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Conhecimento

Autor

Redação revista Educação

Publicado em 13/10/2025

Revistas impressas ensaiam volta

Após inúmeros médicos alertarem sobre riscos do excesso de tela digital, e da própria população sentir seus efeitos negativos, mercado do impresso vê caminho se reabrindo

Comparadas com o Brasil, as revistas impressas em países como Japão, Estados Unidos, França e Alemanha não tiveram quedas impactantes — hoje, a alemã Der Spiegel, por exemplo, tem tiragem média semanal de 840 mil exemplares, sendo uma das maiores da Europa. A afirmação é de Regina Bucco, diretora-executiva da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner). Segundo ela, problemas educacionais, incluindo a falta de hábito em leitura, e o excesso de uso de celular estão entre as causas dessa queda brasileira.

Vale lembrar da revista Veja que, no seu auge, chegou a distribuir por volta de 1 milhão de exemplares semanalmente (era uma das maiores tiragens do mundo), e, atualmente, distribui cerca de 90 mil, aponta levantamento do Poder360 com base em dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC).

Mas a publicação impressa está voltando, segundo Regina, que já foi diretora de marketing e vendas da Editora Globo, por preferência até mesmo da geração Z. Após deixar o papel e focar por 10 anos exclusivamente em seu site, a Capricho, que marcou gerações juvenis, retomou a impressão em dezembro do ano passado — tendo esgotado nas bancas. Agora a publicação terá edições impressas duas vezes ao ano.

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“O papel tem a confiabilidade. No digital nem sempre se sabe quando é fake news, quando é verdade, além de ser solitário. E não interessa se é digital ou impresso, o que interessa é a checagem da informação pelo jornalista, a confiabilidade do portal. Todo mundo se arvora em ser jornalista. Alguém publica que fulano morreu e muitos acreditam. Isso é um absurdo. Nesse aspecto, as redes sociais viraram terra de ninguém”, critica Regina Bucco.

A Aner tem 54 associados, sendo uma associação de editores com versões impressas e digitais, o que permite um conhecimento profundo sobre o setor. Outro problema atual brasileiro é a distribuição das revistas, ainda muito setorizada. “Não existe mais uma Dinap (Distribuidora Nacional de Publicações) que atinja todo o país, e muitas bancas fecharam. Hoje temos no máximo 8 mil bancas.” A diretora-executiva revela que a Aner está finalizando uma parceria com os Correios, que possui por volta de 11 mil agências.

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Diretora-executiva da Aner, Regina Bucco, afirma que o impresso está voltando (Foto: arquivo pessoal)

Mundo e suas transições

Regina compartilha que práticas offline estão ganhando força; entre os exemplos, ela cita a iniciativa criada por holandeses, Offline Club (Clube Offline, na tradução). A proposta é criar encontros presenciais para dar uma pausa nas telas do celular e notebook.

No site oficial, há a frase: “Relaxe, conheça outras pessoas e curta hobbies para os quais você nunca tem tempo”. O Reino Unido também adotou modelo de bar sem uso de celular para promover a interação. O mesmo tem ocorrido na França, Itália e Espanha. “Então, cabe criar oportunidades para que as pessoas comecem a ter acesso novamente ao impresso”, incentiva Regina.

No Brasil, mais especificamente na cidade de São Paulo, bairro de Pinheiros, a Casa Offline cobra assinatura mensal para a participação na programação off e o celular é guardado em uma bolsa com trava magnética.

Sobre os impactos da inteligência artificial (IA), segundo Regina Bucco, ela não substituirá a profissão de jornalista. “A IA deve ser aliada e não substituidora. Saramago tem uma frase interessante: ‘É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido’. Quer dizer, com o papel você se envolve”.

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A publicação impressa está voltando, segundo Regina Bucco, por preferência até mesmo da geração Z (Foto: Shutterstock)

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Já referente aos direitos autorais e IA, ela entende que também se deve falar em direito intelectual daquilo que foi criado por alguém e gerar regras — vale lembrar do PL 2338 de 2023, que tramita na Câmara dos Deputados após aprovação no Senado Federal, e que visa regularizar essa questão da IA, incluindo a remuneração por direitos autorais. “Hoje, estamos em outro nível de mundo e temos de começar a pensar em mecanismos de proteção da propriedade intelectual e em como é que se remunera essa propriedade intelectual. É dar nome aos bois: quem, de fato, produziu isso? E a IA pode ajudar nisso, a rastrear e assim dar nome a essa propriedade intelectual”, destaca a diretora.

Inclusive, durante o fechamento desta matéria, a Folha de S.Paulo anunciou que em 20 de agosto de 2025 entrou em processo judicial contra a estadunidense OpenAI (detentora do ChatGPT), requerendo que a empresa “pare de coletar e usar, sem autorização e pagamento, o conteúdo do jornal. Também foi pedido o pagamento de indenização por uso indevido das publicações para treinamento de modelos de IA e por fornecer aos usuários resumos e reproduções na íntegra de conteúdo jornalístico, inclusive artigos restritos para assinantes, sem autorização nem pagamento. A ação acusa a OpenAI de concorrência desleal e violação de direitos autorais, uma vez que “o réu desenvolve e aprimora sua ferramenta de IA […] com base em conteúdo alheio […] sem autorização e sem o pagamento de qualquer remuneração”. Além disso, em resposta a prompts (comandos) dos usuários, reproduz reportagens na íntegra no mesmo dia em que são publicadas, o que desvia “a ‘clientela’ —no caso, os internautas — de forma ilegítima”, consta no processo judicial”, afirma matéria da jornalista Patrícia Campos Mello.

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