precisam ensinar as crianças e adolescentes a gerenciar seu tempo. “São necessárias uma orientação e regulação externas. Alguém para refletir com o aluno o melhor horário para fazer a lição de casa, onde ela deve ser feita, como a agenda deve ser organizada. Tarefas com prazos muito longos, por exemplo, precisam ser divididas em metas para o aluno não se perder”, avalia.

Prevenção
O ditado popular não engana: mais vale prevenir do que remediar. Com esse intuito, o psicólogo Pedro Rosário criou o projeto Sarilhos do Amarelo: promoção da autorregulação em crianças sub10, o irmão mais novo de uma série de ferramentas educativas desenvolvidas pela equipe de investigação em autorregulação da Universidade do Minho em parceria com professores da Universidade de Oviedo, em Portugal.

A ideia é promover competências de autonomia e autorregulação da aprendizagem o mais cedo possível para ajudar as crianças a driblar, ou até mesmo evitar, a procrastinação e capitanear o aprender. “A autorregulação permite que o estudante desempenhe um papel ativo na aprendizagem, pesquisando, questionando, lendo, resolvendo problemas. Ou seja, indo além dos conteúdos concretos relativos às disciplinas”, esclarece Rosário.

O projeto está ancorado na história das sete cores do arco-íris e dos demais seres que habitam o Bosque-sem-Fim. Certo dia, o Amarelo desaparece e seus irmãos saem em uma aventura em busca da cor. A história é escrita de forma que os professores possam trabalhar estratégias de aprendizagem com as crianças, como estabelecimento de objetivos, organização do tempo, trabalho em grupo, monitoramento das tarefas, tomada de decisões e avaliação dos processos.

Em determinado momento da jornada, por exemplo, as cores do arco-íris encontram a Formiga-General, que introduz o conceito PLEA (Planejamento, Execução e Avaliação). Ali, aprendem que para encontrar a cor desaparecida elas teriam primeiro que planejar suas ações, distribuir o tempo total pelas tarefas, monitorar a execução do plano e, por fim, avaliar se cumpriram seus objetivos a cada etapa concluída.

É importante lembrar que mesmo as crianças autorreguladoras não devem ser deixadas sozinhas no processo de ensino-aprendizagem. Pelo contrário, elas também devem buscar e encontrar o apoio necessário para alcançarem satisfatoriamente seus objetivos, de modo que o trabalho desenvolvido pelo projeto Sarilhos do Amarelo seja articulado não só pelos educadores, mas também pelas famílias.

O projeto foi publicado no Brasil com o título As travessuras do Amarelo, pela editora Adonis. Além do livro direcionado para as crianças, os autores colocaram à disposição de professores e pais um guia com orientações no site http://www.portoeditora.pt/pdf/CPGL_SA_96999_10N.pdf.

Autor

Deborah Ouchana


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