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Colunista

José Pacheco

Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)

Publicado em 24/09/2024

Campanha eleitoral, um pesadelo

Entre promessas imprudentes, sociedade necessita refletir sobre o ato de educar

Algures, 1º de julho de 2044, coluna José Pacheco: No decurso de uma campanha eleitoral, cheguei à fala com candidatos à eleição. Diálogo difícil, pois, sempre que eu lhes falava de aprendizagem, eles falavam de aulas, se lhes falava de educação e de crianças, eles falavam de dinheiro. As propostas dos partidos, no campo da educação, eram paupérrimas. Eram a negação de princípios constitucionais. Iam na contramão de corajosas iniciativas como a da secretaria de Mendes [RJ]. Ofendiam a memória de insignes educadores e políticos como Darcy. Veja-se, por exemplo, o que a ‘iniciativa liberal’ propunha, no âmbito da ‘inclusão de alunos com necessidades especiais’:

“Os alunos com necessidades especiais devem ser enquadrados na escola de uma forma que atenda à gravidade das suas necessidades. Se essas necessidades forem compatíveis com um ritmo normal de aprendizagem — por exemplo, se forem de natureza motora — então os alunos devem ser incluídos em turmas normais. 

Se, por outro lado, as necessidades especiais não forem compatíveis com um ritmo normal de aprendizagem — por exemplo, se forem de natureza cognitiva ou comportamental — então esses alunos devem ser inscritos em turmas especiais lideradas por professores e outros profissionais devidamente habilitados para lidar com essas limitações”.

Campanha eleitoral, um pesadelo

Também no domínio da ‘inclusão’, os programas eleitorais dos partidos eram autênticos pesadelos. Os seus autores, certamente, não teriam lido a Declaração de Salamanca (Foto: Shutterstock)

“Enquadrados na escola”, “ritmo normal de aprendizagem”, “turmas normais”, “turmas especiais”…um chorrilho de disparates.

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Também no domínio da ‘inclusão’, os programas eleitorais dos partidos eram autênticos pesadelos. Os seus autores, certamente, não teriam lido a Declaração de Salamanca. Os políticos e ‘especialistas’ que os redigiram pareciam saídos das catacumbas pedagógicas da proto-história da educação.

Em contraponto com o festival de horrores eleitoreiro, havia quem quisesse “combater a mercantilização, reverter a precariedade, defender o fim dos exames. Alguns candidatos falavam de “combate à burocracia e autonomia institucional, assegurando a autorresponsabilidade das escolas, rever a organização dos mega-agrupamentos, recuperar a gestão democrática, reestabelecer um modelo colegial de direção escolar e uma reforma do sistema de ensino centrado nos conteúdos e na ilusão de que uma prova escrita é um instrumento infalível de avaliação de um aluno, ou de uma escola” (sic). 

Havia quem propusesse “construir comunidades educativas preparadas para os desafios do século XXI, escolas que transitassem para um modelo de educação assente num conhecimento dinâmico” (sic).

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Mas também havia negacionistas que evocavam ‘evidências científicas’ para forçar a continuidade da mesmice. E o Paulo desabafava:

“Há tempos, eu prometi não escrever sobre temas políticos. Peço perdão por fazê-lo. A todas e todos que se sentirem incomodados me desculpo. Há tempos em que não se pode esconder na poesia, nem buscar consolo na memória do menino que um dia fui e que deixei perdido numa distante esquina do tempo. 

O dia de hoje é para esquecê-lo, de apagar da mente o pesadelo destes dias impregnados pela ignorância profunda, oriunda de gentes que pouco sabem, que não se compadecem dos aflitos, que desconhecem o amor, que se apegam a mitos. 

No julho de 2024, regressei a Maricá para ajudar a Bruna a retomar um projeto de comunidade interrompido por efeito da corrupção moral, econômica e ética. E o amigo Paulo expressava a sua indignação relativamente a uma situação específica, mas que podíamos transpor para o quadro de uma profunda crise a que Darcy chamou projeto — urgia humanizar o ato de educar.

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