Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo
Publicado em 19/03/2025
Entre os caminhos viáveis está a criação de comunidades de prática, para o compartilhamento de experiências, desafios e soluções
A formação docente é um tema central no debate educacional contemporâneo, especialmente em um mundo cada vez mais digital, interconectado e com problemas no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, esse processo enfrenta diversas dores e desafios que precisam ser superados para que os educadores possam desempenhar seu papel com eficácia e confiança.
Não é de hoje que o Brasil enfrenta desafios significativos para superar as dificuldades em áreas do conhecimento como matemática, leitura, interpretação de textos e alfabetização, que afetam a qualidade da educação e o desenvolvimento dos estudantes. Entre os principais problemas, estão a desigualdade de acesso a uma educação de excelência, que resulta em disparidades regionais e socioeconômicas, além da falta de recursos e infraestrutura adequada nas escolas, especialmente nas áreas mais carentes.
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A formação contínua e a valorização dos professores também são questões cruciais para reverter esse quadro, uma vez que muitos educadores enfrentam dificuldades em implementar metodologias eficazes de ensino. Ademais, a baixa valorização da leitura e da cultura do estudo em muitos contextos familiares e comunitários contribuem para a desmotivação dos estudantes. A junção desses fatores impede que o país avance de maneira significativa em indicadores educacionais, perpetuando um ciclo de baixo desempenho e exclusão social.
Dentro desse cenário, o desenvolvimento de competências digitais é uma necessidade urgente, e a formação contínua deve ser vista como uma trilha que não apenas facilita o desenvolvimento profissional, mas também enriquece a experiência de ensino e aprendizado.
As dores da formação docente são multifacetadas. Muitas vezes, os professores se sentem despreparados para lidar com as demandas atuais, que incluem a integração de tecnologias emergentes no cotidiano escolar, com aulas engajadoras e dinâmicas. Além disso, a formação inicial muitas vezes não aborda de maneira adequada as metodologias ativas, a educação inclusiva e a personalização do ensino.
Essa lacuna pode resultar em insegurança e frustração, dificultando a capacidade dos educadores de engajar alunos em um ambiente de aprendizado que exige cada vez mais inovação e criatividade.
Outro desafio significativo é a crença na mudança. Em muitos contextos, os educadores estão habituados a métodos tradicionais de ensino e podem hesitar em adotar novas abordagens que envolvem tecnologia. Essa resistência é alimentada pela falta de suporte e formação continuada que ofereça as ferramentas necessárias para essa transição. Assim, a formação docente se torna uma jornada repleta de obstáculos, mas é precisamente nesse percurso que reside a oportunidade de transformação.
Para superar essas dores e construir uma formação robusta e significativa, é fundamental que as Secretarias de Educação e instituições de ensino adotem uma abordagem estruturada e contínua. A formação deve ser concebida como um processo permanente, com oferta de cursos, workshops e programas de desenvolvimento profissional que abordem não apenas o uso de tecnologias, mas também a pedagogia contemporânea.
O investimento em formação continuada permite que os educadores se atualizem sobre metodologias inovadoras e adquiram competências digitais essenciais. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, é um documento normativo que orienta a formação de professores no Brasil, destacando a importância de desenvolver competências que vão além do conteúdo curricular.
A BNCC enfatiza a necessidade de formar estudantes críticos, criativos e capazes de usar a tecnologia de forma ética e responsável. Além disso, a Resolução CNE/CP nº 2/2019, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores, também ressalta a relevância de preparar os educadores para a educação digital, enfatizando a necessidade de incluir o uso de tecnologias da informação e comunicação (TIC) nas práticas pedagógicas.
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Um caminho viável para a formação docente é a criação de comunidades de prática, nas quais os docentes podem compartilhar experiências, desafios e soluções. Essas comunidades promovem um ambiente de colaboração e aprendizado mútuo, permitindo que os professores se sintam apoiados em sua jornada de formação. Além disso, a utilização de plataformas digitais para a troca de conhecimentos e recursos pode facilitar o acesso a materiais de formação e experiências práticas.
Desenvolver competências digitais é um aspecto crucial do processo de formação. Os educadores precisam se familiarizar com ferramentas tecnológicas que podem enriquecer o ensino, como plataformas de aprendizado online, recursos interativos e aplicativos educacionais. O uso de tecnologias como as salas de aula invertidas e o ensino híbrido pode transformar a dinâmica de aprendizagem, permitindo que os estudantes tenham um papel mais ativo em seu processo educativo.
Para que a formação docente seja efetiva, é necessário que os educadores tenham acesso a uma infraestrutura adequada e a recursos tecnológicos que facilitem a implementação das novas metodologias. As escolas devem investir em laboratórios e espaços de inovação, acesso à internet de qualidade e dispositivos móveis que permitam uma integração fluida entre o digital e o presencial.
Foto: Shutterstock
Também é imprescindível que a formação docente inclua uma perspectiva crítica sobre o uso da tecnologia e de metodologias ativas. Os educadores devem ser capacitados a discutir questões como privacidade, segurança digital e ética no ambiente online e formas de abordar esses temas para uma aprendizagem ativa. Essa abordagem não apenas prepara os professores para o uso responsável das ferramentas digitais, mas também os habilita a guiar seus estudantes nesse caminho.
A formação docente é uma trilha repleta de desafios, mas também de oportunidades para crescimento e inovação. Ao reconhecer as dores desse processo e trabalhar para superá-las, as Secretarias de Educação e instituições de ensino podem capacitar seus educadores a se tornarem agentes de transformação.
Com uma abordagem focada no desenvolvimento de competências digitais e na formação contínua, será possível construir um ensino mais relevante, inclusivo e preparado para os desafios atuais. Portanto, a formação docente não é apenas um requisito, mas uma verdadeira trilha para o sucesso educacional.
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