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Brasil ainda ignora as competências da direção escolar

O papel da direção escolar enquanto liderança de impacto em sua comunidade escolar ainda é desvalorizado, alertam especialistas

Publicado em 04/09/2024

por Laura Rachid

Diferentes pesquisas já constaram que o diretor(a) escolar é o segundo profissional que mais impacta a aprendizagem do estudante — o primeiro é o professor —, conforme destaca um relatório da Wallace Foundation. Contudo, até o momento, o Brasil ainda não possui um documento oficial que oriente a direção escolar sobre competências e habilidades que deve desenvolver e /ou receber formação, seja da rede pública ou particular. 

O Conselho Nacional de Educação (CNE) elaborou em meados de 2020 uma resolução que descreve as competências e habilidades da direção escolar, só que o Ministério da Educação (MEC) até hoje não homologou. Diante deste cenário de total descaso, cada diretor(a) acaba atuando da maneira que acha melhor.

“Às vezes o diretor é negligenciado. Ter clareza de seu papel enquanto liderança e do que tem que desempenhar é muito importante”, orienta Anna Penido, diretora executiva do Centro Lemann de Liderança para Equidade na Educação. 

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Anna Penido participou hoje, 4, da Jornada Bett Nordeste, junto a Karen Teixeira, que é gerente de pesquisa e membra do eduLab21 do Instituto Ayrton Senna. Ambas estiveram no painel Desenvolvimento socioemocional na formação de educadores e gestores. A Jornada acontece em Recife e vai até amanhã, 5.

“O foco não é colocar que o diretor pode resolver todos os problemas, mas a direção é figura chave. Nunca vi uma escola boa — no que fiz respeito à qualidade do clima escolar e desempenho escolar — sem uma boa direção, que é quem faz as coisas acontecerem”, acrescenta Anna Penido.

A tal falada formação integral

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) deixa claro que a educação não deve ser apenas conteudista, mas foque também no desenvolvimento integral do estudante. Sendo assim, a direção escolar e a formação docente também necessitam dessa formação, que está vinculada às 10 competências da BNCC, por exemplo, desenvolver habilidades de atitude, ser capaz de regular as emoções e se relacionar com o outro.

“Hoje, no Centro Lemann, o foco está na formação de lideranças educacionais pela perspectiva de formação integral. A finalidade é ajudar as lideranças a compreenderem o seu papel e adquirir habilidades técnicas e socioemocionais”, conta Anna Penido. Nessas formações, Anna explica que é preciso escutar o diretor(a) para saber o que esse já desenvolveu de habilidades para a sua função e o que ainda falta.

direção escolar

Anna Penido (de verde) e Karen Teixeira (de costas) participaram da Jornada Bett Nordeste, em Recife, no espaço aquário, o qual convida o público a sentar nas poltronas e dialogar (Foto: revista Educação)

Saúde mental

Outro ponto que reforça a necessidade de dar a devida importância às habilidades socioemocionais são os problemas de saúde mental tanto dos estudantes como de toda a comunidade escolar. “Isso está levando o mundo a ter outro olhar sobre competências emocionais e saúde mental”, coloca Anna Penido. 

Anna Penido finaliza com um pedido: “Que essas habilidades sejam consideradas na construção do perfil de escola e que os processos de seleção, para além da técnica, considere atitudes e comportamentos”.

Basta de professor ‘sobrevivente’

O eduLab21 é o laboratório de ciências para a educação do Instituto Ayrton Senna que conduz pesquisas sobre desenvolvimento integral. Nele se estudo e se investiga as dimensões cognitivas, socioemocionais, híbridas, motivacionais, entre outras, na educação. A gerente do eduLab21, Karen Teixeira, faz parte também de um projeto do laboratório voltado ao socioemocional dos professores, o qual fez uma pesquisa com mais de 40 mil docentes buscando saber quais são as competências que eles, professores, notam que precisam desenvolver. “Gestão emocional, ou seja, o quanto faço para regular minhas emoções, foi o mais colocado. Como colaborar mais com as famílias e com os professores também foram destaques”, conta Karen Teixeira.

Segundo Karen, a regulação emocional costuma ser maior entre professores com menos tempo de atuação do que com os mais antigos, provavelmente, devido ao alto estresse da profissão e que leva, inclusive, ao abandono do trabalho. 

“Professores com mais de 30 anos de carreira são sobreviventes. Não queremos isso, queremos apoiar nas emoções, competências socioemocionais”, pontua Karen Teixeira.

A gerente do eduLab21 destaca que as competências socioemocionais estão relacionadas ao bem-estar profissional e pessoal, reforçando, assim, a importância dos professores e diretores receberem tal capacitação. Afinal, como formar de maneira integral os estudantes, se os educadores não receberem tal formação?

Karen Teixeira destaca ainda que o resultado do Pisa deste ano sobre a criatividade dos estudantes a nível global indica que aqueles com melhores resultados têm em comum o fato de o professor gerar no aluno autoconfiança e o sentimento de capacidade.

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Autor

Laura Rachid


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