NOTÍCIA
Política Nacional Integrada da Primeira Infância (PNIPI), aprovada no início do mês, propõe olhar para as crianças de forma integral, reconhecendo seu papel central na construção do futuro
Por Lilian Murad Brunner* | A Política Nacional Integrada da Primeira Infância (PNIPI), aprovada no início do mês, marca um passo firme e necessário na construção de um país mais justo, com base na ciência, na escuta e na valorização da infância. Trata-se de uma decisão que inaugura uma nova era no cuidado com as crianças de 0 a 6 anos e suas famílias, adotando a primeira infância como estratégia de combate à fome, à pobreza e às desigualdades estruturais. É, sem dúvida, um grande ganho para todos.
A nova política, prevista no Marco Legal da Primeira Infância (2016), propõe a integração entre os entes federativos, articulação intersetorial e construção de um banco de dados nacional. Mais do que isso, propõe olhar para as crianças de forma integral, reconhecendo sua urgência, sua potência e seu papel central na construção do futuro.
Aprovação da PNIPI cria o cenário ideal para troca de saberes e experiências (Foto: Shutterstock)
Na instituição em que atuo há quase 30 anos, o compromisso com a primeira infância sempre foi uma prioridade. Com base em comprovações no aspecto socioemocional e em um profundo respeito pelas crianças, acreditamos que aprender é um processo ativo, no qual elas experimentam, testam hipóteses e ressignificam o mundo ao seu redor. É nessa fase que as conexões cerebrais se formam em velocidade única, criando a base para aprender, se comunicar, lidar com emoções e construir vínculos. Por isso, sabemos que as escolhas de agora são transformadoras e impactam o futuro.
Desde os primeiros anos da educação infantil, a proposta curricular está estruturada com base nos cinco campos de experiências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC): O Eu, o Outro e o Nós; Corpo, Gestos e Movimentos; Traços, Sons, Cores e Formas; Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação; e Espaços, Tempos, Quantidades, Relações e Transformações. Esses campos acolhem as situações e experiências concretas da vida cotidiana e os saberes infantis, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural. Assim, cada vivência é significativa e planejada com intencionalidade pedagógica.
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Educação infantil precisa ser compreendida como agenda de desenvolvimento da nação
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Os espaços de aprendizagem são cuidadosamente pensados para integrar natureza, investigação e convivência. Contamos com parques, ateliês, biblioteca, sala do Pequeno Cientista, tanques de lama, espaço sensorial, horta, fazendinha, salas com varandas e áreas abertas. São ambientes que convidam à experimentação, ao vínculo e à construção da autonomia, porque entendemos que as crianças são agentes sociais e produtoras de cultura.
Outro diferencial importante é o currículo solidário, que aproxima desde cedo os pequenos de causas sociais. A partir dos quatro anos, os alunos participam de projetos ligados à proteção animal, à reciclagem e ao cuidado com o outro: vivências que desenvolvem empatia, consciência coletiva e responsabilidade social. Sabemos que experiências de solidariedade, colaboração e pertencimento também são parte fundamental da formação humana.
O projeto pedagógico contempla ainda o desenvolvimento de habilidades essenciais que acompanham o aluno por toda a vida escolar: conceitos fundamentais, idiomas, conexões globais, sustentabilidade, educação digital e, sobretudo, inteligência socioemocional. O cuidado com o bem-estar emocional da criança e de sua família é parte central do trabalho, com orientação contínua, escuta ativa e diálogo próximo com as famílias.
Esse olhar integral para o desenvolvimento infantil se estende também aos cuidados com a saúde, a alimentação e a rotina das crianças. Nutrição e higiene recebem a mesma atenção dedicada às aprendizagens cognitivas. As famílias acompanham os cardápios, e ações especiais de alimentação fazem parte do cotidiano. Todos esses aspectos são acompanhados por professores qualificados e uma equipe pedagógica que observa o processo de aprendizagem, realiza atendimentos individuais ao longo do ano, promove reuniões e compartilha com a família o desenvolvimento da criança por meio de relatórios descritivos.
Acreditamos que boas práticas precisam ser compartilhadas. O que vivenciamos no cotidiano da educação infantil pode inspirar outras escolas e redes de ensino. A aprovação da PNIPI cria o cenário ideal para essa troca de saberes e experiências. Queremos contribuir com o Brasil nessa jornada, oferecendo conhecimento, evidências, práticas pedagógicas e, acima de tudo, uma escuta ativa da infância.
Temos certeza que a verdadeira transformação do nosso país começa pelo cuidado com os primeiros anos de vida. Quando olhamos para a infância com seriedade, encantamento e urgência, abrimos caminhos para um futuro mais justo, humano e promissor. É nessa fase preciosa que tudo se forma: vínculos, valores, possibilidades. E é por isso que acreditamos, com muita esperança, que cuidar da infância é o gesto mais potente que podemos fazer pelo amanhã. O futuro começa agora, e começa com as crianças.
*Lilian Murad Brunner é mestre em Educação: Currículo pela PUC-SP, com pós-graduação em Psicopedagogia e MBA em Gestão Escolar pela USP, graduada em Pedagogia e Administração. Atuou por mais de 15 anos como diretora da educação infantil e, atualmente, é diretora institucional da educação infantil no Colégio Visconde de Porto Seguro (Portinho).
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