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O novo negócio da educação

Jovens empreendedores apostam em tecnologia e aprendizado e não se arrependem: o setor fatura milhões ao redor do mundo. Mas, por não entenderem o cotidiano escolar, também cometem erros

Publicado em 07/01/2014

por Juliana Duarte

iStockphoto
Os aplicativos fazem com que, na prática, o aluno estude, mesmo fora da escola

A aula de física acaba, mas Victor Siqueira Chaim, de 16 anos, quer mais. A vontade de aprender não fica só na escola. A caminho de casa, ele decide usar o celular para testar seus conhecimentos, tirar dúvidas e buscar informações. A ferramenta escolhida é o aplicativo Só Física, que disponibiliza exercícios, biografias e jogos on-line, tudo relacionado à disciplina. “Gosto muito desses programas, pois descubro coisas novas sem perceber que estou estudando e de uma forma bem próxima da minha realidade”, diz. Esse nicho foi descoberto há pouco mais de dois anos por diversas start ups brasileiras, nome dado a empresas jovens, com ideias inovadoras e um modelo de negócio rentável. De olho nesse mercado, elas decidiram apostar em produtos e soluções que integram tecnologia e educação. “Encurtar o caminho entre as duas áreas é uma maneira leve e divertida de estimular o aprendizado”, afirma Samir Iásbeck de Oliveira, fundador e presidente executivo do aplicativo Qranio, um jogo virtual de perguntas e respostas sobre temas variados.

Só no site
> Veja como nasceu a ideia de abrir algumas start ups em educação

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Tendência mundial

O aluno pode encontrar uma infinidade de sites e aplicativos voltados ao ensino. As plataformas que oferecem aulas virtuais estão entre as mais procuradas. Um bom exemplo é o site Descomplica, que disponibiliza conteúdo, monitorias on-line e correção de redações para estudantes que prestarão Enem e vestibular. Lançada em março de 2011, a iniciativa já conta com um milhão de usuários. “Já demos uma aula para mais de 115 mil estudantes ao mesmo tempo”, afirma Marco Fisbhen, CEO e fundador do Descomplica.

Livros e softwares em 3D, games educativos, organizadores de tarefas e redes sociais também aparecem na lista de preferência dos estudantes. Essas ferramentas fazem parte de uma tendência mundial, que já está consolidada em diversos países, principalmente nos Estados Unidos. O mercado norte americano batizou a área de atua­ção de EdTech e investe milhões em iniciativas  que buscam contribuir para a melhoria do ensino e, ao mesmo tempo, gerar renda aos empresários que decidiram apostar na ideia. Recentemente, a start up americana Panorama Education, especializada em pesquisas sobre ensino médio e fundamental, recebeu US$ 4 milhões de um grupo de investidores, entre eles estava ninguém menos do que Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.

Investidores internacionais
No Brasil, o cenário é promissor e está em plena expansão. Segundo a StartupBase, associação que reúne dados sobre o setor, existem 2.429 start ups em atuação no país em diferentes áreas. O estado de São Paulo concentra a maioria delas (610), seguido por Minas Gerais (com 190) e Rio de Janeiro (169). As empresas focadas em educação representam 11% do total – e a expectativa é que esse número aumente nos próximos anos. “A adesão a essas plataformas costuma ser muito grande. Os alunos são nativos digitais, por isso é natural que eles assimilem melhor qualquer informação que esteja nesse universo”, diz Paulo Fontes, professor de informática do Colégio Albert Sabin, de São Paulo (SP). Fundos de investidores nacionais e internacionais já perceberam essa tendência no mercado brasileiro e estão decididos a colocar dinheiro em produtos relacionados à educação.

Em fevereiro de 2013, por exemplo, o portal Easyaula, que oferece cursos presenciais e on-line de preparação para o mercado de trabalho, recebeu um investimento da Macmillan Digital Education, multinacional focada em educação digital. Em agosto, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação anunciou as empresas escolhidas para integrar o programa Start Up Brasil, uma iniciativa do governo federal para apoiar projetos com base tecnológica de diferentes
áreas. Cerca de 20% das companhias aprovadas são do setor de tecnologia aplicada à educação.

“As start ups conseguem perceber rapidamente as demandas atua­is e oferecer soluções para elas, esse é o diferencial e o que tem atraído a atenção dos investidores. Essas plataformas são bastante versáteis e inovadoras”, diz Carlos Querido, responsável pelo uso de ferramentas tecnológicas e professor de aula de eletiva sobre Informática no Colégio Nossa Senhora do Morumbi, de São Paulo (SP).

Basta um celular
A facilidade de acesso é um dos principais atrativos dos produtos tecnológicos – basta ter um smart- phone para poder baixar o aplicativo que se desejar. “O aluno pode assimilar conteúdos variados em diferentes contextos, na academia ou a caminho da escola, e de um jeito personalizado, ou seja, ele só consumirá o que realmente é de seu interesse”, afirma Fisbhen.

