NOTÍCIA
O papel da direção escolar enquanto liderança de impacto em sua comunidade escolar ainda é desvalorizado, alertam especialistas
Diferentes pesquisas já constaram que o diretor(a) escolar é o segundo profissional que mais impacta a aprendizagem do estudante — o primeiro é o professor —, conforme destaca um relatório da Wallace Foundation. Contudo, até o momento, o Brasil ainda não possui um documento oficial que oriente a direção escolar sobre competências e habilidades que deve desenvolver e /ou receber formação, seja da rede pública ou particular.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) elaborou em meados de 2020 uma resolução que descreve as competências e habilidades da direção escolar, só que o Ministério da Educação (MEC) até hoje não homologou. Diante deste cenário de total descaso, cada diretor(a) acaba atuando da maneira que acha melhor.
“Às vezes o diretor é negligenciado. Ter clareza de seu papel enquanto liderança e do que tem que desempenhar é muito importante”, orienta Anna Penido, diretora executiva do Centro Lemann de Liderança para Equidade na Educação.
——
As emergências do novo Conselho Nacional de Educação
——
Anna Penido participou hoje, 4, da Jornada Bett Nordeste, junto a Karen Teixeira, que é gerente de pesquisa e membra do eduLab21 do Instituto Ayrton Senna. Ambas estiveram no painel Desenvolvimento socioemocional na formação de educadores e gestores. A Jornada acontece em Recife e vai até amanhã, 5.
“O foco não é colocar que o diretor pode resolver todos os problemas, mas a direção é figura-chave. Nunca vi uma escola boa — no que diz respeito à qualidade do clima escolar e desempenho escolar — sem uma boa direção, que é quem faz as coisas acontecerem”, acrescenta Anna Penido.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) deixa claro que a educação não deve ser apenas conteudista, mas foque também no desenvolvimento integral do estudante. Sendo assim, a direção escolar e a formação docente também necessitam dessa formação, que está vinculada às 10 competências da BNCC, por exemplo, desenvolver habilidades de atitude, ser capaz de regular as emoções e se relacionar com o outro.
“Hoje, no Centro Lemann, o foco está na formação de lideranças educacionais pela perspectiva de formação integral. A finalidade é ajudar as lideranças a compreenderem o seu papel e adquirir habilidades técnicas e socioemocionais”, conta Anna Penido. Nessas formações, Anna explica que é preciso escutar o diretor(a) para saber o que esse já desenvolveu de habilidades para a sua função e o que ainda falta.
Outro ponto que reforça a necessidade de dar a devida importância às habilidades socioemocionais são os problemas de saúde mental tanto dos estudantes como de toda a comunidade escolar. “Isso está levando o mundo a ter outro olhar sobre competências emocionais e saúde mental”, coloca Anna Penido.
Anna Penido finaliza com um pedido: “Que essas habilidades sejam consideradas na construção do perfil de escola e que os processos de seleção, para além da técnica, considere atitudes e comportamentos”.
O eduLab21 é o laboratório de ciências para a educação do Instituto Ayrton Senna que conduz pesquisas sobre desenvolvimento integral. Nele se estudo e se investiga as dimensões cognitivas, socioemocionais, híbridas, motivacionais, entre outras, na educação. A gerente do eduLab21, Karen Teixeira, faz parte também de um projeto do laboratório voltado ao socioemocional dos professores, o qual fez uma pesquisa com mais de 40 mil docentes buscando saber quais são as competências que eles, professores, notam que precisam desenvolver. “Gestão emocional, ou seja, o quanto faço para regular minhas emoções, foi o mais colocado. Como colaborar mais com as famílias e com os professores também foram destaques”, conta Karen Teixeira.
Segundo Karen, a regulação emocional costuma ser maior entre professores com menos tempo de atuação do que com os mais antigos, provavelmente, devido ao alto estresse da profissão e que leva, inclusive, ao abandono do trabalho.
“Professores com mais de 30 anos de carreira são sobreviventes. Não queremos isso, queremos apoiar nas emoções, competências socioemocionais”, pontua Karen Teixeira.
A gerente do eduLab21 destaca que as competências socioemocionais estão relacionadas ao bem-estar profissional e pessoal, reforçando, assim, a importância dos professores e diretores receberem tal capacitação. Afinal, como formar de maneira integral os estudantes, se os educadores não receberem tal formação?
Karen Teixeira destaca ainda que o resultado do Pisa deste ano sobre a criatividade dos estudantes a nível global indica que aqueles com melhores resultados têm em comum o fato de o professor gerar no aluno autoconfiança e o sentimento de capacidade.
—–
Revista Educação: referência há 28 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica
—–