NOTÍCIA
No Gracinha, em SP, trabalho integrado entre diferentes áreas do conhecimento com alunos do ensino médio e professores de três itinerários formativos gera jornada com teoria e prática
A preocupação com o meio ambiente cresce entre os jovens brasileiros e ganha cada vez mais espaço nas salas de aula. Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que 24% dos jovens de 18 a 27 anos de todo o Brasil apontam a crise hídrica como um dos principais problemas do país, inclusive, um dos temas centrais da Conferência da ONU sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro, em Belém (PA). Esse interesse já se reflete em práticas pedagógicas, como na Escola Gracinha, em São Paulo, que fez da conferência o eixo integrador de ciência, cidadania e participação social.
Ao longo do ano letivo, a COP30 foi incorporada ao currículo como fio condutor de um percurso formativo que une teoria e prática. Entre as ações, está a V Jornada Amazônica 2025, fruto de um trabalho integrado entre diferentes áreas do conhecimento com alunos do 3º ano do ensino médio e professores de três itinerários formativos.
“Desde a preparação com a Feira Agroecológica até o estudo de campo na Amazônia, passando por mesas de debate com convidados de diferentes territórios, os estudantes são mobilizados a pensar criticamente sobre o papel do Brasil nas negociações climáticas e sobre os impactos locais da crise global”, explica o professor Paulo Crispim Alves de Souza, responsável pelo itinerário de Ciências Humanas.
—————————–
Educação ambiental deve ser prática e transversal
—————————–
O protagonismo estudantil foi peça-chave. A professora Danielle Christiane dos Santos Canteiro, do itinerário Ciências da Natureza, destaca que os alunos organizaram mesas de debate, produziram boletins, criaram identidade visual para o projeto e curaram conteúdos audiovisuais, sempre com olhar crítico e criativo.
“Houve também um intercâmbio com lideranças indígenas, artistas, acadêmicos e ativistas, como representantes do povo Huni Kuin, do Instituto Socioambiental, do Movimento Xingu Vivo, cineastas indígenas e especialistas diretamente envolvidos na preparação da COP30”, relata Danielle.
Alunos do Gracinha em estudo de campo na Amazônia (Foto: Divulgação/Gracinha)
A proposta foi conectada de forma transversal ao currículo, relacionando os debates a História, Geografia, Sociologia, Ciências, Linguagem e Artes. Registros dos estudantes, como fichas de pré-campo, ajudaram a reforçar habilidades de observação, análise de discursos e construção narrativa.
“Ao articular diferentes saberes e experiências, o projeto ativa processos metacognitivos, permitindo que os estudantes reflitam sobre como aprendem, posicionam-se e transformam sua percepção de mundo”, detalha o professor Diego Noventa Fonseca, responsável pelo itinerário de Linguagens.
O alcance foi além dos muros da escola, envolvendo famílias, ex-alunos e comunidades por meio de boletins, vídeos e recomendações culturais. Resultados concretos já aparecem, uma vez que estudantes lideraram a comunicação nas redes sociais da Jornada, especialmente no Instagram, assumiram a curadoria cultural e participaram de saídas pedagógicas.
“A COP30 é uma oportunidade de formação cidadã e planetária. Ao tratar de temas como justiça climática, soberania territorial, entre outros, os estudantes compreendem a interdependência entre o local e o global”, conclui Paulo.
——
Revista Educação: referência há 30 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica
——