NOTÍCIA

Olhar pedagógico

Autor

Redação revista Educação

Publicado em 28/04/2025

Como a neurociência vem transformando a educação?

Essa ciência ajuda a repensar práticas pedagógicas e abre caminho para uma educação mais inclusiva e eficaz

Por Patrícia Giuffrida da revista Educação | Nos últimos 50 anos, a neurociência avançou a passos largos. O que começou como uma investigação básica do funcionamento cerebral ganhou corpo e passou a dialogar com o universo educacional. Hoje, já é possível aplicar esse conhecimento de forma prática em escolas, impactando diretamente gestores(as), professores(as) e estudantes.

Essa relação entre cérebro e educação vem sendo aprofundada por especialistas como Carla Tieppo, neurocientista, doutora em neurofarmacologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). Ela é também professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Singularity University.

 

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Agenda Bett

A neurocientista Carla Tieppo palestrará na Bett Brasil 2025*. Seu painel Da história às promessas: como a neurociência vem transformando a educação? será em 28 de abril, das 17h às 18h, na plenária, térreo.

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Em seu painel durante a Bett, Tieppo refletirá o que já se consolidou e o que ainda está por vir no campo da neurociência. “O impacto mais fácil de ser notado tem muito a ver com a inclusão e a percepção dos elementos funcionais de cérebros quando estão diante de quadros de desenvolvimento atípico”, explica Tieppo.

neurociência Carla Tieppo

Carla Tieppo é uma das palestrantes da Bett 2025. Ela falará sobre neurociência e educação (Foto: divulgação)

Segundo ela, o conhecimento sobre o cérebro tem ajudado a desenvolver estratégias eficazes para apoiar o aprendizado de crianças com transtornos do espectro autista (TEA), transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e deficiências motoras ou sensoriais.

Mas os benefícios da neurociência não se restringem aos estudantes com necessidades específicas. A pesquisadora destaca: “Nos últimos 15 anos, a neurociência começa a ter uma aplicação mais direta no processo de aprendizado para qualquer pessoa, independentemente se ela tem um desenvolvimento típico ou atípico”. E completa: “Conhecer sobre o funcionamento do cérebro dos seres humanos gera aplicações diretas sobre as práticas educacionais.”

A intencionalidade pedagógica

Carla Tieppo explica que, à medida que os educadores compreendem como o cérebro aprende, suas práticas pedagógicas se tornam mais intencionais.

“Os professores podem mudar sua intencionalidade na hora de apresentar os conteúdos a seus alunos, aplicando a neurociência na compreensão das etapas que precisam ser vividas por eles, para que o conhecimento não só seja recebido de forma cognitiva, mas também que modifique a forma como cada estudante lida com problemas”, afirma.

Nesse contexto, a memória ganha um novo significado. Longe de ser um processo mecânico ou uma simples ‘decoreba’, ela é compreendida, pela neurociência, como a base para a construção de novos circuitos cerebrais. Sua manutenção ao longo do tempo é o que torna possível alterar a forma como um indivíduo pensa e age.

Obter e usar uma memória, segundo a especialista, é justamente transformar o mundo por meio das próprias ações, modificando a relação consigo mesmo e com o entorno a partir do conhecimento adquirido.

Um exemplo de aplicação direta da neurociência na educação está no processo de alfabetização. Segundo Tieppo, o método fônico — que foca na relação entre os sons da fala (fonemas) e as letras (grafemas) — ganhou força por sua base neurocientífica, especialmente ao demonstrar como o cérebro compreende, processa e integra a linguagem falada e escrita.

Essa abordagem se mostrou eficaz na construção da relação entre fonema e expressão linguística, favorecendo a aprendizagem da leitura e da escrita a partir do funcionamento cerebral.

O desenvolvimento socioemocional

Outro campo em que a neurociência tem contribuído de forma significativa é no desenvolvimento socioemocional. Tieppo afirma que a compreensão sobre como o cérebro aprende novos comportamentos permite criar metodologias que favoreçam o desenvolvimento dessas habilidades. Para a neurocientista, essas descobertas não apenas impactam a saúde cerebral de maneira geral, como também reforçam o papel da educação na formação de pessoas mais equilibradas e preparadas para viver em sociedade.

Ela também chama a atenção para um aspecto essencial no desenvolvimento humano: o cérebro social. De acordo com a neurocientista, as relações interpessoais exercem grande influência na formação cerebral, sobretudo durante a puberdade e a adolescência — fases marcadas por intensas transformações cognitivas e emocionais.

Para a especialista, a educação tem papel fundamental nesse processo, ao estimular a curiosidade e fortalecer o desejo de crescimento individual e coletivo. “Quero colocar a educação como o principal instrumento para manter o desejo humano de se desenvolver pessoalmente, acreditar no seu papel do ponto de vista social e também no da expansão da espécie com uma outra forma de se relacionar com o planeta”, prevê ela.

Cuidado com os ‘neuromitos’

Apesar do entusiasmo com as possibilidades da neurociência, Tieppo faz um alerta sobre a disseminação de conceitos distorcidos. “Nos últimos anos, houve o surgimento de escolas, especializações e grupos que, infelizmente, não têm a robustez do conhecimento necessário. Os ‘neuromitos’ em educação são assustadores.” A pesquisadora faz uma alusão ao termo utilizado para as interpretações equivocadas e afirmações errôneas a respeito da ciência do cérebro.

Para os educadores interessados em se aprofundar na área, ela recomenda começar com boas literaturas especializadas. Inclusive, ela acaba de lançar seu livro: De prô pra prô: estratégias didáticas baseadas em neurociência (ed. Conectomus). Como o próprio nome sugere, a obra é um guia de estratégias práticas e acessíveis, escrito por professores para professores, que busca integrar os conhecimentos da neurociência à prática pedagógica.

Além do livro, Tieppo indica cursos de extensão ou especialização, como o da Santa Casa de São Paulo. “É muito importante uma formação robusta, porque se o conhecimento não for bem estruturado, é melhor o educador nem se arriscar nessa área.”

 

Bett Brasil

*A Bett Brasil é um dos maiores eventos de inovação e tecnologia para a educação da América Latina. Em 2025, acontece de 28 de abril a 1º de maio, no Expo Center Norte, SP. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.

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