Gente verdadeira é como meu povo — e muitos outros — se define. Fique claro que não se trata de um conceito para pessoas, mas para um coletivo, um povo. Não existe uma gente verdadeira, mas, sim, um povo. O indivíduo é formado por elementos de sua cultura e, à medida que passa por rituais, vai ganhando sua ‘alma’, a condição de se chamar ‘gente verdadeira’. Quando o indivíduo se percebe parte e estabelece um pertencimento a um grupo, tem uma visão de mundo peculiar; e essa visão o coloca no coração de seu povo.

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A expressão ‘a gente somos’ tem um sentido bem profundo. Poderia ser taxada como uma falta de concordância gramatical, mas, aqui, não se trata disso. Trata-se de uma compreensão cósmica, ainda que não seja comum nossa gente ancestral definir dessa maneira. O fato é que, consciente ou não, as gentes indígenas sabem que fazem parte de um universo que os torna irmãos de todos os viventes. 

Essa compreensão é a mola mestra que compõe a filosofia e a teologia indígenas. É ela que questiona o mundo materialista ocidental, o qual confunde ser e ter, possuir e pertencer, cuidar e destruir… Enquanto as pessoas continuarem pensando como seres individuais, o mundo estará em perigo, pois pensar dessa maneira é considerar-se superior a todas as coisas e procurar controlar, dominar, comprar, consumir e destruir. Quando é que você poderá também dizer ‘a gente somos’?

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