Além da possibilidade de uso remoto, as novas ferramentas também passaram a ser utilizadas pelos professores em sala de aula. Muitas instituições de ensino começaram a enxergá-las como aliadas, pois têm linguagem compatível com as necessidades da Geração Z. “Durante séculos a lousa e o livro foram dominantes, agora temos outras opções. Essas ferramentas estão reinventando a educação”, explica Rodrigo Abrantes, professor de história e coordenador do Colégio Joana D’Arc, de São Paulo (SP).

Na opinião dele, as soluções disponíveis atualmente também contribuem para o desempenho dos docentes. “Hoje podemos fazer coisas que não éramos capazes de fazer. Com o Google Art Project, por exemplo, posso conduzir visitas a museus de todos os lugares do mundo. Também consigo usar recursos gratuitos para publicar meus materiais didáticos, bem como os trabalhos feitos pelos alunos”, afirma. Esses benefícios, no entanto, esbarram em uma questão: saber usar as ferramentas da maneira correta. “Se o educador não estiver preparado para trabalhar com o recurso, sua aula pode ser prejudicada. A escola deve instruir o corpo docente com cursos, workshops e palestras”, ressalta.

Outra questão a ser avaliada é ter sensibilidade para detectar o momento ideal de inserir algum recurso tecnológico na aula. “Aí cabe o bom-senso. Não adianta sair usando se não houver necessidade. As ferramentas só fazem sentido se potencializarem a aprendizagem e levarem o aluno a refletir, a solucionar problemas e a tomar decisões”, diz Suely Nercessian Corradini, coordenadora do Colégio Vital Brazil, de São Paulo (SP).

Deslizes
Antes de utilizar qualquer aplicativo ou site, a escola deve pesquisar como e por quem o conteúdo foi desenvolvido. “Essa questão pode ser problemática. Algumas start ups não vivenciam as condições em que o aprendizado ocorre. Em função disso, elas tendem a cometer erros fatais. O principal deles é querer atingir diretamente o aluno, sem passar pelo professor e pela escola”, alerta Abrantes.

Segundo ele, é imprescindível que a criação de uma ferramenta voltada ao ensino envolva educadores – no setor, esta é a chave para o sucesso. “A tecnologia não deve ser usada apenas como um chamariz. Ela tem de permitir que os alunos adquiram as competências desejadas para o seu aprendizado”, reforça Fontes, do Colégio Albert Sabin.

Na EvoBooks, start up que produz livros digitais e softwares educativos em 3D, essa preocupação é recorrente. “Sempre tivemos esse cuidado, pois queremos fazer a diferença na vida dos alunos. O conteúdo é elaborado por professores da Universidade de São Paulo (USP), atendendo às matrizes do Enem e da Prova Brasil”, diz Felipe Rezende, um dos fundadores da empresa.

O site Descomplica também investe na contratação de professores. “O time fundador e a direção de ensino recrutam educadores de todo o Brasil baseados em critérios acadêmicos e também na capacidade que os docentes têm para engajar grande quantidade de alunos”, afirma Fisbhen.

Barrar ou liberar?

Utilizar as ferramentas em sala de aula ainda é uma questão polêmica em algumas instituições, que barram a entrada de aparelhos eletrônicos e smartphones. “Para evitar esse tipo de problema, basta conhecer e testar as ferramentas antes de aplicá-las. É importante parar de lutar contra o uso de tablets e celulares e saber aproveitar todo o potencial que eles oferecem”, diz Marcelo Calazans, fundador da Neotrip, empresa que desenvolve formatos de aulas para escolas e universidades. No colégio Vital Brazil, o uso de instrumentos tecnológicos é recorrente, principalmente nas aulas de física. O professor Marcelo Barão utiliza simuladores on- line, aplicativos, vídeos e reportagens que estão disponíveis na web. “Acreditamos que esses recursos oferecem oportunidades de aprendizagem que não são proporcionadas por outras ferramentas. Vale lembrar, no entanto, que o contato com o professor é insubstituível”, comenta. Segundo ele, a resposta dos estudantes em sala de aula é sempre positiva. “É uma maneira de abranger mais o conteúdo sem ficar apenas nos livros”, comenta o aluno do 2º ano Victor Siqueira Chaim. O colégio Albert Sabin tem feito testes e estimulado o professor a usar novas ferramentas em sala. O GoAnimate, serviço on-line para a criação de animações em vídeo, movimenta as aulas de inglês. “Utilizamos o recurso com os alunos do 5º ano para aperfeiçoar a produção de diálogos, que podem ser digitados ou gravados em voz e depois reproduzidos por personagens animados”, afirma Fontes. A preocupação também está na grade do colégio Nossa Senhora do Morumbi, de São Paulo (SP). “Utilizamos diferentes aplicativos e conteúdos multimídia, principalmente para o enriquecimento e a contextualização do trabalho desenvolvido”, comenta o professor Carlos Querido.

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Juliana Duarte


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