NOTÍCIA
72% dos docentes já relataram ter sentido sinais de esgotamento ou colapso mental, segundo estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Por Daniela Degani* | Os professores estão esgotados. Essa é uma realidade confirmada por diversas pesquisas realizadas no Brasil e pelo mundo. As longas jornadas de trabalho, a pressão por resultados, a falta de reconhecimento e, em muitos casos, as péssimas condições de trabalho têm levado os educadores a enfrentarem níveis alarmantes de exaustão mental.
Com a chegada do segundo semestre letivo, repensar estratégias de cuidado e bem-estar emocional pode ser uma das principais tarefas da gestão escolar para antecipar o retorno às aulas, a partir de agosto, com mais saúde aos profissionais, o que também impactará positivamente a qualidade do ensino.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Brasil é o país com maior prevalência de transtornos de ansiedade no mundo, e o quinto em casos de depressão. Quando esse quadro entra no ambiente escolar, um dos mais estressantes, o resultado é alarmante: 72% dos docentes já relataram ter sentido sinais de esgotamento ou colapso mental, segundo estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
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Há, ainda, um levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores (CNTE) que, com base em dados do INSS, mostra que mais de 150 mil professores da rede pública brasileira foram afastados de suas funções em 2023 por motivos relacionados à saúde mental. A principal causa foi o esgotamento emocional, um quadro frequentemente diagnosticado como transtorno depressivo ou burnout.
Embora não exista uma solução imediata para a crise do esgotamento na educação, a prática de mindfulness já se estabelece como uma aliada promissora para gestão do estresse e do bem-estar emocional dos educadores.
Essa prática, baseada em técnicas de meditação e autorregulação emocional, envolve o foco no momento presente, de forma simples e intencional, sem julgamento. Estudos demonstram que o mindfulness não apenas reduz os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, mas também promove maior clareza mental, regulação emocional e resiliência para lidar com os desafios do dia a dia.
Pesquisas internacionais, como a conduzida pela Universidade de Harvard, mostram que a prática regular de mindfulness pode reduzir sintomas de estresse e ansiedade em até 38%. No campo educacional, esse impacto é ainda mais relevante: ao praticar mindfulness, os professores relatam maior capacidade de concentração, melhora na relação com os alunos e um retorno ao entusiasmo com a profissão.
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Currículo como experiência viva
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Atuando como instrutora e palestrante de mindfulness há mais de 10 anos, tenho o desafio e a alegria de apoiar escolas e docentes com essa prática que oferece uma pausa necessária para as constantes demandas mentais e emocionais de seu trabalho. Os benefícios de integrar mindfulness na rotina diária incluem redução do estresse, melhoria da saúde mental e aumento da resiliência emocional.
A integração do mindfulness à vida profissional dos educadores oferece uma estratégia promissora para enfrentar os desafios intrínsecos à profissão docente (Foto: Shutterstock)
A integração do mindfulness à vida profissional dos educadores oferece uma estratégia promissora para enfrentar os desafios intrínsecos à profissão docente. Ao adotar práticas de mindfulness, os educadores não apenas melhoram sua própria saúde mental e bem-estar, mas também modelam comportamentos positivos para seus alunos.
Com o apoio de instituições educacionais, a prática de mindfulness pode se tornar uma parte valiosa da cultura educacional, contribuindo para o desenvolvimento de um ambiente de ensino mais compassivo, resiliente e eficaz.
*Daniela Degani é palestrante, instrutora de meditação e fundadora da Mindful Schools by MindKids (2015), iniciativa que leva práticas de atenção plena ao ambiente educacional e que já impactou mais de 3 mil educadores.
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