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Autor

Maria Eugênia

Publicado em 04/09/2024

Crise climática e o direito à educação

Como garantir que crianças e adolescentes tenham direito à educação em meio a grandes tragédias?

“A gente precisa de ajuda, apoio, autoridade, para que essa autoridade veja nossa realidade, a situação que estamos passando”, alerta Beto Fernandes Torres, indígena do povo Tikuna e professor na Escola Municipal Indígena Marechal Rondon, localizado no município amazonense Benjamin Constant, região do Alto Solimões. A área indígena em que Beto dá aula sofre com o calor intenso e com a seca do rio, um cenário que dificulta o acesso à educação e também à alimentação dos alunos, que pela dificuldade de transporte nem sempre recebem as merendas escolares. 

“Ninguém sabe o que vai acontecer com a gente. Ninguém sabe o que vai acontecer com o povo Tikuna da região”, alerta Beto Fernandes Torres. 

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O professor indígena Beto Fernandes participou segunda, 2, do 8º Congresso Internacional de Jornalismo da Educação, realizado em SP pela Jeduca, a associação de jornalistas de educação, por meio do painel A crise climática e a educação. 

Como a educação deve lidar com os atingidos pela emergência climática e ainda conscientizar as novas gerações foi destaque da mesa que contou com, além do Tikuna, mais dois especialistas, o oficial de clima, meio ambiente e redução de riscos de desastres do Unicef, Danilo Moura, e com a secretária de Educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira. A mediação ficou por conta de Paula Ferreira, jornalista do Estadão

direito à educação

“A gente precisa entender a crise climática como uma crise para os direitos das crianças”, aponta Danilo Moura (Foto: Shutterstock)

A busca por alternativas

Para amenizar os problemas ocasionados pela seca, por exemplo, a dificuldade de plantio, o professor Beto Fernandes Torres criou o projeto Jovens Comunicadores, uma iniciativa que reuniu estudantes da escola para conscientizar outros estudantes e as famílias indígenas sobre o cenário. Nos finais de semana, Beto e os alunos passam de casa em casa distribuindo alimentos. 

Outra iniciativa do Tikuna foi a criação de um novo currículo não só para a escola, mas para todo o município. “Eu, como professor, conversei com a gestora da escola da minha aldeia. Como podemos trabalhar em cima da temática que estamos vivendo hoje? Criamos o currículo: formas práticas de educar”, explica Beto Torres, cujo intuito é uma educação que dialogue com a realidade local, indígena, respeitando e valorizando a cultura local. 

Rio Grande do Sul

Devido à catástrofe com as enchentes no Rio Grande do Sul, que teve início no final de abril deste ano, o estado enfrentou e ainda enfrenta dificuldade na garantia à educação para as crianças e adolescentes. A secretária de Educação Raquel Teixeira conta que com a catástrofe climática, 1.104 escolas foram afetadas, 608 tiveram a infraestrutura danificada, 89 instituições serviram de abrigo e 403.528 estudantes da rede estadual foram diretamente impactados.

Grupos de apoio e acolhimento, revezamento de turmas para buscar manter o atendimento presencial, e-books, lives, cadernos de apoio e a criação de um mapa de impacto, traçado para monitorar o resultado das enchentes nas escolas e encontrar soluções, foram algumas das estratégias adotadas pela secretaria de Educação do estado para que os estudantes pudessem voltar a ter suas aulas presencialmente. 

direito à educação

Da esq. para a dir: Beto Fernandes, Danilo Moura, Raquel Teixeira e Paula Ferreira (Foto: revista Educação)

“Hoje, temos 100% dos alunos tendo as aulas presenciais. 15 escolas estão fora dos espaços originais, ou estão em igrejas ou espaços que nós alugamos. Estamos tendo aulas presenciais em situações improvisadas”, detalha Raquel Teixeira. 

Para a secretária de Educação do Rio Grande do Sul, não dá para passar por tudo isso e sair do mesmo jeito, é preciso discutir a refundação da educação sobre novas bases. Além disso, as escolas não podem deixar de saber sobre as mudanças climáticas, e entender como manter a educação nas situações mais adversas.  

“Ainda há tempo, espaço, condições para sairmos da crise com um novo olhar…fazendo da escola um espaço transformador da sociedade”, instiga Raquel Teixeira.

Crise climática e direito à educação

“A gente precisa entender a crise climática como uma crise para os direitos das crianças”, aponta Danilo Moura do Unicef. Para ele, as políticas não consideram as especificidades de crianças e adolescentes, e para solucionar esse problema, é preciso pensar na preparação e adaptação desses indivíduos a serviços essenciais.

“As mudanças climáticas reforçam e reproduzem todos os padrões de desigualdade que existem na sociedade…isso em uma escala global, ou em comunidades que são sempre mais vulneráveis, indígenas, quilombolas, periferias das grandes cidades, crianças e adolescentes com deficiências”, destaca Danilo Moura do Unicef.

O membro do Unicef ainda explica que os desastres acontecem em regiões cujas pessoas vivem nas mais diferentes vulnerabilidades. Outro ponto colocado por Danilo é que, segundo ele, a infraestrutura das escolas brasileiras não é sustentável, por exemplo, não são pensadas para regiões cujas salas de aula esquentam devido à alta temperatura — fator que tende a levar ao abandono escolar.

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