Mestre em letras e consultora de gestão de projetos educacionais para redes públicas e privadas de ensino
Publicado em 24/07/2025
Para os itinerários formativos serem eficazes, precisamos reinventar o fazer educativo
A implementação dos itinerários formativos no Novo Ensino Médio, conforme a Resolução CNE/CEB nº 4, de 12 de maio de 2025, marca uma inflexão profunda no percurso escolar dos estudantes brasileiros. Previsto como parte flexível do currículo escolar, o itinerário formativo é o conjunto de componentes, projetos e práticas que o estudante pode escolher, conforme seus interesses e projetos de vida. Os itinerários agora devem se organizar em torno de quatro eixos estruturantes: Método, Conhecimento e Ciência; Mediação e Intervenção Sociocultural; Inovação e Intervenção Tecnológica; e Mundo do Trabalho e Transformação Social.
Cada eixo aponta para a necessidade de uma escola conectada ao mundo contemporâneo, capaz de formar sujeitos críticos, criadores e protagonistas em diferentes campos da vida. Eles convocam a prática docente a transitar entre a investigação científica, a escuta ativa das realidades sociais, a criatividade aplicada em soluções e a aproximação com os desafios do mundo do trabalho. Mas nenhum desses movimentos será real se os professores não forem preparados, se os estudantes não forem ouvidos, e se as condições materiais das escolas não permitirem que o currículo se transforme em experiência viva.
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Um currículo tridimensional para exercer a mudança
Interdisciplinaridade: currículo que dialogue com a vida e dê sentido
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Nas redes públicas estaduais, o desafio se apresenta de forma ampliada. Implementar no mínimo dois itinerários por escola requer reorganização curricular, infraestrutura adequada, formação específica dos docentes e tempo pedagógico que sustente esse novo modo de ensinar e aprender. O que está em jogo não é apenas uma mudança de currículo, mas a reinvenção do fazer educativo.
Em meio a tantas exigências, a criatividade se torna mais que um diferencial: é uma linguagem vital. Como lembram iniciativas já em curso em diferentes redes públicas de ensino, só é possível inovar quando se aposta em processos formativos sólidos, planejamento colaborativo e liberdade pedagógica.
Redes estaduais por todo o Brasil estão, neste momento, redesenhando seus currículos, promovendo metodologias ativas e articulação com o território como base para os novos tempos. Essas práticas ainda são desiguais e muitas vezes invisíveis, mas indicam que o Novo Ensino Médio pode ser mais do que um arranjo técnico: pode ser um campo de disputa pelo direito a uma educação plena.
Os itinerários formativos nos desafiam a ouvir os sonhos dos jovens. Criatividade, nesse cenário, não é apenas uma habilidade: é resistência, reconstrução e possibilidade. Que saibamos reconhecer, nutrir e multiplicar as pequenas revoluções silenciosas que já estão em curso.
Previsto como parte flexível do currículo escolar, o itinerário formativo é o conjunto de componentes, projetos e práticas que o estudante pode escolher, conforme seus interesses e projetos de vida (Foto: Shutterstock)
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