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Débora Garofalo

Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo

Publicado em 23/10/2025

Inovação também é valorizar quem ensina

Falar em inovação educacional exige olhar para as pessoas que estão na linha de frente da mudança. Não há transformação digital sem professores fortalecidos

Em tempos em que a inovação educacional é frequentemente associada à tecnologia, à inteligência artificial e às metodologias ativas, é preciso lembrar que nenhuma transformação é possível sem professores valorizados. A verdadeira inovação começa nas pessoas — e, especialmente, em quem ensina. Outubro, mês dos professores, é uma oportunidade para reforçar essa ideia: inovação também é valorizar quem ensina.

A valorização docente é um dos pilares para o avanço da educação no Brasil e no mundo. No entanto, ela vai muito além de remuneração. Envolve formação contínua, bem-estar emocional, autonomia profissional e reconhecimento social. 

Segundo dados do Instituto Península (2023), 72% dos professores brasileiros afirmam que se sentem esgotados emocionalmente e 58% consideram abandonar a profissão nos próximos anos. Esses números escancaram a urgência de políticas públicas e institucionais que cuidem de quem cuida do aprendizado.

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Inovação humanizada: fortalecer quem transforma

Falar em inovação educacional exige olhar para as pessoas que estão na linha de frente da mudança. Não há transformação digital sem professores fortalecidos.

De nada adianta investir em infraestrutura tecnológica, plataformas adaptativas ou robótica se o educador não for incluído como protagonista do processo. 

O Banco Mundial já alertava, em relatório de 2022, que a qualidade da educação depende mais da formação e da motivação dos docentes do que do volume de recursos investidos em tecnologia.

Nesse contexto, o conceito de inovação humanizada ganha força: é o uso de ferramentas tecnológicas e metodológicas que ampliam o papel do professor, em vez de substituí-lo. Projetos que envolvem mentoria, formação em rede e comunidades de prática vêm mostrando resultados promissores. 

Redes como o CIEBP (Centro de Inovação da Educação Básica Paulista), idealizado por mim na minha passagem pela Seduc-SP, e o Conviva Educação oferecem exemplos concretos de como o compartilhamento de experiências entre docentes impulsiona a inovação e a melhoria da prática pedagógica. Quando o professor se sente apoiado, confiante e parte de uma comunidade, a aprendizagem floresce.

professores valorizados

Nenhuma transformação é possível sem professores valorizados (Foto: Shutterstock)

Formação, carreira e bem-estar: pilares da valorização

A formação continuada precisa deixar de ser um evento pontual e se tornar parte da cultura das redes de ensino. O VAAR (Valor Aluno Ano Resultado), mecanismo recente de redistribuição de recursos da educação básica, vem estimulando estados e municípios a investirem em capacitação docente articulada a metas de aprendizagem. Esse modelo mostra como é possível conectar financiamento, resultados e valorização humana.

Ao mesmo tempo, é essencial discutir planos de carreira modernos, que reconheçam a inovação pedagógica, o engajamento e a formação como critérios de progressão. Segundo levantamento do Todos Pela Educação (2024), apenas 30% das redes estaduais têm planos de carreira atualizados e alinhados às novas competências docentes. Sem mecanismos que recompensem a dedicação e a melhoria contínua, o discurso de valorização perde força.

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O bem-estar docente também precisa ocupar o centro da pauta. A pesquisa Professores do Brasil (Inep/MEC, 2023) revelou que 67% dos professores relatam sintomas de estresse e ansiedade relacionados ao trabalho. Ambientes saudáveis, apoio psicossocial e equilíbrio entre vida pessoal e profissional devem ser considerados parte da inovação na gestão educacional. Afinal, educadores emocionalmente saudáveis ensinam melhor, inspiram mais e inovam com autenticidade.

Inovar é reconhecer

Em um cenário de rápidas transformações, o papel do professor torna-se ainda mais essencial. É ele quem traduz as inovações em práticas pedagógicas significativas, quem dá sentido humano ao uso da tecnologia e quem garante que cada estudante seja visto como sujeito de aprendizagem. Por isso, valorizar o professor é, em última instância, valorizar a educação.

A inovação educacional não será medida apenas por dispositivos digitais ou plataformas adaptativas, mas pela capacidade de fortalecer a inteligência humana — aquela que acolhe, ensina e inspira. Como afirma a Unesco, “a qualidade de um sistema educacional não pode ser maior do que a qualidade de seus professores”.

Em outubro, e em todos os meses do ano, cabe lembrar: nenhum algoritmo substitui a empatia, a escuta e a sensibilidade de um bom professor. A revolução educacional começa quando colocamos o educador no centro — como protagonista, não coadjuvante — da inovação que tanto desejamos.

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