NOTÍCIA

Opinião

Autor

Redação revista Educação

Publicado em 30/12/2024

Inteligência artificial nas carreiras técnicas: perspectivas para 2025

O futuro exige profissionais que compreendam não apenas a lógica da tecnologia, mas também o impacto social e ético de suas ações

Por Gilberto Garcia*, gerente de desenvolvimento do Senac São Paulo: A inteligência artificial (IA) está promovendo uma transformação profunda nas carreiras técnicas. Funções que antes se baseavam em atividades operacionais repetitivas agora exigem competências em análise de dados, pensamento crítico e domínio de tecnologias. Essa nova dinâmica desafia o modelo tradicional de formação técnica e impulsiona instituições de ensino e empresas a repensarem suas práticas.

A Quarta Revolução Industrial, descrita por Klaus Schwab (2016), já previa esse cenário de transformação. O autor destaca que o avanço tecnológico modificaria profundamente a forma como as pessoas vivem, trabalham e se relacionam. Isso já pode ser observado no mercado de trabalho, cuja IA não só substitui algumas tarefas humanas, mas também cria novas ocupações.

No setor de saúde, por exemplo, a IA está presente no registro de exames, na automação de dispensação de medicamentos e nos procedimentos de triagem. Essa mudança não elimina o papel dos técnicos da área de saúde e dos profissionais de apoio, mas modifica suas funções. Com os processos operacionais automatizados, esses profissionais podem dedicar mais tempo ao cuidado direto com os pacientes, fortalecendo o atendimento humanizado.

No setor de turismo, a IA personaliza roteiros e cria itinerários individualizados, propondo experiências mais alinhadas aos interesses do viajante. Isso não elimina a necessidade de guias de turismo, mas amplia suas possibilidades de atuação. Já no setor financeiro, a automatização de processos de crédito e a análise de risco com base em IA permitem decisões mais rápidas e precisas, o que transforma o perfil dos profissionais da área.

——

Leia também

Inteligência artificial na educação, das promessas à realidade

Utilizar a inteligência artificial na educação, mas com ética e responsabilidade

——

Para que o mercado de trabalho técnico acompanhe essas mudanças, é essencial que as instituições de ensino técnico atualizem seus currículos e metodologias de ensino. Segundo um estudo da IBM, 41% das empresas brasileiras já implementaram ativamente a IA em seus negócios, o que sinaliza a urgência de formar profissionais capacitados para atuar nesse cenário. 

No entanto, ensinar o uso técnico das ferramentas não é suficiente. A nova realidade exige competências mais abrangentes, como o pensamento crítico, a criatividade e a adaptação constante.

Outro aspecto crucial é a ética no uso da IA. Para garantir que os algoritmos sejam justos e imparciais, os futuros profissionais técnicos precisam ser formados para reconhecer e corrigir eventuais vieses nos sistemas. 

Segundo a consultoria KPMG, o Brasil está entre os países que mais confiam na aplicação da IA no ambiente de trabalho, mas isso exige a adoção de práticas transparentes e responsáveis. A formação ética torna-se, assim, uma peça central nos cursos técnicos, pois futuros analistas de IA e técnicos que operam sistemas automatizados devem ser capazes de identificar riscos éticos e propor soluções para mitigá-los.

 

inteligência artificial

É preciso formar agentes de mudança, pessoas capazes de criar soluções inovadoras e de interagir com tecnologias inteligentes de maneira ética e responsável (Foto: Shutterstock)

Formação de professores também ponto de atenção

Embora o senso comum aponte que os jovens, por serem ‘nativos digitais’, possuem fluência natural em tecnologias, essa lógica não se aplica ao contexto das profissões técnicas. O domínio de redes sociais e aplicativos de uso pessoal não se traduz em conhecimento técnico sobre IA. Professores precisam ser formados para trabalhar com IA e orientar seus alunos no uso crítico e responsável dessas tecnologias.

Além disso, a exclusão digital ainda é uma realidade no Brasil e pode se tornar um obstáculo para a democratização do acesso à educação técnica de qualidade. Pesquisa encomendada pela Lenovo à consultoria IDC revela que, embora o Brasil seja o maior investidor em infraestrutura de IA na América Latina, muitas regiões ainda carecem de acesso à internet de qualidade e de equipamentos adequados. Superar esse desafio exige investimentos e políticas públicas que garantam a inclusão digital para todos os estudantes.

Apesar desse cenário, as oportunidades oferecidas pela IA no ensino técnico são amplas, mas a formação técnica precisa ser repensada, não podendo ser mais um aprendizado estático. É preciso formar agentes de mudança, pessoas capazes de criar soluções inovadoras e de interagir com tecnologias inteligentes de maneira ética e responsável. Isso exige uma educação mais inclusiva, baseada na democratização do acesso à tecnologia, na capacitação contínua de professores e no desenvolvimento de currículos dinâmicos.

——

Leia também

Brasil patina na recuperação da aprendizagem

Mais da metade dos brasileiros não lê livros, aponta pesquisa

——

Com os investimentos em IA crescendo exponencialmente e as previsões de aumento na oferta de empregos, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como uma potência na capacitação de profissionais técnicos. Isso só será possível se a formação for capaz de preparar trabalhadores para os desafios de um mundo automatizado e, ao mesmo tempo, mais humano.

O futuro exige profissionais que compreendam não apenas a lógica da tecnologia, mas também o impacto social e ético de suas ações. Nesse sentido, o desafio está em equilibrar o uso eficiente da IA com uma formação crítica, inclusiva e humanizada.

Profissionais bem formados decidirão os rumos da tecnologia. Eles serão os agentes de uma nova era do trabalho, onde a IA não será uma substituta, mas uma aliada para transformar o mercado de trabalho em um espaço mais justo, eficiente e inclusivo.

*Gilberto Garcia é mestre em educação, arte e história da cultura e atua no Senac há 28 anos. Atualmente é gerente de desenvolvimento do Senac São Paulo e responsável pela gestão do portfólio de cursos de inteligência artificial.

——

Revista Educação: referência há 29 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica

——

Escute nosso podcast

 


Leia Opinião

Business,Ethics,And,Compliance,Concept.,Ethical,Investment,,Sustianable,Development.,Business

Inteligência artificial nas carreiras técnicas: perspectivas para 2025

+ Mais Informações
inteligência artificial na educação - foto shutterstock

Inteligência artificial na educação é promissora, mas traz desafios

+ Mais Informações
WhatsApp Image 2024-11-14 at 18.01.31

O poder transformador da leitura em futuros educadores

+ Mais Informações
WhatsApp Image 2024-10-22 at 12.03.02

Promovendo a inclusão: terminologias e práticas na educação para todos

+ Mais Informações

Mapa do Site