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Drummond, inédito

Cartas e poemas revelam traços do poeta

Publicado em 12/09/2012

por Redacao

Reprodução
Rua da Bahia, em Belo Horizonte (MG): região de locais frequentados por Drummond

A quem acredita ter lido o suficiente e aos que avaliam conhecer pouco a obra de Carlos Drummond de Andrade, dois volumes recém-lançados trazem pedaços da história do poeta registrados por meio de uma troca de cartas e uma coletânea de poemas nunca antes lançada.

Os 25 poemas da triste alegria, de 1924, que antecede sua primeira antologia publicada – a consagrada Alguma poesia, de 1930 – chega às mãos do leitor em exemplar fac-similar. Por isso, a edição entrega mais do que a reprodução dos “datiloscritos” originais. É possível saber as críticas feitas de próprio punho pelo Drummond de 1937 ao Drummond pré-modernista de 13 anos antes.

Se de um lado da página os versos do poema A mulher do elevador dizem “(…) Com que saudade inédita eu me lembro / da que não foi nem uma sombra / uma sombra fugaz, / no meu destino.”, no outro, o crítico de si mesmo afirma que “a ideia de uma mulher distante, que passou rapidamente por nossa vida e jamais será identificada é um fato banal
da vida sensível” e conclui: “Não dou nenhuma importância ao poema”.

Além das notas de Drummond sobre sua produção jovem, o livro apresenta os francos conselhos dados por Mário de Andrade em uma carta de 1926. “Podia ser um poema lindo. Parece que tem alguma coisa ou tem coisa demais. Talvez tenha demais o 5º verso [da que não foi nem uma sombra, nem uma sombra fugaz,]. A última frase ganha de fôlego de gato, oito versos! Arranje isso”, escreve o poeta paulista ao mineiro.

No conjunto, os poemas, a autocrítica de Drummond e a análise contundente de Mário de Andrade são úteis para dar uma amostra das mudanças pelas quais passou a poesia brasileira na década de 1920, antes que se firmasse um discurso modernista. Servem ainda para provar que o processo de formação do poeta incluiu traços que no futuro ele abandonaria.

O outro lançamento, Cyro & Drummond: correspondência de Cyro dos Anjos e Carlos Drummond de Andrade, é revelador de contextos históricos e pessoais tanto da obra do poeta quanto da produção do romancista autor de O amanuense Belmiro (1937), Abdias (1945), Montanha (1956) e A menina do sobrado (1979). As cinco décadas de troca de cartas entre os dois amigos trazem à tona as opiniões sobre as criações um do outro, visões políticas e marcos de suas vidas, divididas entre a escrita e o trabalho burocrático no funcionalismo público.

SAIBA MAIS:
Cyro & Drummond: correspondência de Cyro dos Anjos e Carlos Drummond de Andrade, organização, prefácio e notas de Wander Melo Miranda e Roberto Said (Globo, 328 págs.,
R$ 49,90)

Os 25 poemas da triste alegria, de Carlos Drummond de Andrade
(Cosac Naify, 162 págs., R$ 79,90)

Autor

Redacao


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