NOTÍCIA

Políticas Públicas

Autor

Paulo de Camargo

Publicado em 04/04/2025

Atrair bons professores(as): um desafio planetário

O indicador mais importante é o status social dos professores, avalia o alemão Andreas Schleicher, coordenador do Pisa

Poderia até parecer um consolo, mas não é. Mundo afora, salvo exceções, o diagnóstico de uma profissão subvalorizada pela sociedade e pelos governos é parecido: a atratividade da profissão é baixa e faltam professores. Segundo a Unesco, é necessário formar 44 milhões de docentes a mais até 2030, quando termina o prazo estabelecido para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). É evidente que o problema se localiza mais fortemente nos países mais pobres do mundo.

Para o alemão Andreas Schleicher, coordenador do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o salário é importante, mas não dá conta de todo o problema. “Luxemburgo paga um dos maiores salários de professores, mas enfrenta enorme escassez. Na Finlândia, os salários são relativamente mais baixos e, ainda assim, 10 candidatos estão na fila para cada vaga”, exemplifica. “Isso diz que o dinheiro só leva você até certo ponto. O dinheiro é um desmotivador extrínseco óbvio, quando os salários são inadequados, mas raramente é um motivador intrínseco para pessoas que trabalham na educação”, sintetiza.

 

valorização dos professores

Foto: Shutterstock

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O indicador mais importante é o status social dos professores, avalia Schleicher. Em Cingapura, Coreia do Sul e Finlândia, segundo dados da pesquisa Talis, dois terços dos professores sentem que seu trabalho é valorizado pela sociedade. Na Suécia e na França, é apenas um em 20. “O Brasil está na extremidade inferior, com apenas 10% dos professores se sentindo valorizados. O que torna um trabalho atraente é sempre uma combinação do status social do trabalho, as contribuições que as pessoas sentem que podem fazer e até que ponto a docência é financeira e intelectualmente gratificante”, resume.

Onde o desafio de valorizar a docência foi equacionado, há boas pistas a seguir. Segundo Claudia Costin, em alguns países, entre eles China (Shangai), Coreia do Sul e Finlândia, os professores entram na profissão com a mentoria de um mestre — um docente mais experiente remunerado para apoiar o iniciante, assistindo às suas aulas, oferecendo conselhos e apoio. O novato também assiste às aulas dos mais experientes.

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Outra estratégia adotada é oferecer estímulos para que o melhor estudante do ensino médio trilhe a carreira docente (como pretende fazer o Pé-de-Meia Licenciaturas).

Há também propostas como a de estabelecer um mestrado profissional para a carreira docente, logo no início, baseado na prática docente. “Prioriza-se aquilo que o Brasil não enfatiza, que é a prática profissional. O professor precisa de teoria, sim, precisa aprender a história da educação, sociologia da educação, psicologia da educação, mas precisa entender essas disciplinas em diálogo com a prática profissional”, defende Claudia Costin. Segundo ela, a docência é tão desafiadora, do ponto de vista profissional, como ser médico, mas nenhum aluno se torna doutor sem pisar em um hospital universitário antes. “A mesma coisa deveria ser feita com a educação”, defende.

“Nossos dados sugerem que o maior impacto é com o desenvolvimento profissional que ocorre nas escolas e que é colaborativo. Grandes professores querem trabalhar em sistemas com uma cultura de compartilhamento. Quanto mais os professores ensinam em conjunto como uma equipe, mais eles observam as aulas de outros professores e quanto mais eles participam do aprendizado profissional colaborativo, maior é seu senso de autoeficácia”, finaliza Andreas Schleicher.

valorização dos professores

Andreas Schleicher é coordenador do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) (Foto: reprodução/OCDE)

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