Criados na década de 1990, cursinhos pré-vestibular de caráter comunitário apontam um caminho para os jovens que não podem pagar por um reforço para chegar à universidade
Publicado em 30/03/2012
Sala lotada, apostilas e cadernos em cima das carteiras; o professor frente à lousa, microfone em mãos, pronto para começar a aula show. Entre uma explicação e outra, histórias e piadas são um artifício para prender a atenção dos alunos e acalmar os ânimos daqueles mais tensos com a chegada do vestibular. A cena descrita já é conhecida pelos jovens de classe média e alta que buscam nos cursinhos tradicionais reforço para conseguir uma vaga na universidade. O que muitos não sabem é que os cursinhos pré-vestibular não são exclusividade daqueles que podem pagar uma mensalidade que, muitas vezes, chega a passar de R$ 1.000.
Entre o final da década de 1990 e meados dos anos 2000, houve um aumento expressivo dos chamados cursinhos populares, que existem até hoje como uma alternativa para os estudantes sem condições de pagar um cursinho tradicional. Segundo Cloves Alexandre de Castro, doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP) e autor da tese “Cursinhos alternativos e populares: movimentos territoriais de luta pelo acesso ao ensino público superior no Brasil”, o fenômeno se justificava pela ausência de um debate forte sobre a democratização do acesso ao ensino superior. “A partir de 2005, ano de criação do ProUni, podemos falar em certa acomodação. Apesar de algumas políticas terem trazido facilidades de entrada na universidade, os cursinhos populares não deixaram de crescer”, afirma.
Segundo dados do Censo da Educação Superior de 2010, o número de matrículas nos cursos de graduação passou de 3 milhões, em 2001, para 6,38 milhões em 2010. Como apontou Cloves, um dos motivos para o aumento foi a criação de políticas como o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e o Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, a democratização do acesso à educação básica estimulou a busca pela universidade. “Há 20 anos, era requisito ter o ensino médio; hoje, é a faculdade”, comenta.
A chegada das classes C e D ao ensino superior fortalece a necessidade e importância dos cursinhos populares. Gratuitos ou com mensalidades abaixo da média do mercado, professores voluntários ou remunerados, com material didático próprio ou terceirizado, os cursinhos apresentam características diferentes, mas encontram um ponto em comum em seu objetivo. Conscientes da condição desigual em que se dará a competição pelas vagas, as entidades buscam extrapolar o mero preparo para as provas de seleção e apostam na educação para a cidadania, visando à inclusão dos mais pobres no sistema educacional. Na maioria dos casos, a origem dos cursinhos populares se dá em dois grupos: uns tem suas raízes na militância política, outros, nasceram vinculados a universidades.
Conheça experiências de cursinhos populares com diferentes perfis.