Boa gestão é um fator fundamental para uma educação de qualidade. Contudo, tão grande quanto a importância do(a) diretor(a) escolar é a lista de desafios que fazem parte do dia a dia do cargo, que inclui limitação de recursos, conciliação de diferentes demandas, necessidade de se adaptar a um mundo que se transforma cada vez mais rápido e a busca por superar barreiras para aproximar as famílias da escola. No meio disso tudo, há um ponto que é ao mesmo tempo um desafio e uma forma de exercer uma boa liderança: o exercício do olhar humano e para o humano.

“Nós lidamos muito com as relações. Temos contato com todas as pessoas que estão dentro da escola, desde a criança ao porteiro. Então, nós também precisamos entender de pessoas, sermos pessoas justas, solidárias, que sabem ouvir”, reflete Cícera Martins, diretora da Escola Poço de Jacó, instituição filantrópica localizada em Juazeiro do Norte, CE, e mantida pela A.I.J.F (Associação Instrutora da Juventude Feminina).

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Para Cícera, que foi professora por cerca de 20 anos e há 12 atua como diretora da Poço de Jacó, é preciso que as especializações em gestão abordem também esse aspecto humano da direção escolar. E ressalta: hoje, a função desse profissional vai muito além do administrativo e do burocrático; é preciso ter envolvimento com a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes.

Pensando, sobretudo, na realidade em que vive, dirigindo uma instituição de educação infantil que atende crianças em situação de vulnerabilidade social, ela avalia que o diretor se torna um agente fundamental na promoção do desenvolvimento dos alunos. “A gente lida também com o cuidar, o acolher e o garantir a essas crianças um espaço de desenvolvimento que tenha afeto, que passe segurança para elas.”

Proximidade com as famílias

Segundo João Almeida, consultor da Academia Líderes de Educação (iniciativa da revista Educação) e diretor da Escola Estadual Sérgio Estanislau de Camargo, na zona leste de São Paulo, um grande desafio da gestão, no caso específico da rede pública, é de ordem financeira — ou seja, a limitação de acesso a recursos e materiais. “Por exemplo: quebrou um muro da escola, você não tem como consertar; ou tem um entupimento; não tem como dar conta de ter computador para todos os estudantes fazerem as atividades”, enumera.

Ele também avalia que, para escolas localizadas na periferia, a vulnerabilidade também é um desafio. Além do estabelecimento de uma proximidade com as famílias. “[É um desafio] fazer com que os alunos frequentem a escola e que não só frequentem, mas que participem, sejam responsáveis pela aprendizagem. E fazer com que as famílias participem. É bastante desafiador você ter a família ao seu lado”, afirma.

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Para promover essa aproximação, o caminho é um velho conhecido: o diálogo. “É estar no portão na entrada, na saída. É ir à padaria do bairro, aqui perto da escola, e cumprimentar um, cumprimentar outro”, exemplifica. “As pessoas às vezes veem a direção da escola, o diretor, como alguém inacessível”, reflete. Por isso, o gestor tenta passar para as famílias justamente o oposto.

João cita que, nos dias de reunião, tem conversado com os pais no pátio — antes que eles se encaminhem para falar com os professores. Nessa oportunidade, divide o que está acontecendo na instituição. Para ele, essa prática tem aproximado a comunidade da escola. “Isso vai fazendo com que os pais entendam que a escola é da comunidade. É isso que eu falo sempre para eles: a escola é de vocês; eu estou passando por aqui, a escola vai ficar”, afirma o diretor.

Além dos muros

A diretora Cícera também cita o olhar para as famílias como algo fundamental. Sobretudo num contexto de vulnerabilidade social. No caso da escola que dirige, ela afirma que há uma preocupação em identificar, por exemplo, famílias que possam estar passando fome, vivendo situações de desemprego ou de violência doméstica.

Nesses casos, ela e a assistente social visitam as famílias e, a partir daí, diferentes ações podem ser realizadas. Isso inclui encaminhamentos para consultas com psicólogos, arrecadação de roupas e alimentos, além de oferecimento de cursos na própria instituição de ensino (como artesanato, costura e culinária). Tais práticas são importantes, segundo a diretora, para inserir a família na escola e para que a criança fique bem não apenas durante o período das aulas, mas também quando volta para casa.

Gestão escolar e a possibilidade de fazer a diferença

Se a gestão traz desafios, traz também oportunidades. No Ceará, a diretora Cícera Martins conta que conseguiu colocar em prática, no ano passado, um sonho de muito tempo: restaurar o lago localizado na escola. O projeto tornou-se realidade por meio de doações e do envolvimento da comunidade. “Teve um impacto muito grande no espaço físico da escola e também na consciência e na vida das pessoas que fazem parte aqui do Poço de Jacó”, diz.

Já em São Paulo, o diretor João Almeida conta que uma das ações que têm impactado a escola é um projeto de educação antirracista — que ele tem como bandeira. O diretor oferece formações sobre o tema para os professores. E isso reflete para os estudantes: no ano passado, a escola teve uma feira cultural com a temática ‘cultura e identidade’. “Os alunos se interessaram, os pais vieram. Teve dança, música, apresentação artística de desenhos e esculturas, e muita história”, lembra o gestor.

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