NOTÍCIA
Meire Nocito, do Colégio Visconde de Porto Seguro, e Adriana Kac, das escolas Inspired/Eleva no Brasil, falam sobre diferentes experiências de gestão escolar, do olhar para o bem-estar à visão 360º de cada aluno, apoiada por dados
Num tempo de muitas mudanças — que incluem desde o impacto das mídias sociais nas relações familiares e entre os próprios adolescentes até o aumento de questões de saúde mental no pós-pandemia —, é preciso repensar a escola. E mais: envolver toda a comunidade escolar nessa tarefa. É o que defendeu Meire Nocito, diretora institucional educacional do Colégio Visconde de Porto Seguro, de São Paulo (SP), em painel realizado no evento Em tempos turbulentos, como manter a escola firme, promovido pela revista Educação e sua nova iniciativa, a Academia Líderes de Educação, nesta terça-feira, 7, na capital paulista, que trouxe duas experiências de gestão escolar. “Diante desse contexto, nós paramos e pensamos: como implementar uma política de educação socioemocional, trazendo a comunidade escolar para pensar a escola?”, contou. “A fortaleza está na comunidade”, ressaltou.
Ao longo do painel, Meire compartilhou uma série de experiências do Porto Seguro para estabelecer uma cultura institucional pautada no cuidado e no bem-estar. Para isso, foi preciso abrir espaços de diálogo, algo que começou ainda em 2018. O diálogo incluiu alunos e famílias, representados em comitês. O processo também exigiu formação não só dos docentes, como também dos demais colaboradores — e levou ao desenvolvimento, por exemplo, de diferentes políticas, como a antirracista, a de educação inclusiva, antibullying e de restrição do uso do celular no ambiente escolar.
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Esse último ponto está relacionado ao investimento em políticas de bem-estar. “Nossos alunos estavam adoecendo. No intervalo, eles não brincavam, não interagiam. Ficavam, muitas vezes, nas telas”, contou. Desta forma, em 2019, o Porto Seguro criou o Projeto Disconnect, em que, todas as sextas-feiras, os alunos passaram a experimentar um “detox” dos celulares durante os intervalos.
Em 2024, o projeto ganha uma nova característica: os estudantes passam a participar do processo decisório do que fazer durante os intervalos. “O aluno se sentiu parte, pertencendo a essa dinâmica de melhoria dos intervalos”, contou Meire. Em setembro do mesmo ano, uma pesquisa do colégio revelou que 72,5% dos estudantes ficavam offline nos intervalos.
Outras medidas adotadas pela instituição incluem a criação da Academia da Família, que promove espaços de diálogo e formação para pais e responsáveis, e do Canal Socioemocional, ferramenta que traz conteúdos que subsidiam o trabalho do professor em sala de aula.
“Quando a gente pensa em como manter a escola firme em tempos turbulentos, é abrir espaços dialógicos, espaços formativos, espaços onde cada membro da comunidade se sinta parte”, refletiu Meire.
Da esq. para a dir.: Silvia Scurrachio (diretora da Escola Bosque e mediadora do painel), Adriana Kac e Meire Nocito (foto: Thiago Carvalho/revista Educação)
A mesa também contou com a participação de Adriana Kac, diretora acadêmica das escolas Inspired/Eleva no Brasil, que trouxe também uma reflexão sobre o olhar para a parte acadêmica do aluno — e como ir além das notas.
“Quando a gente vai para a parte acadêmica do aluno, frequentemente, a gente se dá ao luxo de resumir o aluno a uma nota. Ou, pior, a uma nota e, depois, uma validação dessa nota: ele é um bom aluno, é um mau aluno, é um aluno mediano, um aluno excelente”, analisou.
Ao longo da exposição, ela dividiu a experiência das escolas Inspired/Eleva no Brasil, ressaltando a importância de que haja um olhar “360º” para o estudante, com uma atenção individualizada, que permita a compreensão do perfil de cada um. “Esse conhecimento do aluno é que nos permite realmente traçar um caminho, direcionar o aprendizado desse aluno de modo eficaz, de modo eficiente, para que ele realmente possa usar bem o seu potencial”, afirmou.
Entre as medidas utilizadas nas escolas Inspired/Eleva, há, por exemplo, as testagens de potencial acadêmico, que envolvem quatro elementos: potencial verbal, não verbal, quantitativo e espacial. Tais testes permitem, por exemplo, compreender como acessar melhor cada aluno. E, ao juntar o perfil dos alunos, avaliar quais as características e facilidades de cada turma.
Outra medida é a análise crítica e aprofundada dos resultados das avaliações internas. Adriana refletiu que uma nota oito, por si só, pode não dizer muita coisa, pois depende do quanto cada professor demanda, por exemplo. “Nós transitamos de olhar as notas dos alunos — simplesmente o valor numérico ou as médias –-, e passamos a trabalhar com percentis”, contou. Esses percentis permitem compreender melhor cada resultado — se for de um professor mais leniente, terá um significado; se for mais demandante, outro. E permite, ainda, compreender o progresso de cada aluno. Nesse ponto, Adriana lembrou da importância do processo. “A gente precisa ver o aluno no seu processo de aprendizagem”, afirmou.