NOTÍCIA
TIC Kids Online Brasil revela ainda queda no acesso à internet nas escolas e também apresenta a exposição à publicidade e propaganda online
Quase dois terços dos usuários de internet brasileiros, com idades entre nove e 17 anos, já incorporaram ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa em suas rotinas, seja para auxiliar nos estudos, criar conteúdos ou, até mesmo, para conversar sobre suas emoções. O dado inédito faz parte da TIC Kids Online Brasil 2025, lançada nesta quarta-feira, 22, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
A pesquisa, que está na 12ª edição, é realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
Pela primeira vez, o levantamento investigou o uso de IA generativa e constatou que 59% das crianças e dos adolescentes nessa faixa etária recorrem à tecnologia para realizar pesquisas escolares ou estudar. Outros usos incluem a procura por informações (42%), a criação de conteúdo como textos e imagens (21%) e conversas sobre problemas pessoais ou emoções (10%).
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A utilização dessa tecnologia cresce conforme a idade: entre os adolescentes de 15 a 17 anos, a presença de ferramentas de inteligência artificial é maior do que entre crianças de nove a 10 anos. Para pesquisas escolares ou estudos, as proporções foram de 68% e 37%, respectivamente; para busca de informações, 60% e 17%; para criação de conteúdo, 32% e 9%; e para conversas sobre problemas pessoais ou emoções, 12% e 4%.
“A IA generativa está cada vez mais presente nas práticas digitais cotidianas, seja na busca por informações, na criação de conteúdo ou mesmo como recurso com o qual as pessoas compartilham questões pessoais e emocionais. Diante desse cenário, incluímos um novo indicador à pesquisa para monitorar como crianças e adolescentes estão utilizando essas tecnologias. Com isso, buscamos gerar evidências que contribuam para a formulação de políticas e ações voltadas à sua proteção, ao bem-estar e desenvolvimento integral”, explica Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br.

Quase dois terços dos usuários de internet brasileiros, com idades entre nove e 17 anos, já incorporaram ferramentas de IA generativa em suas rotinas (Foto: Shutterstock)
De acordo com a pesquisa, o celular — principal meio de acesso à internet para 96% da população de nove a 17 anos — foi usado várias vezes ao dia por 74% dos entrevistados, seguido pela televisão (35%) e pelo computador de mesa ou portátil (8%).
Após a sanção em janeiro da Lei nº 15.100 de 2025, que restringe o uso de celulares nas escolas, a proporção dos usuários nessa faixa que acessaram a internet no ambiente escolar caiu, passando de 51% (2024) para 37% (2025).
Outra novidade que a TIC Kids Online traz neste ano é em relação à frequência do uso da internet em diferentes locais. O estudo revela que 84% dos jovens se conectaram à rede de suas casas ‘várias vezes ao dia’. Nas escolas, 12% reportaram acessar a internet ‘várias vezes ao dia’, 13%, uma vez por semana e 9%, uma vez ao mês.
Atualmente, 92% das crianças e adolescentes brasileiros entre nove e 17 anos são usuários de internet, o que representa 24,5 milhões de pessoas, proporção que se manteve estável em comparação à edição anterior do estudo.
O WhatsApp é a plataforma digital acessada com maior frequência por usuários de nove a 17 anos. O aplicativo de mensagens é utilizado ‘várias vezes ao dia’ por 53%, seguido pelo YouTube (48%), Instagram (48%) e TikTok (46%).
Segundo a pesquisa, 85% possuem perfil em, pelo menos, uma das plataformas investigadas. As proporções foram de 64% para a faixa etária de nove a 10 anos; 79% para a de 11 a 12 anos; e 91% para a de 13 a 14 anos. Entre aqueles com idade de 15 a 17 anos, quase a totalidade (99%) possui perfil em, ao menos, uma plataforma.
Atividades multimídia seguem entre as práticas mais realizadas por crianças e adolescentes. Pela primeira vez, a pesquisa investigou os tipos de vídeos assistidos: 46% reportaram ter visto vídeos de influenciadores digitais várias vezes ao dia; 35%, séries, filmes ou programas na internet; 29%, vídeos ou tutoriais na internet que ensinam a fazer coisas que gostam; 23%, vídeos de pessoas jogando videogame pela Internet; e 60%, outros vídeos online.
“Ao longo da última década, observamos que as atividades multimídia, especialmente assistir a vídeos, estão entre as práticas mais realizadas por crianças e adolescentes na internet. Nesta edição, ampliamos esse monitoramento e passamos a investigar os tipos de vídeos acessados por esse público”, comenta Luísa Adib, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online Brasil.
Mais da metade dos usuários de Internet de 11 a 17 anos reportou ter tido contato com publicidade ou propaganda em diferentes meios digitais: 55% em redes sociais, 52% em sites de vídeos e 52% na televisão. A presença de anúncios em sites de jogos alcançou 26% desse público.
Os formatos de publicidade em vídeo mais vistos por essa parcela da população foram: pessoas abrindo embalagens de produtos (66%), ensinando a usar produtos (65%) ou mostrando produtos que alguma marca de para elas (58%). Pela primeira vez a pesquisa investigou a exposição de crianças e adolescentes a vídeos de pessoas divulgando jogos de apostas. Entre os usuários de 11 a 17 anos, 53% reportaram contato com esse tipo de conteúdo online. A exposição foi maior entre os adolescentes de 15 a 17 anos (63%).
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Considerando práticas envolvendo gastos e recompensas em jogos na internet, 21% dos usuários 11 a 17 reportaram que fizeram alguma compra ou gastaram para avançar de fase ou ganhar itens novos em jogos online.
Segundo declaração dos responsáveis, 45% das crianças e adolescentes tiveram contato com propaganda não apropriada para a idade, e 51% pediram algum produto após ver um anúncio na internet. A percepção sobre a personalização de anúncios também é alta: 65% dos usuários de 11 a 17 anos concordaram que falar ou pesquisar sobre um produto aumenta a quantidade de propagandas que recebem sobre ele.
“Os dados revelam uma alta exposição de crianças e adolescentes à conteúdos mercadológicos online, que, muitas vezes, vem disfarçada de entretenimento. A percepção dos jovens sobre a personalização de anúncios acende um alerta sobre a necessidade de desenvolver a literacia midiática e de dados desde cedo.”, afirma Barbosa.
Quando o assunto é o uso seguro da internet, pais e responsáveis buscam orientação principalmente com as próprias crianças ou adolescentes (50%) e com familiares ou amigos (48%). A pesquisa também revela um forte apoio mútuo: 31% dos jovens afirmam ajudar seus pais ou responsáveis em atividades online, enquanto 44% dos pais/responsáveis dizem conversar com as crianças e adolescentes sobre o que elas fazem na rede.
“A TIC Kids Online Brasil reafirma o compromisso do CGI.br em promover um ambiente digital mais seguro e inclusivo para crianças e adolescentes. A pesquisa ajuda a sociedade e o governo a compreender as novas dinâmicas do comportamento dos brasileiros de nove a 17 anos e a subsidiar políticas públicas e ações educativas mais eficazes e alinhadas à realidade digital deles”, destaca Renata Mielli, coordenadora do CGI.br.
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