Mestre em letras e consultora de gestão de projetos educacionais para redes públicas e privadas de ensino
Publicado em 24/04/2025
A questão central não é apenas ‘o que’ mudar, mas ‘como’ mudar
O início do ano letivo é sempre um momento de expectativas, planejamento e, sobretudo, esperança. Em 2025, esse recomeço traz um desafio adicional: milhares de novas gestões municipais assumem Secretarias de Educação em todo o país, trazendo consigo promessas, planos e a necessidade de adaptação. O grande desafio é garantir que essa transição fortaleça a aprendizagem e não se torne mais um obstáculo no percurso educacional dos estudantes.
A gestão escolar pública, especialmente em tempos de mudança política, precisa equilibrar continuidade e inovação. Há um risco real quando novas lideranças chegam impondo suas ideias sem considerar o que já existe. Les Foltos, diretor de inovação educacional da Peer-Ed e idealizador de um programa que capacita professores líderes a auxiliarem seus colegas na integração da tecnologia às atividades em sala de aula do século 21, nos traz uma reflexão importante: “Líderes que assumem o papel de especialistas correm o risco de convencer os professores de que suas práticas estão falidas ou precisam ser corrigidas. Esse seria o primeiro passo claro para destruir a confiança e a colaboração”.
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O impacto dessa abordagem pode ser devastador. Professores desmotivados, diretores sobrecarregados e uma sensação coletiva de que tudo precisa ser refeito — ainda que muita coisa já estivesse funcionando. É preciso lembrar que cada escola tem um histórico, uma cultura e um conjunto de práticas exitosas construídas ao longo do tempo. A questão central, então, não é apenas o que mudar, mas como mudar.
A resposta passa, necessariamente, pela construção de uma cultura de colaboração. Redes públicas que conseguem bons resultados são aquelas que fortalecem a gestão democrática e reconhecem os professores como agentes ativos da transformação. Isso significa, por exemplo, investir em formação continuada não como um mecanismo de correção, mas como um espaço de troca e valorização das experiências que já existem nas escolas.
O início de um novo ciclo é sempre uma oportunidade. Para as novas Secretarias de Educação, há a chance de demonstrar que a política educacional pode ser construída com diálogo, continuidade e respeito ao que já foi feito. Para as escolas, há a possibilidade de reafirmar seu papel como espaços de inovação e resistência. E para os estudantes, há a esperança de que, independentemente de quem governa, seu direito de aprender será sempre prioridade.
A gestão escolar pública, especialmente em tempos de mudança política, precisa equilibrar continuidade e inovação (Foto: Shutterstock)
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