NOTÍCIA
Com veto presidencial a mudanças na avaliação em 2027, discussão sobre o tema continua; especialistas destacam desafios e possibilidades de alterações
Publicado em 01/11/2024
Em agosto, o presidente Lula sancionou a reforma do ensino médio, com veto às mudanças no Enem. O texto previa que a prova fosse atualizada em 2027, quando passaria a cobrar também os conteúdos da parte flexível do currículo. O veto se deu, segundo o governo, porque essa cobrança poderia “comprometer a equivalência das provas, afetar as condições de isonomia na participação dos processos seletivos e aprofundar as desigualdades de acesso ao ensino superior”. Desta forma, a possibilidade de um novo Enem e o prazo para que ele se concretize seguem indefinidos, e a discussão com relação à adaptação seguirá na pauta da educação (o veto ainda pode, porém, ser derrubado no Congresso).
Atualizar a prova é um grande desafio. Mas, para Viviane Paiva Direito, coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Franciscano Pio XII, de São Paulo, essa mudança, ainda que difícil — sobretudo devido às desigualdades do país — é necessária, inclusive para contemplar a dinâmica da flexibilidade.
“O Enem precisa passar por uma alteração, que seja por essa questão da BNCC [Base Nacional Comum Curricular] e da reforma, mas também por um outro olhar da educação. O mundo está mudando, a educação está mudando, as formas de expressar conhecimento estão mudando. A gente não vê mais a competência de um aluno pela quantidade de conteúdo que ele é capaz de absorver, mas sim o quanto de conteúdo e de habilidade, de competência, ele é capaz de desenvolver”, afirma a educadora.
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A coordenadora lembra que, inicialmente, o Enem já seria atualizado neste ano — compreendendo a reforma do ensino médio que foi aprovada em 2017. A primeira parte da avaliação abarcaria a formação geral básica e, a segunda, a parte flexível. “No segundo dia, teria um formato diferenciado, em que os jovens poderiam escolher por blocos”, pontua. Nesse caso, a prova passaria a cobrar também os itinerários formativos, e os alunos escolheriam blocos temáticos de acordo com o percurso que escolheram seguir.
Viviane destaca, porém, que os itinerários acabaram por ressaltar o desequilíbrio entre educação pública e privada no país. “O abismo ficou maior do que já era”, analisa. Contudo, ela acredita que, numa atualização, essa cobrança da parte flexível seria interessante para criar uma maior conexão com os jovens e até mesmo com o que o mercado de trabalho pede.
Para Fabrício Pires, diretor de ensino do Colégio Master, de Fortaleza, CE, pensar em mudar o Enem traz desafios, principalmente ao se levar em conta a dimensão continental do Brasil.
“Quando a gente fala em propor uma mudança em que temos a possibilidade de alguns itinerários formativos, algumas áreas do conhecimento terem avaliações diferentes, fica um pouco difícil para você mensurar. Teria de haver um regimento, uma normativa igual para todos os estados. O Brasil é um país continental, com uma diversidade gigante. A realidade que você tem para os jovens do Norte é diferente do que você precisa de formação para os jovens das regiões Sul e Sudeste, porque o Brasil tem possibilidades de mercado de trabalho muito diversas”, avalia.
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Devido a essa diversidade, o coordenador entende que cobrar a formação básica acaba sendo uma alternativa mais justa. “Acredito que a Base Nacional Comum Curricular, os conteúdos que são ali base para todo o território nacional, são realmente os conteúdos que a gente tem uma tranquilidade maior para conseguir ter um processo avaliativo mais seguro, mais justo para todos”, afirma.
Ainda que avalie que seja difícil cobrar a parte flexível no Enem, o educador acredita que a inserção do projeto de vida no ensino médio foi positiva. “Algumas coisas que foram propostas na mudança do ensino médio são muito benéficas, como a forma de você preparar o estudante para ingressar no ensino superior tendo uma certeza maior da área que ele quer seguir”, pontua. Com relação a atualizações na avaliação, ele acredita que é possível discutir outras medidas, como a realização de mais de uma prova por ano e aplicação digital, por exemplo.
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