NOTÍCIA
Mais do que objetivos de inclusão e bom uso, educação digital deve abranger os desdobramentos das inovações além dos ambientes virtuais
Por Vanderlei Dias | A amplitude do uso da inteligência artificial (IA) é irreversível e seus impactos vão além da experiência mais superficial, como interação com chatbots. Para Giselle Santos, consultora da human:ia com mais de 20 anos de experiência em inovação e uma das painelistas da Bett Brasil 2025, descomplicar e aprofundar o entendimento dos sistemas digitais é necessário não apenas para saber usar as ferramentas e plataformas. “É preciso pensar algumas casas à frente. Temos que questionar os objetivos e efetividade; os vieses e lacunas que vêm com as ferramentas; as vulnerabilidades e os impactos, como desinformação e uso abusivo de dados”, menciona.
—————————–
Inteligência artificial na educação, das promessas à realidade
Proibição dos aparelhos celulares não pode impedir a inserção da tecnologia nas aulas
—————————–
Junto à discussão sobre o uso de IA por docentes e no ambiente escolar, Giselle lembra que o letramento digital não abrange apenas a vida diante das telas. Os dados e algoritmos, hoje, permeiam questões de transporte, moradia, emprego e vários outros aspectos impactados pelas inovações tecnológicas. “Ninguém está distante dos efeitos da desinformação, da dependência de plataformas ou do uso de seus dados”, constata.
Sobre a sua participação na Bett 2025, adianta: “Mais do que respostas, o objetivo é ajudar a formular e aprofundar as perguntas antes de pensar nas iniciativas”.
Giselle Santos lembra que o letramento digital não abrange apenas a vida diante das telas (Foto: Shutterstock)
Giselle observa que o acesso à tecnologia, à informação e ao próprio repertório do mundo digital chegam de forma bem diferente em cada contexto. Limitações nos dispositivos, na conectividade e uso restrito a poucos canais, principalmente redes sociais, contribuem para distanciar os internautas de informação com qualidade.
A avaliação de Giselle converge com os dados da pesquisa TIC Domicílios, que revela que o acesso à internet chegou a 84% em 2024. Todavia, quando se adota o critério de conectividade significativa, em uma pontuação de 0 a 9, apenas 22% têm 7 ou acima. “Esse indicador considera ter banda larga por um custo razoável; usar vários tipos de dispositivos; a qualidade da conexão; e a diversidade de ambientes em que navega”, descreve Fábio Senne, coordenador-geral de pesquisas do Cetic.br.
—————————–
“Transformamos bons professores em maus gestores” | Entrevista com Xavier Aragay
—————————–
A consultora defende que, independentemente das tecnologias, os docentes devem determinar os conteúdos, métodos, critérios de avaliação e objetivos, para a partir disso decidir como aplicar novos recursos. “Não se podem ver as plataformas e ferramentas como salvação ou base das transformações. Os produtos têm seus ciclos e o mercado pode mudar a qualquer momento”, adverte.
A consultora Giselle Santos estará na área Roda de conversa, 1º andar. O título de seu painel é Nunca é só um clique: a inteligência artificial entre promessas, medos e o impacto real na educação. Será em 29 de abril, das 17h às 18h.
Giselle Santos é especialista em inovação estratégica, IA aplicada e transformação digital (Foto: reprodução)
——
Revista Educação: referência há 30 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica
——