NOTÍCIA

Gestão

Autor

Rubem Barros

Publicado em 16/12/2025

O diretor escolar que resolveu adotar a própria cidade

Darkson Machado lidera grupo de educadores que tem transformado a realidade de Cocal dos Alves (PI)

“O que mais me realiza, como gestor de escola pública, é todo mundo querer fazer um curso superior, mesmo com restrições econômicas. Assim, mais alunos podem ficar no Piauí, sem precisar migrar para os grandes centros urbanos como Rio e São Paulo.” A fala é do diretor escolar Darkson Vieira Machado, da Ceti Augustinho Brandão, na pequena cidade de Cocal dos Alves, 286 km a Sudoeste da capital Teresina. 

A história da vida profissional de Darkson se mistura com a da própria escola, que em 2024 foi considerada a segunda melhor entre aquelas de redes estaduais do país, por seu desempenho no Enem.

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Formado em letras, o diretor foi um dos professores pioneiros da escola, que começou a funcionar em 2003. Ele e um grupo de ex-alunos que deixaram a cidade para fazer o ensino médio e cursar faculdade na Universidade Estadual do Piauí haviam se comprometido a retornar a Cocal dos Alves para oferecer aos mais novos o que eles não tiveram: a chance de fazer o ensino médio sem sair de casa.

Logo a escola começou a se destacar, principalmente em função de seu êxito na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), estimulado pelo professor Antônio Cardoso do Amaral. Já em 2005 vieram as primeiras medalhas. Em 2006, 70% dos formandos no ensino médio obtiveram foram aprovados em cursos superiores. 

Dessa turma saíram o primeiro fisioterapeuta e o primeiro psicólogo da cidade. Ao longo dos anos, o ex-alunos foram retornando para constituir a maioria dos professores da escola, ainda hoje a única de ensino médio da cidade de 7 mil habitantes. 

diretor escolar

Diretor Darkson Vieira Machado, da Ceti Augustinho Brandão, no Piauí (Foto: arquivo pessoal)

A pandemia o fez diretor escolar

Darkson Machado tornou-se diretor num momento crítico: a pandemia de Covid-19. Desgastada por 10 anos à frente da gestão, a antiga diretora resolveu sair. A comunidade escolar, por unanimidade, indicou seu nome para o cargo, tirando o sono do educador por uma semana. 

“Era um desafio muito grande. Mas, como a escola tinha bons resultados que a blindavam de influências políticas, decidi aceitar. Já estava em curso um processo de transformação social na cidade, que vínhamos trabalhando para mostrar às famílias que era melhor que seus filhos estudassem do que continuassem trabalhando na roça”, lembra Machado. 

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Seu primeiro desafio foi melhorar o acesso à internet em meio à pandemia. Procurou parceiros e conseguiu um acordo com o Google, que ofereceu suas ferramentas e um grupo de links para cada professor, de modo que puderam dar aulas em tempo integral. Com isso, os resultados acadêmicos se mantiveram. 

O segundo desafio foi melhorar a formação docente, tanto para o mundo digital como para que houvesse uma reciclagem em relação a como avaliar os alunos, entre outros pontos. Ele conseguiu organizar visitas como as do ex-presidente do Consed, Eduardo Deschamps, para falar sobre o novo ensino médio, e de Filomena Siqueira, do Instituto Reúna, especialista em temas como avaliação, eficácia e liderança escolar. 

Foto: arquivo pessoal

Adaptação 

Em 2022, quando a escola voltou às aulas presenciais, Machado avalia que já havia adquirido a visão de líder dos processos escolares. Ele e a coordenadora pedagógica eram os profissionais mais experientes entre os educadores da escola. E, em parceria com os professores, haviam conquistado a confiança das famílias. “Um dos maiores desafios é a questão do tempo, temos de ter uma visão ampla em relação a todas as demandas.”

Esse processo de convencimento requer reuniões constantes com os pais, em especial aqueles cujos filhos vêm de outras escolas. Eles passam por um período de adaptação, em que precisam se acostumar com uma questão das mais delicadas para crianças e adolescentes de todos os lugares: a aquisição de organização e disciplina para estudar. 

“É um trabalho de mostrar que vale a pena. Muitas vezes não é fácil, pois muitos deles trabalham, assim como suas famílias”, diz o gestor. Essa restrição temporal reduz tanto o tempo para o estudo, como para a interlocução entre família e escola. 

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Atualmente passando por um processo de municipalização, a escola, que já atendeu também a todo o fundamental 2, no ano que vem terá apenas classes de 9º ano e ensino médio. Com os bons resultados da Augustinho, no entanto, a demanda de vagas não é apenas local. Famílias de municípios vizinhos, como Cocal, a 27 km e com quatro vezes a população de Cocal dos Alves, também procuram a escola. 

“Fizemos uma consulta ao Ministério Público, pois as outras cidades também têm o dever de oferecer educação de qualidade. Mas acabamos criando uma cota de 10%, por classe, para alunos de fora”, explica Machado. 

Com 92% dos alunos com aprendizado adequado em língua portuguesa e 62% em matemática no ensino médio, segundo o Ideb 2023, a escola comemorou no ano passado a aprovação de três de seus alunos em vestibulares para medicina. 

Em 2026, além da formação técnica em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, já presente, haverá também a opção de Administração com ênfase em Empreendedorismo. Para continuar evoluindo no acesso ao ensino superior, Darkson relata uma condição imprescindível: “trabalho em equipe. Sem isso não há boa gestão”.

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