NOTÍCIA
Assim são os momentos em que se contam histórias em sala de aula na visão da autora Gilka Girardello
Publicado em 04/07/2014
Ilustração de Hannah Shaw para o livro Ghaddar, o demônio e outros contos palestinos |
Quando os alunos se reúnem em volta do professor para ouvir uma história, tem-se uma situação parecida com a de uma clareira no bosque, um lugar de encontro e de luz, segundo a contadora de histórias e especialista no tema Gilka Girardello. A imagem está descrita no recém-publicado Uma clareira no bosque: contar histórias na escola, onde a autora, que também é professora do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFCS), fala do gosto e da necessidade de ler e contar histórias para crianças, principalmente nas salas de aula.
Trata-se de uma obra enxuta, indicada aos professores, e que traz uma série de técnicas para melhorar a atividade: há conselhos mais simples, como ler o texto em voz alta diversas vezes para que a voz se familiarize com os sons, com a pontuação e com a sequência precisa das palavras, e outros que só poderiam ser dados por quem há anos trabalha com isso. É o caso da necessidade de trazer para a sala de aula aquele tempo lento que a criança vivencia – e também o professor – quando está livre, sem nada para fazer. Segundo a autora, esse tempo ‘especial’ – o oposto daquele do dia a dia, com prazos e correria para cumprir as tarefas –, é necessário para que a imaginação flua e, consequentemente, a narração se transforme em um momento prazeroso. E com a imaginação mais solta, também ficará mais fácil para os professores recriarem mentalmente as cenas descritas nas histórias e fazê-las transcender do papel, diz a especialista.
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Além de apresentar alguns dos recursos que ensina em suas oficinas de contação de histórias, Gilka também acrescentou ao livro descrições de experiências vivenciadas em escolas, incluindo algumas em que os alunos assumiram o papel de narrador.
Como o leitor não encontrará histórias para contar aos alunos, um bom complemento para esse trabalho é a obra Ghaddar, o demônio e outros contos palestinos, de Sonia Nimr. A autora nasceu em Jenin, na Palestina, e é uma especialista em história oral – o gênero das narrativas recolhidas e recontadas por ela nessa obra. São nove contos folclóricos, repletos de demônios indomáveis, bichos dotados de poderes mágicos e humanos incansáveis, os mesmos personagens que habitaram sua imaginação quando criança.
Como destaca a escritora Ghada Karmi, que assina a introdução do livro, nos países árabes contar histórias é uma atividade cotidiana e não era incomum, há até algumas décadas, a existência de contadores oficiais de histórias nos vilarejos e pequenas cidades. Estes reunidos por Sonia possivelmente já foram contados e recontados milhares de vezes e não sem motivo chegaram aos dias de hoje para entreter mais uma vez aqueles que se prestarem a sua leitura ou a escutá-los.
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Reúne textos que evidenciam a diversidade de olhares e interpretações produzidos por sociólogos brasileiros e estrangeiros sobre as mudanças sociais no mundo rural do Nordeste, a expansão do agrobusiness, entre outros temas da ruralidade contemporânea, como define o organizador.
Raízes errantes, de Mauro Maldonato (Edições Sesc SP, 168 págs., R$ 40)
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Ciências da educação, de Gaston Mialaret (WMF Martins Fontes, 286 págs., R$49,80)
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