Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo
Publicado em 14/04/2025
A escassez de professores(as) é global: segundo a Unesco, África Subsaariana precisará de 15 milhões de docentes; Ásia 7,8 milhões; Europa e América do Norte 4,8 milhões; já na América Latina e no Caribe, a demanda será de 3,2 milhões
Recentemente, estive em Dubai, participando do SPARK Education, evento global organizado pela Varkey Foundation para debater educação sob diferentes óticas. O encontro reuniu líderes mundiais e professores globais para dialogar sobre educação e acompanhar a final do Global Teacher Prize, cujo vencedor deste ano foi o professor da Arábia Saudita, Mansour Al Mansour. Em 2019, tive a oportunidade de ser a primeira mulher brasileira e a primeira sul-americana a estar entre os 10 finalistas, recebendo o título de uma das 10 melhores professoras do mundo.
Durante um workshop realizado pela Unesco, fomos apresentados a dados alarmantes: estima-se que até 2030 haverá uma falta de 44 milhões de professores no mundo, afetando tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento. Desses, aproximadamente 70% são requeridos no ensino secundário, com uma necessidade ainda mais crítica em áreas rurais e periféricas, cujos sistemas educacionais já enfrentam sérias dificuldades. Esse quadro não apenas compromete a qualidade da educação, mas também contribui para a desmotivação dos estudantes, agrava a desigualdade social e prejudica o desenvolvimento econômico das nações.
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O relatório destaca que a escassez de professores é um problema global, sendo a taxa de abandono da profissão maior entre os homens. Neste cenário, é preciso lembrar que a educação é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento de sociedades justas e equitativas. No entanto, essa escassez representa uma ameaça significativa a esse princípio. A situação exige uma análise cuidadosa das causas/soluções e um olhar apurado para cada território.
Nesse relatório global, a Unesco chama a atenção para a magnitude dessa crise e oferece soluções claras para que os governos enfrentem o problema. Como podemos reverter essa tendência? A receita é simples — quase óbvia. Por meio de uma combinação de políticas que melhorem as condições de trabalho, aumentem os salários e fortaleçam a formação docente inicial e continuada. Hoje, mais do que nunca, o futuro da educação global depende de decisões ousadas e eficazes.
A região mais impactada pela escassez de professores é a África Subsaariana, cujo crescimento populacional resulta em salas de aula cada vez mais superlotadas. Até 2030, essa região precisará de cerca de 15 milhões de professores adicionais para atender à demanda nas esferas da educação primária e secundária. O Sul da Ásia também apresenta um cenário alarmante, com uma previsão de necessidade de 7,8 milhões de professores adicionais.
Na Europa e na América do Norte, a situação é marcada pela falta de atratividade dos salários e pelas condições de trabalho insatisfatórias, que têm dificultado a retenção de educadores nos sistemas escolares. Nesses locais, estima-se que serão necessários cerca de 4,8 milhões de professores até 2030, evidenciando que a escassez é uma questão de alcance global, exigindo soluções adaptadas a cada contexto local.
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Na América Latina e no Caribe, a demanda é por 3,2 milhões de professores, sendo que 2,8 milhões dessa necessidade se devem à perda de profissionais. A meta atual de contratação representa apenas 60% dos objetivos estabelecidos em 2016, sublinhando a urgência em intensificar os esforços para enfrentar esse desafio.
Entre as principais causas da escassez de professores, destacam-se fatores como a falta de investimento em formação docente, as condições de trabalho inadequadas, os baixos salários e a desvalorização da profissão.
Em muitos países, especialmente em regiões mais vulneráveis, a formação de professores não é priorizada, resultando em profissionais mal preparados para enfrentar os desafios atuais da sala de aula. Além disso, a alta carga de trabalho, a falta de recursos e a insegurança em algumas áreas tornam a carreira docente ainda menos atraente.
Outro aspecto crítico é a saída de professores do mercado de trabalho. A pandemia de Covid-19, que não pode ser esquecida, acentuou essa tendência, com muitos educadores decidindo deixar a profissão devido ao estresse, à sobrecarga emocional e à falta de apoio. Essa perda não só agrava a escassez, mas também compromete a qualidade da educação, uma vez que a experiência e o conhecimento dos professores são fundamentais para o aprendizado dos estudantes.
O futuro da educação depende dos professores, e agora, mais do que nunca, é necessário apoiá-los (Foto: Shutterstock)
Em primeiro lugar, é essencial aumentar o investimento na formação inicial e continuada dos educadores, garantindo que tenham acesso a programas de capacitação de excelência e experiências práticas pedagógicas, como cultura maker e metodologias ativas. Além disso, é crucial melhorar as condições de trabalho, oferecendo remunerações justas e benefícios que valorizem a profissão, além de proporcionar suporte psicológico e emocional.
A colaboração entre diversos setores da sociedade, incluindo governos, ONGs e comunidades locais, é vital para enfrentar a falta de professores. A união de esforços pode gerar práticas inovadoras e sustentáveis que atraiam novos profissionais para a educação e que façam com que os já atuantes se sintam valorizados e motivados. Também é fundamental promover a igualdade de gênero na profissão docente, pois em muitas regiões as mulheres ainda são sub-representadas nas áreas de STEAM, tecnologia e em cargos de liderança na educação.
A falta de professores é um desafio global que demanda uma resposta imediata e coordenada. A boa notícia é que as soluções estão nas nossas mãos. Por meio de investimentos, da melhoria das condições de trabalho e da implementação de políticas inclusivas voltadas para o bem-estar dos educadores, podemos reverter essa crise. O futuro da educação depende dos professores, e agora, mais do que nunca, é necessário apoiá-los para que possam desempenhar seu papel essencial na construção de um mundo mais justo e equitativo.
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