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The Hechinger Report

Publicado em 31/07/2025

Engajamento familiar é estratégia para o sucesso acadêmico de escola nos EUA

Convidar famílias para as salas de aula reduziu o absenteísmo e aumentou os níveis de leitura

Por Brittany Daley* para o The Hechinger Report | Há dois anos, comprei para cada professor da Hamilton Elementary, no bairro de City Heights em San Diego (EUA), uma cadeira azul. Disse a eles para colocarem a cadeira no fundo da sala de aula, e que, se um pai, mãe ou responsável quisesse visitar a sala para ver como seu filho está aprendendo — por qualquer motivo — aquela seria uma cadeira dedicada para isso. Naquele dia, talvez tenha recebido alguns revirar de olhos exagerados por parte dos professores. Afinal, entendo bem como visitantes podem às vezes atrapalhar o andamento da aula, especialmente quando se trata de crianças animadas do ensino fundamental.

Mas a escola é nossa casa, e é nossa responsabilidade convidar as famílias para dentro dessa casa e acolhê-las. E essa cadeira foi um gesto de paz necessário, minha forma de dizer às famílias: “A partir de agora, as coisas serão diferentes”. E foram mesmo. E também podem ser diferentes em outras escolas, porque os benefícios do envolvimento familiar vão muito além do desempenho acadêmico dos alunos.

Pesquisas já demonstraram há tempos que, quando pais e responsáveis estão envolvidos e engajados na educação de seus filhos — seja participando de reuniões com professores ou de eventos escolares — o desempenho, a motivação e o bem-estar socioemocional dos alunos aumentam.

Todos ganham

O envolvimento dos pais em atividades de leitura tem impacto positivo no desempenho em leitura, na compreensão da linguagem, nas habilidades de linguagem expressiva e no nível de atenção em sala de aula, segundo o National Literacy Trust.

Pesquisas também mostram que os educadores experimentam maior satisfação no trabalho e têm mais chances de permanecer na escola em que atuam. Já as famílias desenvolvem vínculos mais fortes com seus filhos e se sentem menos isoladas, e até mesmo os distritos escolares se tornam lugares melhores para viver e criar crianças.

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Nada disso era verdade quando voltamos à normalidade após a Covid. Apenas 13% dos alunos estavam lendo no nível adequado para a série, e 37% estavam em situação de absenteísmo crônico. Percebi imediatamente que, antes mesmo de tentarmos enfrentar as questões acadêmicas, precisávamos engajar as famílias e fazê-las se sentir profundamente conectadas e comprometidas com a comunidade que eu imaginava construir aqui.

Hoje, 45% dos alunos estão lendo no nível da série, e o absenteísmo crônico, que nos dados oficiais mais recentes estava em 12%, caiu para 10% segundo nosso próprio acompanhamento. A meta é reduzir esse número para 8% em 2025-2026.

Mas isso não foi fácil, considerando a desconfiança que se intensificou durante a pandemia — com famílias céticas quanto à nossa capacidade de apoiar seus filhos de forma eficaz e funcionários escolares se sentindo na defensiva e exaustos. Ficou claro para mim que as famílias não estavam entusiasmadas em enviar seus filhos para a escola, não se sentiam informadas sobre o que acontecia em nosso campus e, além disso, não se sentiam à vontade — muito menos capacitadas — para comunicar suas necessidades a nós.

Proximidade nos detalhes

Complicando ainda mais a situação, havia a necessidade de compartilhar informações em vários idiomas além do inglês, o que tornava o fortalecimento de vínculos e a comunicação de expectativas um grande desafio. Cerca de metade dos nossos alunos são aprendizes da língua inglesa, e embora a maioria de suas famílias fale espanhol, temos populações crescentes de alunos cujas línguas maternas são crioulo haitiano, pashto e vietnamita.

A primeira coisa que fiz foi estabelecer uma comunicação aberta com os pais usando o ClassDojo, um aplicativo móvel [gratuito] que oferece às famílias um ponto de acesso central, fácil e intuitivo, para se conectar com nossos professores e funcionários. Ele traduz automaticamente todas as mensagens para os idiomas nativos dos pais e nos permite compartilhar histórias sobre o que está acontecendo na escola. Isso se tornou uma maneira simples de construir confiança e colaboração entre as famílias e a equipe.

