COLUNISTAS

Colunista

Damaris Silva

Mestre em letras e consultora de gestão de projetos educacionais para redes públicas e privadas de ensino

Publicado em 15/12/2025

Hora de rever a aprendizagem que promovemos

Ao compararmos as matrizes de referência do Saeb de 2001 com as de 2018, percebemos que as habilidades exigidas hoje convocam os estudantes a operar em níveis mais complexos de pensamento

Em 2025, estudantes do 5º ano e 9º ano do ensino fundamental e das 3ª e 4ª séries do ensino médio, sobretudo os da rede pública, iniciam uma nova etapa no processo avaliativo ao qual são submetidos: a transição para as matrizes de referência atualizadas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Trata-se de um movimento que ganhou força desde 2018 e cuja mudança busca alinhar as matrizes à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de apresentar novas escalas de proficiência, eixos cognitivos e de conhecimento. Mas, mais do que ajustes curriculares e metodológicos, as novas matrizes delineiam o horizonte dos sujeitos que pretendemos formar na escola brasileira.

Ao compararmos as matrizes de 2001 com as de 2018, percebemos um avanço importante. As habilidades exigidas hoje convocam os estudantes a operar em níveis mais complexos de pensamento, o que nos convida a rever a própria natureza da aprendizagem que promovemos.

—————————–

Leia também

Hora de reavaliar a avaliação escolar

—————————–

Na Língua Portuguesa, por exemplo, a habilidade de reconhecer formas de tratar uma informação em diferentes textos sobre o mesmo tema evolui para a capacidade de avaliar a fidedignidade de informações veiculadas em distintas mídias. Já não se trata apenas de compreender o que se lê, mas de posicionar-se diante da leitura e do contexto (algo vital em tempos de desinformação).

Em Matemática, o que antes era a simples leitura de gráficos agora exige que os estudantes infiram a finalidade de pesquisas, argumentem com base em dados e articulem diferentes representações. Passa-se da observação à análise crítica, com a matemática sendo usada como ferramenta de leitura e interpretação do mundo.

Esse mesmo movimento está presente nas novas matrizes de Ciências Humanas e da Natureza, que delineiam um letramento científico ativo, bem como a proposição de soluções frente à crítica do presente e da construção do futuro.

—————————–

Leia também

Currículo como experiência viva

—————————–

Esse conjunto de mudanças sinaliza um novo pacto educacional. Não se trata de ensinar mais conteúdos ou melhorar índices, mas de formar jovens capazes de pensar de forma complexa, autônoma, ética e com senso de coletividade. 

O desafio é garantir que todos os estudantes tenham a chance de alcançar os patamares mais altos de aprendizagem, como prevê o próprio Saeb em sua definição de desempenho ‘avançado’, por meio do desenvolvimento de habilidades sofisticadas e de condições adequadas para seguir sua trajetória acadêmica com sucesso.

As matrizes são, portanto, mapas. Mapas que ganham sentido se nos comprometermos com os caminhos que apontam para que as habilidades não sejam apenas avaliadas, mas vividas em práticas pedagógicas que encantem, instiguem e preparem futuros possíveis e promissores.

Saeb

Não se trata de ensinar mais conteúdos ou melhorar índices, mas de formar jovens capazes de pensar de forma complexa, autônoma, ética e com senso de coletividade (Foto: Shutterstock)

——

Revista Educação: referência há 30 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica

——

Escute nosso podcast


Leia mais

Hora de rever a aprendizagem que promovemos

+ Mais Informações
Giraffe,Entering,A,Door,And,Gets,Out,As,An,Elephant

O elefante já está na loja de porcelanas

+ Mais Informações

De olho na reestruturação do ensino médio no Brasil

+ Mais Informações

Escola que se abre para o entorno tanto aprende quanto ensina

+ Mais Informações

Mapa do Site