Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)
Publicado em 09/12/2013
Centenas de educadores reunidos em Brasília dão voz a milhares de anônimos professores
Quando este texto for dado à estampa, talvez esteja a acontecer História em Brasília. Centenas de educadores se vão encontrar, para buscar rumos para os descaminhos da educação, denunciando, mas também anunciando, através do III Manifesto da educação brasileira. Pois, como clama o meu amigo Guga, o povo está cansado de discurso e urge interpretar as vozes que ecoam nas ruas, insistentemente reivindicando educação. Mas. qual educação?
Poderá melhorar, se apenas lhes destinarmos mais alguns royalties, ou a contemplarmos com um maior percentual do PIB? Poderá melhorar, se enfeitarmos obsoletas práticas com um cheirinho a novas tecnologias?
Centenas de educadores reunidos em Brasília dão voz a milhares de anônimos professores e são parte da componente saudável do sistema. De um sistema que, até agora, se mostrou incapaz de se aperceber do potencial humano de que dispõe. Incapaz de reconhecer a elevada qualidade de projetos, que mereceriam atenção e avaliação, mas que se mantêm ostracizados e, não raramente, são burocraticamente destruídos.
O Manifesto (disponível na internet) foi elaborado de forma colaborativa, ao longo de dois anos. É um documento inacabado, à espera de novos contributos, do aprofundamento da reflexão. A expressão transformar um país, contida no texto do Manifesto, poderá ser considerada pretensiosa. Mas deverei dizer que talvez se trate de mudar o mundo. É grande a força que tem a educação, como é grande a capacidade de mudar dos educadores brasileiros.
Fui conhecer alguns desses educadores no extremo Norte, onde o Brasil faz fronteira com a França (ainda que muitos brasileiros desconheçam este resquício colonial.), onde quase metade do território de Macunaima é pertença de comunidades indígenas e onde a universidade chegou há menos de um quarto de século. Encontrei professores, que buscam caminhos de inovação e sustentabilidade. Com eles partilhei o terceiro manifesto e aprendi outro Brasil, o mais distante de Brasília, um Brasil ao Norte do Equador. Mas não resisti a saber do Sul.
Liguei a televisão. A emissora local informava que, num município de Roraima, se reuniram titulares do poder público para procurar saber as razões de tão baixos índices de desenvolvimento. Outra emissora, esta de âmbito nacional, divulgava uma recomendação da OCDE: que o Brasil deverá aumentar a qualidade do ensino, para evitar o desemprego de jovens; corrigir a diferença entre o custo do Fundamental e o do Superior; aumentar o percentual do PIB para a educação.
É preciso que uma agência internacional aconselhe o óbvio? O custo aluno-ano na universidade é muitíssimo superior ao do ensino “inferior” e essa abismal diferença reflete a pouca importância dada à base do sistema. Porém, não basta disponibilizar mais recursos para a educação: outra educação é necessária. Aquela a que a minha amiga Luiza se refere, quando escreve: Faremos uma caminhada com estudantes e educadores, e entregaremos o Manifesto às autoridades locais, escolas e gente que faz a história acontecer. É nossa intenção estender o evento a pequeninos rincões mineiros. E a Luiza conclui: Para semear, basta o desejo e a esperança de que se prosperará. Gratidão por “combaterem o bom combate”, a favor da Educação de todos nós.
*José Pacheco é educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)