NOTÍCIA
Temas ligados ao desenvolvimento infantil, diversidade, ludicidade, participação da comunidade escolar e práticas pedagógicas têm presença marginal ou nula na cobertura, segundo pesquisa
A Fundação Bracell, focada em educação infantil, lança Análise de mídia sobre educação infantil, pesquisa realizada pela ANDI – Comunicação e Direitos, com o apoio técnico do Jeduca – Associação de Jornalistas de Educação. Foram monitorados 16 jornais e três portais de notícias, totalizando 19 veículos.
Os jornais foram agregados em dois grupos, o primeiro formado por periódicos que repercutem o cenário nacional; o segundo, por aqueles mais voltados à realidade local/regional, sendo pelo menos dois por região. Em todos os casos foram consideradas as edições online, disponibilizadas nos sites de cada veículo, para a captura de notícias.
A partir da análise de 5.116 notícias publicadas entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, em cinco jornais de alcance nacional, 10 jornais com repercussão regional/local e três portais de notícia, a pesquisa traça um panorama dos principais temas, abordagens e fontes ouvidas, entre outros aspectos, dessa cobertura.
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O retrato delineado pela Análise é o de uma cobertura que direciona o olhar para a educação infantil, com ênfase nos veículos regionais e locais, mas que, ao mesmo tempo, se guia por episódios não diretamente relacionados às questões da educação — como é o caso dos ataques violentos contra instituições escolares.
Além disso, questões relacionadas ao acesso e à infraestrutura têm destaque na cobertura, especialmente nos veículos regionais/locais, o que é uma indicação de quais são os temas que mobilizam as famílias e a sociedade em geral.
Das pesquisas na neurociência que revelam que as conexões neurais até os seis anos alcançam velocidade inigualável em outras fases da vida, aos estudos liderados por James Heckman, sabe-se dos impactos positivos das iniciativas e ações voltadas para a promoção do desenvolvimento das crianças pequenas — especialmente aquelas em condições de vulnerabilidade — e para a sociedade.
Nesse sentido, os temas ligados ao desenvolvimento infantil, diversidade, ludicidade, participação da comunidade escolar e práticas pedagógicas têm presença marginal ou nula na cobertura: a ausência quase total de temas como “brincar” (0,2%) e “questão de gênero” (0%) reforça a indicação de um olhar pouco atento dos veículos a pautas que poderiam contribuir para disseminar na sociedade conceitos e temas relacionados às infâncias e aos direitos da criança.
“Ainda é preciso apontar os desafios do acesso, mas é necessário também divulgar amplamente a importância da educação infantil de qualidade para o desenvolvimento humano e econômico”, afirma Eduardo Queiroz, presidente da Fundação Bracell (Foto: Shutterstock)
Para Eduardo Queiroz, presidente da Fundação Bracell, a educação infantil não é uma pauta prioritária no país e o papel da cobertura jornalística é fundamental para mudar essa realidade. “Ainda é preciso apontar os desafios do acesso, mas é necessário também divulgar amplamente a importância da educação infantil de qualidade para o desenvolvimento humano e econômico.”
Para Miriam Pragita, diretora-executiva da ANDI, “o jornalismo é fundamental para dar visibilidade aos desafios e avanços desse campo, mas nossa análise mostra que ainda há um longo caminho para ampliar o espaço dedicado à qualidade da oferta e ao direito das crianças à educação. Para além do acesso, é preciso qualificar a narrativa pública sobre o que faz uma educação infantil de qualidade — e isso passa por ouvir com mais frequência professores, especialistas e famílias”.
O resultado não surpreende porque os veículos analisados são de interesse geral e não há jornalistas disponíveis nas redações para a produção de material que poderia ressaltar os temas importantes para o setor. Essa diminuição de espaço atingiu todas as áreas no jornalismo.
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