NOTÍCIA

Olhar pedagógico

Autor

Juliana Fontoura

Publicado em 11/08/2025

Educação ambiental deve ser prática e transversal

A 3 meses da realização da COP30 no Brasil, discussão sobre temática ambiental ganha espaço; nas escolas, é importante que não se limite a um simples tópico do currículo

Com a realização da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) no Brasil — mais precisamente, em Belém, PA — em novembro deste ano, o debate sobre educação ambiental ganha mais espaço. E, na abordagem deste tema tão fundamental, aspectos como a prática (e não apenas a teoria), a presença transversal no currículo (e não apenas um tópico que aparece de forma eventual) e o envolvimento das juventudes são importantes. 

Esses foram alguns dos pontos discutidos na mesa Saberes e fazeres na educação frente às mudanças do clima, que integrou o Fórum Movimentos pela Regeneração — em direção à COP30. O encontro aconteceu na última sexta-feira, 8, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Transformação da relação com o meio ambiente e a importância da prática

A educadora Cristine Takuá, que coordena o projeto Escolas Vivas e é colunista da revista Educação, participou da mesa e ressaltou a importância da transformação do “currículo quadrado”. Além disso, refletiu sobre a maneira como muitos enxergam a natureza — algo que aparece, por exemplo, quando alguém diz “nossa floresta”. “A floresta não é nossa. A natureza não é nossa. Ela não nos pertence. Nós somos um pequeno grãozinho que faz parte dessa grande teia de relações e de interações que compõem tudo que habita na floresta”, afirmou. 

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Em relação à educação ambiental, Cristine destacou a importância da prática, citando como exemplo o coletivo Formigas-de-embaúba, que promove o plantio de miniflorestas em escolas de São Paulo. “A gente tem de sair da teoria”, afirmou. “Não tem como pensar em transmissão de conhecimento, em saberes e fazeres, se a gente não tem a floresta, porque é com ela que a gente aprende.”

Ela também ressaltou o respeito para com todas as formas de vida (e não apenas as humanas), e que todos aprendam a pedir licença. “Se as pessoas não aprenderem a pedir licença para entrar no rio, licença para colher uma planta, licença para entrar e para sair, a gente não vai estar aprendendo o princípio básico da educação, que é o respeito. Para com todas as formas de vida.”

educação ambiental

Mesa ‘Saberes e fazeres na educação frente às mudanças do clima’ integrou o Fórum Movimentos pela Regeneração — em direção à COP30, realizado no Sesc Pinheiros, em São Paulo (Foto: Rubens Tamashiro)

Papel das juventudes

Já o jornalista e educador Ronaldo Matos, cofundador do Desenrola e Não me enrola e da Coalizão de mídias periféricas, faveladas, quilombolas e indígenas, destacou o papel dos jovens como solucionadores

Ronaldo apresentou o trabalho do Você Repórter da Periferia, iniciativa que permite que jovens entrem em contato com o jornalismo e aprendam a produzir e consumir informação. Os participantes passam por uma formação e produzem reportagens, o que possibilita uma série de aprendizagens — não só sobre a pauta realizada (no caso da reportagem exibida durante o evento, a jovem repórter visitou um território indígena no Jaraguá, em São Paulo), como sobre a própria produção de informação.

“Nós formamos os jovens, nós geramos oportunidade para esse jovem trabalhar com o jornalismo no seu território, construindo notícias, conhecendo outras iniciativas de impacto socioambiental e, principalmente, aprendendo a rever, a recalcular sua rota de vida a partir desses saberes”, afirmou o jornalista e educador.

Currículo vivo

Luiz Fernando de Moraes Barros, gerente de educação do Departamento Nacional do Sesc, falou sobre a importância da escola dialogar com o território e ressaltou que, nas escolas da rede do Sesc, a educação ambiental é um eixo transversal, que “atravessa todos os saberes, todas as disciplinas, todos os momentos” — e não apenas um tema do currículo.

“Não é episódico, não é fazer alguma coisa na agenda da semana do meio ambiente. Isso não é trabalhar a educação ambiental. Então, muito mais do que um tema dentro do currículo, a nossa rede de escolas pensa isso como a formação de uma cidadania global transformadora”, afirmou Luiz Fernando.

O gerente também falou sobre o currículo vivo. “Os currículos precisam ser vivos na escola. Isso não significa dizer que o currículo é pouco rigoroso ou que é improvisado. O currículo vivo é aquele que escuta com atenção, que acolhe, que se adapta àquilo que o contexto de fato está sugerindo como possibilidade de aprendizagem real e significativa.”

COP30 e o debate coletivo

Por fim, Marcos Sorrentino,  diretor do Departamento de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, destacou a importância do diálogo com os jovens, dentro e fora das escolas, e do envolvimento de todos no debate sobre o futuro que queremos construir. 

Se, por um lado, a COP30 é uma oportunidade para isso, por outro, o diretor reconhece a limitação do evento. “É bem provável que ela [a COP30] vire apenas uma torre de Babel, que vire apenas um diálogo entre diplomatas de terno e gravata, que vire apenas um encontro de ciência erudita”, afirmou. 

O diretor defendeu o diálogo entre todos — incluindo intuição, saberes imateriais e saberes da espiritualidade —, para tomar uma decisão conjunta sobre qual planeta e qual (ou quais) humanidades queremos, além de qual modo de organização e tomada de decisão desejamos.

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