Diretor da EMEF Profa. Maria Aparecida Rodrigues Cintra, SP, mestre em educação. Professor do 'Uma jornada pela diáspora africana' (prêmio Educação em Direitos Humanos, SMDHC - SP) e professor de pedagogia do Instituto Vera Cruz.
Publicado em 08/04/2025
A escola pode e deve ser o espaço em que outras realidades se tornam visíveis e alcançáveis
Na exposição Comigo ninguém pode — sobre a pintura de Jeff Alan*, as cores vibrantes e as palavras ‘sonhos, coragem e poder’ destacam-se sob o olhar grave das personagens retratadas. Em um dos quadros, uma garota olha para o lado, e em sua mochila lê-se ‘sonhos vivos’. Essa imagem nos convida a refletir: quais sonhos vivem nas mentes das milhares de crianças, adolescentes e jovens que frequentam as escolas brasileiras? E, mais importante, como a escola do século 21, no contexto brasileiro, pode manter esses sonhos vivos e ampliar os horizontes para que novas realidades se tornem possíveis?
A escola, como espaço democrático, tem o potencial de oferecer experiências educativas, sendo o lugar da produção de saberes e sentidos, em que outras realidades se tornam visíveis e alcançáveis. A arte de sonhar está ancorada ao repertório que cada indivíduo constrói ao longo de sua trajetória. Por isso, a leitura, as artes, as práticas corporais, as ciências, os saberes populares e a conexão entre a escola e o território são elementos fundamentais para ampliar as perspectivas de vida dos estudantes.
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No entanto, não é a hierarquização de disciplinas ou o aumento da carga horária de uma área em detrimento de outra que tornará a educação mais eficiente. A verdadeira mudança está na escola cumprindo seu papel de garantir os direitos de aprendizagem de todos. Quanto mais diversas e amplas forem as experiências oferecidas, mais consistentes serão os processos e resultados das aprendizagens. A qualidade social da educação só será alcançada quando a escola proporcionar acesso a múltiplos saberes, sem restringir-se a um ou dois campos do conhecimento.
Esses saberes circulam por toda a sociedade, e cabe à escola selecionar aqueles que têm relevância cultural e estratégica para sua comunidade, alinhados ao projeto de sociedade que desejamos construir. Para que nossos estudantes mantenham seus sonhos vivos, a escola precisa ampliar suas experiências educativas, de modo que as maneiras de viver e seus destinos sociais sejam fruto de uma complexa forma de escolhas e não uma sentença de sua origem social.
As políticas públicas têm um papel crucial nesse processo, assegurando que o conhecimento seja acessível a todos e, independentemente da localização ou do público que atende, a escola precisa urgentemente, como na obra de Auritha Tabajara, ter o “Coração na aldeia, pés no mundo”, mostrando que os saberes podem levar a destinos inimagináveis.
*A exposição do artista pernambucano esteve em cartaz na Caixa Cultural São Paulo entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Curadoria do antropólogo Bruno Albertim
Como a escola do século 21, no contexto brasileiro, pode manter esses sonhos vivos e ampliar os horizontes para que novas realidades se tornem possíveis? (Foto: Shutterstock)
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