Criar esse tipo de visibilidade foi essencial para derrubar as barreiras entre nós. E, nos primeiros dias, não publicávamos nada sobre alfabetização, matemática ou qualquer assunto acadêmico. Em vez disso, focávamos exclusivamente na frequência escolar e em fazer com que as famílias entrassem na escola o máximo possível. Focamos em atividades de construção de vínculos e aprendizado com alegria. Oferecemos aulas de arte no contraturno e organizamos as Sextas em Família mensais, quando os familiares podiam vir à escola para participar de uma atividade divertida.

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Organizamos uma campanha de doação de fantasias de Halloween com doces e brincadeiras para as crianças; realizamos um evento de leitura em comemoração ao Read across America [Leia em toda a América, na tradução] no qual distribuímos massinhas de modelar; e promovemos outros eventos de baixo risco na escola, todos com o objetivo de construir uma parceria entre a escola e as famílias. Mais uma vez, nosso objetivo nessas reuniões não era o aprendizado em si. Tudo era voltado à construção de confiança e ao fortalecimento de relações significativas com os alunos e suas famílias.

Depois que estabelecemos essa base sólida, passamos a incluir o foco acadêmico — embora esse aprendizado também estivesse profundamente enraizado no engajamento das famílias. Por exemplo, nosso foco escolar no último ano foi fonética, então enviamos atividades para casa para que as famílias realizassem com seus filhos, alinhadas especificamente aos conceitos que os alunos precisavam reforçar com base em suas avaliações individuais, como padrões vocálicos longos e palavras de reconhecimento visual. Essas atividades eram ensinadas pelos alunos e seus professores aos familiares durante as reuniões de pais e mestres. Além de ajudar os estudantes, esse exercício desafiou uma narrativa falsa que muitas famílias acreditavam: de que elas não sabiam o suficiente sobre o que estava sendo ensinado na escola para poder ajudar, ou que não se sentiam confiantes o bastante para isso, ou que simplesmente não tinham tempo.

engajamento familiar

“Quando começamos as primeiras Sextas em Família, apareciam cerca de 10 familiares e seus filhos. Agora, temos cerca de 200 responsáveis em cada encontro” (Foto: Shutterstock)

Famílias no centro

Hoje, o clima na Hamilton é radicalmente diferente do que encontrei quando entrei pela primeira vez pela porta da escola. Quando começamos as primeiras Sextas em Família, apareciam cerca de 10 familiares e seus filhos. Agora, temos cerca de 200 responsáveis em cada encontro. As famílias lideram a maioria das iniciativas comunitárias na escola — desde um brechó em que é possível escolher roupas doadas duas vezes por mês, até um centro de distribuição de alimentos, um clube do livro, aulas de inglês e um encontro mensal para socialização entre as famílias.

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Quando líderes do distrito nos visitam, eles sempre ficam impressionados com o nível de participação. Eu costumo dizer a eles: se você realmente se importa com o engajamento das famílias, isso precisa estar tão profundamente incorporado no sistema que as pessoas não tenham escolha a não ser participar. É por isso que estou constantemente pensando em como colocar o engajamento familiar no centro de tudo — nas reuniões de equipe, nos encontros sobre frequência escolar, nos planos de alfabetização e matemática, nos planos de comportamento e apoio psicológico, e até nas discussões sobre procedimentos escolares e orçamento. Essa é uma estratégia que não apenas envolve as famílias, mas também apoia o desempenho acadêmico e o bem-estar dos alunos. 

Para mim, o engajamento familiar é a estratégia definitiva para o sucesso acadêmico. Às vezes, no universo da educação básica, tratamos o relacionamento com as famílias e o trabalho acadêmico como coisas separadas — mas, na prática, o engajamento é a chave que abre as portas para atingirmos metas educacionais e criarmos uma comunidade escolar acolhedora e alegre.

*Brittany Daley é diretora da Escola Primária Hamilton em San Diego, Califórnia.

Este artigo sobre engajamento familiar foi produzido pelo The Hechinger Report, uma organização de notícias independente e sem fins lucrativos estadunidense focada em desigualdade e inovação na educação.

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