NOTÍCIA

Políticas Públicas

Autor

Redacao

Publicado em 10/09/2011

Um longo caminho pela frente

Resultados do Pisa mostram evolução do Brasil. Ao mesmo tempo, apontam que ainda há muito que fazer

A metáfora do copo que está meio cheio ou meio vazio se aplica perfeitamente às análises dos resultados dos estudantes brasileiros no Programa de Avaliação Internacional de Alunos (Pisa). Por um lado, o Brasil está entre os que alcançaram a maior evolução entre 2000 e 2009. Por outro, continua entre os piores considerando os 65 países que participam do exame. Demos alguns passos, mas a caminhada ainda é muito longa.

A prova é aplicada a cada três anos pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos de idade em matemática, leitura e ciências.  Considerando a média das três disciplinas, o Brasil ficou em 54° lugar, com 401 pontos – 95 a menos do que o  atingido pelos países-membros da organização. Na avaliação do professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Romualdo Portela, as duas análises são relevantes “para compor o quadro”. “Melhoramos, mas ainda estamos muito mal”, simplifica.

O desempenho mais incipiente foi em matemática – o país é o nono pior do Pisa, com 386 pontos. Ainda assim, foi nessa disciplina que se verificou o maior crescimento entre 2000 e 2009: 52 pontos a mais, em 500 possíveis. Em leitura e ciências o Brasil ficou com o 53º lugar do ranking.

Analisando a participação desde 2000, o país está entre os três com maior evolução no período. A média subiu 33 pontos. Perdeu apenas para Luxemburgo (mais 38 pontos) e Chile (mais 37 pontos) – o melhor sul-americano entre os participantes, com média  439.

“Estamos aumentando a preocupação com essas testagens e isso, por si só, já nos leva a melhorar, pois há mais dedicação na preparação de estudantes para testes, em focar mais os conteúdos. Também temos registrado uma melhora constante em nosso desempenho em matemática, aferido nas provas nacionais. Isso pode estar se refletindo no Pisa”, avalia Portela.

Para o Ministério da Educação (MEC), a melhora da proficiência dos alunos brasileiros com os números tem nome: Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Criada em 2005, a competição já conta com a participação de 19,5 milhões de alunos. Segundo o MEC, já há estudos que apontam os impactos positivos do concurso na aprendizagem.

Corrigindo as distorções
Para Ruben Klein, especialista em avaliação educacional e consultor da Fundação Cesgranrio, esse resultado já era esperado pela melhoria da correção de fluxo que o país viveu nos últimos anos. “Bem ou mal, estamos fazendo progressos”, resume. O Pisa, ao contrário dos exames nacionais, é aplicado a uma faixa etária e não a alunos de uma série específica. As altas taxas de reprovação têm impacto grande no desempenho do Brasil, já que muitos dos que participam estão atrasados nos estudos.

“Hoje temos mais jovens nessa faixa etária estudando. Os que permaneceram na escola avançaram. O fluxo melhorou em relação à década de 90, então temos menos gente de 15 anos no ensino fundamental e mais no ensino médio. A idade correta muda a ponderação. Há um ganho porque há mais alunos bons fazendo a prova”, explica Klein.

Em termos regionais, a prova reafirma o abismo educacional que existe no país. Os alunos do Distrito Federal tiveram o melhor desempenho no exame: média de 439 pontos, mesmo patamar atingido pelo Chile. No final da fila, ficaram Alagoas e Maranhão, com média 354 e 355, respectivamente. Isso significa que a proficiência dos estudantes desses estados é semelhante à daqueles do Panamá, Peru e Azerbaijão. Os maranhenses tiveram o pior resultado em matemática, comparado ao do Quirguistão – um dos países mais pobres da Ásia Central e último no ranking do Pisa.
 
Longo caminho
Assim como fez com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Ministério da Educação (MEC) estabeleceu metas de melhorias no Pisa. Até 2021, o objetivo é atingir 473 pontos, média dos países-membros da OCDE atualmente. Klein ressalta que a evolução não será imediata e que o Brasil ainda tem um “longo caminho” a percorrer. “Em educação não há milagre, não há como mudar a situação do dia para a noite, por isso continuamos no final. Vai levar uns 10 ou 15 anos para chegar à média da OCDE.”

Em 2009, os países-membros da organização não registraram crescimento no Pisa – em alguns casos houve queda, como no Reino Unido.  Para alguns sistemas de ensino que durante toda a década ocuparam as primeiras posições do Pisa, a tendência é que o desempenho se mantenha nas próximas edições. “Em primeiro lugar, é mais difícil crescer quando se atingiu um patamar alto do que quando se está mal. Em segundo lugar, manter-se bem exige cuidado constante”, aponta Portela.

 Mas ainda há espaço para crescimento em alguns países, como Estados Unidos, avalia Klein. É difícil prever se quando o Brasil chegar ao patamar estabelecido para 2021 os países da OCDE terão ou não avançado e deixado os alunos brasileiros para trás.

“Se verificarmos em 2011 uma melhora nos resultados dos alunos da 8ª série na Prova Brasil, já podemos esperar um ganho real no Pisa em 2012”, aponta Klein. Para chegarmos às metas estabelecidas, ele aposta na melhoria do fluxo com a redução das taxas de repetência e evasão para ter mais alunos “elegíveis” para o Pisa.

“As providências em educação demoram a ter resultado. Um aluno que começa hoje o ensino fundamental vai terminar em 12 anos na melhor das hipóteses. Ou seja, uma melhora efetiva no fluxo vai se refletir daqui a 10 ou 12 anos”, aponta. 

Os compromissos estabelecidos no próximo Plano Nacional de Educação (PNE), que valerão para os próximos dez anos, serão determinantes para o país chegar ou não às metas estipuladas, avalia Portela. “O Brasil precisa aproveitar os diagnósticos apontados pelo Pisa da mesma forma como devemos utilizar os resultados das testagens nacionais: tornando-as mais compreensíveis para professores e a população em geral, transformando-as em instrumentos úteis para as práticas de cada escola”, indica. 

O Brasil avança…

Leitura
Matematica
Ciências
2009
412
386
405
2006
393
370
390
2003
403
356
390
2000
396
334
375

…mas continua atrás

Ranking do desempenho dos alunos em leitura em 2009
1° Xangai (China) 556 pontos
2° Coreia 519 pontos
3° Finlândia 536 pontos
Média dos países da OCDE 493 pontos
53° Brasil 412 pontos
64° Azerbaijão 362 pontos
65° Quirquistão 314 pontos
Ranking do desempenho dos alunos em matemática em 2009
1° Xangai (China)* 600 pontos
2° Cingapura 562 pontos
3° Hong Kong (China)* 555 pontos
Média dos países da OCDE 495 pontos
57° Brasil 386 pontos
64° Panamá 360 pontos
65° Quirquistão 331 pontos
Ranking do desempenho dos alunos em ciências em 2009
1° Xangai (China)* 556 pontos
2° Coreia 539 pontos
3° Finlândia 536 pontos
Média dos países da OCDE 500 pontos
53° Brasil 412 pontos
64° Azerbaijão 362 pontos
65° Quirquistão 314 pontos
*Por serem províncias autônomas, Xangai e Hong Kong participam de forma independente do país no Pisa


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