NOTÍCIA

Olhar pedagógico

Autor

Redação revista Educação

Publicado em 08/07/2025

Passagem da educação infantil para o fundamental pode gerar medo simbólico de crescer

Transição escolar exige escuta, acolhimento e continuidade de algumas atividades. Coordenadora e professora na Escola Gracinha (SP) falam a respeito

A transição da educação infantil para o ensino fundamental pode despertar, em algumas crianças, o medo simbólico de crescer, que acontece não apenas pelas mudanças práticas, como nova sala ou professores(as), mas pela sensação de que terão novas responsabilidades. 

Segundo Mariana Melhado, coordenadora pedagógica da Escola Gracinha (SP), essa percepção gera insegurança, uma vez que traz a expectativa de um novo comportamento na próxima etapa escolar.

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“A construção social em torno do ensino fundamental, muitas vezes reforçada pelos adultos, pode gerar receio. Comentários como ‘agora acabou a brincadeira’ contribuem para a percepção de que o 1º ano será difícil e repleto de exigências, criando barreiras emocionais desde o início”, afirma Mariana Melhado.

Essa mudança de ciclo é um marco importante no percurso escolar. Contudo, para as crianças, é essencial que essa passagem preserve elementos que já eram vividos na fase anterior, como brincadeiras, acolhimento e escuta ativa, que devem ganhar novos contornos. 

“Muitas crianças acreditam que, ao ingressar no 1º ano, perderão o tempo de brincar e o acolhimento das interações lúdicas, que são aspectos essenciais que seguem presentes na rotina”, reforça Tatiana Laviola, professora da educação infantil também da Escola Gracinha. “É preciso combater a falsa ideia de que a escola deixará de ser um espaço de afeto e brincadeira”, completa.

medo simbólico

Transição da educação infantil para o ensino fundamental pode despertar, em algumas crianças, o medo simbólico de crescer (Foto: Ruyk Kitagawa)

De frente com o medo simbólico: possibilidades de acolhimento

O papel da escola é decisivo. Promover uma transição gradual e respeitosa, que valorize a escuta dos alunos e o vínculo entre as equipes pedagógicas dos dois segmentos, é um dos pilares para que o processo ocorra de forma leve e significativa. 

“A escola precisa acolher as angústias que surgem com a mudança. É natural que os alunos expressem medos e dúvidas, e esses sentimentos devem ser reconhecidos com empatia, nunca minimizados”, pontua Mariana.

Ela comenta que, entre as práticas que ajudam a preparar emocionalmente os alunos, estão as trocas entre os próprios estudantes, como rodas de conversa e visitas às salas do 1º ano, que ajudam a diminuir a ansiedade e a criar familiaridade com o novo espaço.

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Do ponto de vista pedagógico, o momento exige também atenção ao ritmo de cada aluno. “O desenvolvimento da leitura e da escrita deve ser conduzido com sensibilidade. Na educação infantil, trabalhamos para que os alunos se sintam seguros diante de suas hipóteses de escrita, reconhecendo que errar, experimentar e testar são partes legítimas e valiosas do processo de aprendizagem”, explica Tatiana. 

Nesse contexto, escrever bilhetes, listas ou receitas, por exemplo, são experiências reais de uso da linguagem, que continuam presentes no 1º ano e reforçam o prazer pela escrita. 

medo simbólico

Mudança de ciclo é um marco importante no percurso escolar (Foto: Ruyk Kitagawa)

Escola e família

Outro ponto central é o papel da família, que precisa ser reconhecido e envolvido nesse processo. “Quando os responsáveis se sentem apoiados, conseguem sustentar emocionalmente a criança e transmitir tranquilidade sobre o que está por vir”, ressalta Mariana. 

Por sua vez, Tatiana observa que a parceria entre escola e família também ajuda a desconstruir a ideia de ruptura entre os ciclos. Mesmo com mudanças naturais nas abordagens pedagógicas, o brincar continua tendo seu espaço. 

“Sim, há diferenças entre as abordagens, mas isso não significa rompimento. O brincar, a escuta e a investigação continuam presentes, agora com uma ampliação de repertório e intencionalidade pedagógica”, conclui Tatiana.

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